quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

SONETOS DE AMAR E ESCREVER IV


CONTEÚDO DESTA POSTAGEM
TÍTULO DO SONETO
PG. DO LIVRO
41
SSONETISTA FRUSTRADO
81
42
TEMPO DE SONHO E POESIA
83
43
SONETEAR
85
44
DURA LEX, SED LEX
86
45
COMPULSÃO
87
46
POETA
89
47
DE TEU AMOR POR MIM
90
48
PALAVRADOR
91


                                                                              41
SONETISTA FRUSTRADO
  
Como é doce pensar na terra berço
e regredir – de adulto até criança –
na sensação de estar rezando um terço,
marcando, a cada conta, uma lembrança!

É essa uma missão que sempre exerço
e que me leva aonde a mente alcança,
a repetir o desfiar do terço,
que me encanta, me apraz e não me cansa.

Amo demais a “Terra das Palmeiras”
e o povo que ali vive com prazer,
mas se quero daqui louvar Pedreiras

e a sonetista, nesse afã, me meto,
eu tenho a frustração de não saber
pôr tanto amor dentro do meu soneto.

42
TEMPO DE SONHO E POESIA
  
É tão sublime apreciar as flores
Ao sol se abrirem nos jardins, lá fora,
Atraindo pequenos beija-flores
Que vão sugá-las, logo após a aurora!

Assistir aos bailados multicores
De borboletas, vindo e indo embora!
Ter olfativas sensações que odores
Naturais nos provocam, toda hora!

Aqui, setembro é tempo de sonhar
E de buscar a mágica alegria
Que a criança descobre na quimera.

Prazer que qualquer um pode alcançar,
Se se envolver no encanto da poesia
Presente, no que traz a primavera.


                                                                              43
SONETEAR
  
Poesia é livre, sim. Soneto, não!
Sonetear exige cumprimento
De certas regras de composição,
A que o poeta deve estar atento.

Bons sonetistas não dispensarão
O metro e ritmo em nenhum momento,
Pois isso dá encanto à expressão
E destaca o poético talento.

Vejo em compor soneto um ritual,
A se cumprir com musicalidade
Desde o ato de início ao seu final.

E se no ritual falhas cometo
Em nome de pretensa liberdade,
Perde meu feito o status de soneto.

44
DURA LEX, SED LEX
  
No meio da Justiça essa expressão,
em geral decorada, é como prece
dita por gente que sequer conhece
do latim uma só declinação.

Para mim, pouco diz a citação,
porque duro de fato me parece
aquele magistrado que não desce,
quando preciso, ao plano da razão.

Mais do que a lei, o uso do bom senso
nos julgamentos é, segundo penso,
de vital importância, e nada custa

ao bom juiz, que antes de proferir
qualquer sentença, dê-se a refletir 
que lei, embora lei, nem sempre é justa.


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COMPULSÃO
  
Acerca dos humanos sentimentos,
eu respeito o direito de qualquer
pessoa expor os próprios pensamentos
da maneira que bem lhe convier.

Crio, quanto aos de amor, meus argumentos
e não falta entre eles um sequer
sobre os tão naturais envolvimentos
de nós dois como homem e mulher.

É que nisso me torno compulsivo,
cometo excessos de que não reclamo,
porque já pude compreender que vivo

para te dar amor sem similar,
sentindo, assim, que quanto mais te amo,
mais cresce o meu desejo de te amar.

46
POETA
  
Geralmente o poeta nutre a crença
de que pode voar, rasgar o vento
e viajar pela amplidão imensa
para onde o conduza o pensamento.

Quando ele ama, o faz de forma intensa,
dando relevo e cor ao sentimento,
mas não é, como muita gente pensa,
por simples exagero ou fingimento.

Poeta vive além da realidade,
no “Mundo da Poesia”, onde infinita
sempre se torna a criatividade.

Por isso mesmo, a cada fantasia,
constrói um ideal e, ainda, acredita
ser verdadeiro tudo quanto cria.


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DE TEU AMOR POR MIM
  
Maravilhosamente singular
é teu amor por mim, que até me vejo
em permanente estado de desejo
de tê-lo além do que mo podes dar.  

Eu vivo o sonho de multiplicar
por dez mil cada abraço, cada beijo,
cada aconchego, e nunca perco ensejo
de o que me vem de ti amealhar.

Somente por amor tenho ambição,
e sei quanto me dói quando percebo
que, em tal contexto, vai ser sempre em vão

toda a esperança de sentir-me rico,
pois quanto mais amor de ti recebo,
de amor eu mais necessitado fico.

48
PALAVRADOR

Poesia existe, em nós e em quase tudo:
no deserto, no mar, em chão fecundo,
nos sons da vida ou no momento mudo
de um meditar ou de um dormir profundo...

Se desejo encontrá-la, me desnudo
do que tenho de feio, torpe e imundo;
procuro o belo; nele a mente grudo
e, entre o real e o sonho, me confundo.

Então eu encho o espírito de amor,
e invadido de lírica magia,
logo me torno – bem lembrando Chagas –
  
não um poeta, mas “palavrador”
e arauto voluntário da poesia,
como tantos que o são por estas plagas.

                                                                    © [Lago, Kleber. Amar e Escrever. São Luís: KCL, 2014]