quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

DA LAVRA DE 2015 - abril

Eu, hoje    



Os textos que hoje estou trazendo para este blog foram selecionados entre os escritos em abril do corrente ano:

NÃO RECLAMO DA VIDA

Adoro a vida! E disso fiz razão
para vivê-la sempre com prazer,
sem jamais me arvorar a pretensão
de ensinar a ninguém como viver.

É que a concebo como o maior bem
dos bens que recebi das mãos de Deus;
por isso nunca vai haver alguém
que me veja infeliz nos dias meus.

Se consigo sorrir ao que me agrade,
não mudo a cara na adversidade,
por mais que eu sinta a alma combalida.

Também, mesmo provando desventura,
nem nos momentos de maior agrura.
eu me permito reclamar da vida.
___________


Eu, ontem
   

 CALAR, NEM NO SILÊNCIO


Nunca silencio
por conveniência
nem por covardia,
e não me escondo
detrás da mudez
para não ter de dizer
o que sinto e desejo.

Paguei no passado
algumas penas injustas
e cheguei a ter privado
meu corpo de ir e vir,
pela simples razão
de haver falado demais
o que não queriam ouvir.

Minha palavra
é livre e solta
como o meu pensamento,
e minha boca
jamais se cerra
para impedi-la
de sair.

Falo de meus amores,
reais ou fantasiosos,
naturalmente, sem reticências
nas referências ao que faço
ou que me imagino
capaz de fazer

Falo do bem, contra o mal,
sem medo de críticas
ou de represálias,
e o que passei ou venha a passar
por causa da palavra solta
não é e não será motivo
para deixá-la presa.

Até quando reflito
sobre mim e me deparo
com prováveis erros,
vozes silenciosas
saem do meu interior
aconselhando-me a puxar
as próprias orelhas.
___________ 

 
Imagem do Google









DO COMEÇO ATÉ PARA SEMPRE

Foi um encontro fortuito
entre dois que não se viam,
fazia já um bom tempo
daquele tempo em que os dois
nem mesmo a flertes se davam.

Um leve aperto de mão
e quatro dedos de prosa
que falavam de lembranças,
não sem que os olhos dos dois
trocassem ternos olhares.

Não tardou a vir o beijo
e, depois, o forte abraço
que deixou o peito de um
colado ao peito do outro,
num bater acelerado.

Os corações se juntaram
nesse prelúdio de amor,
pronunciando, em batidas,
palavras que pela boca
não conseguiram sair.

Foi desse jeito o começo
da paixão que, se tardia,
instalou-se e vai rolando
nas almas dos dois amantes
para nunca mais ter fim.
___________

 A PARTE QUE ME CABE

Eu verbalizo com facilidade
o Belo, quando o sinto ou quando o vejo
no natural, na paz de um vilarejo,
nos campos ou nas ruas da cidade.

Amo escrever! E isso, na verdade,
às vezes me permite algum adejo,
mas não é fama ou glória o que desejo:
sou poeta por dom, não por vaidade.

Basta-me só que a inspiração desponte
a fim de que eu do trivial me aparte
e vá buscar Poesia em cada fonte

para, de modo simples, mas profundo,
mostrá-la em versos e cumprir a parte
que cabe a mim no POEMAR O MUNDO.
___________


VIDA

Curso da forma corpórea
– animada e “humanizada” –
por estradas e caminhos
do mundo em que Deus a pôs.

Nas jornadas,
alguns pensam,
muitos simplesmente seguem,
outros não vão adiante;
e a única evidência
é a presença constante
das diferenças:
– as mentes que criam
e as que destroem;
– os olhos que admiram
e os que se alheiam;
– as pernas que andam
e as que dão pontapés;
– os braços que acolhem
e os que empurram;
– as mão que acariciam
e as que assassinam;
– os corações que amam
e os que odeiam...

 Uma caminhada em tempo impreciso,
aos ventos das incertezas
sobre presente e futuro,
e cada caminheiro só leva consigo
uma pálida consciência instintiva
dos passos que pode dar
para frente, para trás
ou para os lados...

Assim é a vida:
uma aventura
em que ninguém pede para entrar,
mas da qual, também,
ninguém deseja sair

Lamentavelmente,
o final nunca será outro:
para a forma corpórea,
o pó aqui mesmo;
e para a substância que a anima,
uma morada eterna,
de luz ou de trevas,
no outro plano...
___________


CANTOS, LOUVORES E FARPAS

Noventa e cinco anos vai fazer,
como cidade, a terra onde nasci.
e desde já, lamento não poder
no dia vinte e sete estar ali.

Só que não faço disso um desprazer:
se a Pedreiras não vou, a tenho aqui
no peito, e honras posso lhe render,
como em outras ausências lhe rendi.

Tenho vivido sempre em amasio
com seu fascínio, e a todo instante crio,
para a Princesa, cantos e louvores.

Mas, se a vejo ao descaso relegada
por quem deve mantê-la bem cuidada,
aí, vão farpas contra os maus gestores!
___________


NÃO CONSIGO

O nosso amor nasceu do lado avesso
da razão, que, insistente, tem pedido
que eu te esqueça, porém não lhe obedeço,
e somente à paixão vou dando ouvido.

Se estou perto de ti, me dás apreço,
de modo carinhoso, desmedido,
que chego a duvidar se bem mereço
ser feliz como tenho me sentido.

Se estás longe e do mundo me desligo,
posso afastar de tudo o pensamento,
mas esquecer-te, isso não consigo,

pois intrinsecamente estás ligada
ao prazer que me causa o ferimento
da seta de Cupido, em mim cravada.
___________


LOUCO

Eu sou louco, sim,
Com muito prazer,
E a mim pouco importa
Que alguém me condene.

Não quero mudar!
Só não o seria,
Se, são, conseguisse
O que me tem dado
A minha loucura:
Um riso nos lábios
E um peito bem grande
Capaz de guardar
O meu coração
Que sempre carrego
Repleto de amor.

Feliz eu me sinto
No louco que sou,
Por isso vou sê-lo
Enquanto possível
Viver minha vida
Do jeito que a vivo,
Sorrindo e amando,
Sem ferir ninguém
E, principalmente,
Sem me reprimir.

Eu, louco, flutuo
Por além de mim:
No bem – eu sou tudo,
No mal – eu sou nada...
Bendita a loucura!
___________

Uma boa leitura, e obrigado pela atenção!
                                 Kleber Lago

© Kleber Cantanhede Lago





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