segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Viagens para dentro e fora de mim - Postagem Parcial III


         O conteúdo desta postagem abrange os poemas das páginas 41 a 64 de Viagens para dentro e fora de mim. A imagem ilustrativa mostra um parte do processo semiartesanal de montagem dos livros.





           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim

 CONTEÚDO POEMÁTICO DESTA POSTAGEM

O POETA  DA ALEGRIA
41
FALSOS PROFETAS E FALSOS CRISTOS
42
INDELÉVEL
43
JURAMENTRO
45
EMOÇÃO DE UM REGRESSO
46
O ESPELHO QUE EU QUERIA
47
MESMO EM SEGREDO
49
CONFISSÃO
50
TABAGISMO
51
DO MEU ENCONTRO COMIGO
52
CONVERSA COM ESTRELAS
53
FASES
54
RECONHECIMENTO
55
FELIZ EM MINHA RIQUEZA
56
SOBRE POETAS
57
TUDO BEM
58
HABITUALISMO
59
RESPOSTA
60
SONETO DO AMOR DESFEITO
61
O ESPETÁCULO
62
“NIL NOVI SUB SOLE”
63


                       

                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          41

O POETA DA ALEGRIA


Viveu o seu passado como quis
E, do jeito que quer, vive o presente,
sem ser reprodução de uma matriz
que a sociedade tenta impor à gente.

Sempre que o vejo, noto que é feliz,
e não me soa nada diferente
de verdadeiro, quando ele me diz
que só demonstra ser como se sente.

Concebeu-se poeta da alegria,
e creio que, passando o adverso
de como ele se sente, ainda diria

que até nas dores a poesia existe,
mas se tivesse de dizê-lo em verso,
nunca o faria num poema triste...




                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          42

             FALSOS PROFETAS
    E FALSOS CRISTOS
         

Nunca falha. Ao passar por um lugar
bem carente, uma “igreja” tenho visto,
e ali, sempre um “pastor” a explorar
pessoas entre as quais se fez benquisto.

Eu puxo a indagação que acho no ar
para mim, faço-a minha e nela insisto:
– Como é que Deus deixou proliferar
tanto falso profeta e falso cristo?

Em cada canto um falso pregador,
a se servir da ingenuidade alheia,
tira do pobre o “troco” que é do pão,

ensinando que os olhos do Senhor
podem fechar-se a quem a Bíblia leia,
mas esqueça o dever da “doação”...






                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          43

 INDELÉVEL

Mesmo uma crise grave de amnésia
jamais me apagaria isto da mente:
tu, ainda virgem, trêmula de medo,
morta de acanhamento; e eu, experiente,
disposto a usar brandura nas carícias
para que não viesse te ocorrer
a menor sensação de desconforto.

Despetalei sobre a cama
as rosas de três buquês,
deixei o ambiente à meia-luz,
enfeitado com flores naturais
para incitar-te na imaginação
a ideia de que a noite acontecia
no espaço de um jardim.

Sem ouvidos e olhos de vizinhos,
no chalé, ao pé do morro
e a poucos passos da praia,
a fase inicial do curso dos carinhos
sofreu (de tua parte) certa inibição,
mas aos poucos foi crescendo,
crescendo, e assim crescendo,
fez-se um caudal de prazer
que palavras não descrevem.

Almas já despidas de pudores,
corpos já livres de vestes,
os dois, de tão envolvidos


                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          44

Levantei-me cedo,
abri uma janela para o Leste
e deitei-me a teu lado novamente,
para que o Sol – que a tudo assistira
pelos olhos da Lua  –
entrasse, com os seus primeiros raios,
para abençoar o nosso primeiro dia
em nos darmos, um ao outro,
não notamos um claro de luar
passar pelas gelosias
e banhar de argêntea luz
o “palco” onde cenas de amor
eram vividas, não representadas.

Penso que nem nos demos conta
de que a brisa vinda do mar
também entrava pelas gelosias,
acentuando-nos na pele
o gosto de sal de nossos suores,
que teus lábios provavam em mim,
e os meus, em ti,
enquanto não chegava a quietude plena
de nossos desejos, saciados...

depois de uma primeira noite
abençoada...  



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          45

          JURAMENTO


Por ti tanto voei quanto escrevi,
e minha inspiração tem sido tanta,
que mesmo a improvisar, de dó a si,
não ficam notas presas na garganta.

Culpa de nosso amor, já percebi:
penso nele, meu estro se suplanta;
se omito coisas entre mim e ti,
sou ave que não voa e que não canta.

Sei que nao vou perder o teu amor,
mas se acaso – não quero nem supor! –
tal desventura me mostrasse a face,

juro que, para ter só mais um dia
junto de ti, até devolveria
a Deus o que de vida me restasse!...      





                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          46

 EMOÇÃO DE UM REGRESSO


Mal avistei a entrada da cidade,
correu-me pelo corpo um calafrio:
não de medo, mas vindo da vontade
de encher logo o que estava em mim vazio. 

Já não continha mais a ansiedade,
enquanto o “jeep”, nada de macio,
ia pulando, sem velocidade,
até chegar por fim perto do rio.

Revi o Mearim, em seu fagueiro
correr de quase fim de cheia. Então,
com toda a roupa em que vinha trajado,

entrei na água, mergulhei-me inteiro,
podendo, assim, gozar a sensação
de em minha terra ser rebatizado!  






                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          47

   O ESPELHO QUE EU QUERIA

Era costume meu utilizar o espelho
só para me ajudar em coisas triviais,
a exemplo de espremer um cravo do nariz,
pentear o cabelo e desbastar a barba,
e não sei explicar o motivo por que,
aos setenta e dois, resolvo usá-lo agora
para ver como estou, de física aparência.

Lá, refletido, o meu corpo despido
primeiro me revela algumas rugas
já desenhadas na pele da face,
e no crânio, a calvície acentuada
leva-me a sentir saudade
da cabeleira aloirada
que antes muito combinava
com meus olhos, que Deus fez
cor de mel esverdeado.

Ombros ainda não desalinhados,
braços e peitoral sem flacidez
conseguem me causar certa impressão
de que se encontram em perfeito estado
de uso e conservação,
mas chega a vez da barriga
que ficou mais volumosa
e, ao ser vista de perfil,
mais lembra um barril de chope.



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          48

põe na figura a conhecida tarja
para cobrir os órgãos genitais,
o que me obriga a dirigir o olhar
um pouco mais para baixo,
onde estão pernas é pés
que tão fortes já não são,
mas podem levar-me ainda
aonde eu deseje ir...

Um espelho fiel jamais engana a gente;
de corpo, sinto-me igual ao que ele mostra,
mas eu queria mesmo era um tipo de espelho
capaz de refletir minha alma por inteiro
para eu ver se, de fato, ela está como a imagino:
num paradoxal enverdecer constante
na mesma proporção em que eu amadureço. 







                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          49

    MESMO EM SEGREDO


Tudo foi espontâneo... Tu e eu
nada premeditamos. Simplesmente
de uma troca de olhares, o envolvente
instante de carinho aconteceu.

O teu rosto tocou de leve o meu,
e veio o beijo... Daí para frente,
a emoção se fez grande e tão potente
que do bom-senso a voz emudeceu...

Quando nos demos conta, já os dois
não estávamos mais em condição
de voltar ou deixar para depois.

E agora?... O que nos resta é não ter medo
de estender o prazer da relação
de ternura entre nós, mesmo em segredo.
     



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          50

           CONFISSÃO


Continuo a te achar bela e charmosa,
e sabes bem que, ao me encontrar contigo,
procedo de maneira carinhosa
sem te negar o meu abraço amigo.

De nossa relação tão desditosa
não ficou a menor mágoa comigo:
hoje, até te agradeço, em verso e prosa,
teres me libertado de um castigo.

Mas te confesso, sem constrangimentos,
que ao perceber que tu não tinhas nada
de amor por mim, vivi desses momentos

em que o vento da raiva nos alcança,
e neles só quis ver-te desterrada
para sempre, da vida e da lembrança...







                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          51

         TABAGISMO


Sou tabagista inveterado, e assumo
que vem dos tempos do “Continental”,
tipo de “belle époque” em que o consumo
de cigarro era vício social.

Na dependência que ficou sem rumo,
sem me haver provocado um grande mal
até agora, sei que só não fumo
durante a relação sexual.

Quem me deseja vida salutar
me aconselha a que eu deixe de fumar,
usando os argumentos mais diversos.

Mas não largo esse vício a que me agarro,
pois não sei escrever sem meu cigarro
nem consigo viver sem fazer versos...

  



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          52

DO MEU ENCONTRO COMIGO

Na busca por encontrar-me
desnorteei meu norte,
despadronizei padrões,
desenlacei-me do convencional,
despreconceituei meus preconceitos
e também dessonhei o inatingível,
mas, em compensação, voltei
com a mochila cheia de valores
que eu ia me somando aos poucos,
no curso dessa procura por mim.

E foi a incorporação
desses valores a minha pessoa
que me deu a consciência
de ter-me encontrado
do jeito que eu me buscava:
pobre, em eiras e beiras;
mas o suficientemente rico,
em liberdade para pensar e em coragem
para expressar meus pensamentos
quando o momento exige essa expressão.




                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          53

    CONVERSA COM ESTRELAS

               “Amai para entendê-las!” (Olavo Bilac)

Dizer não sei se merecido, ou não,
ser por elas ouvido, além de ouvi-las,
quando aparecem lindas e tranquilas
suas cintilações pela amplidão.

Eu nunca imaginei tal emoção
enquanto, em tentativas intranquilas,
buscava algumas para distingui-las
pelo brilho e a celeste posição.

Amei-as, a conselho de Bilac,
conseguindo a partir daquele instante
em interlocutoras convertê-las.

E já me sinto um verdadeiro craque
nessa conversa mais que fascinante
que hoje posso manter com as estrelas!...

  



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          54

    FASES

Tanto me causa prazer
olhar a lua no céu,
quanto ver no calendário
o que ela “anda fazendo”.

A propósito, amanhã
a lua vai começar
sua fase de crescente
e, daqui a oito dias,
ela será lua cheia...

Eu sei que tenho também
minhas fases, como a lua,
só não consigo é passar
dessa fase de CRESCENTE,

Pode até ser que aconteça;
no entanto, por mais que cresça,
confesso que não espero
a ocorrência do momento
em que eu vá tornar-me CHEIO...  



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          55

    RECONHECIMENTO

                    (A minha mãe, in memoriam)

Se, às vezes, ela usava meios rudes
para punir-me pelos meus malfeitos,
também com modos maternais perfeitos,
me apontava o caminho das virtudes.

Sei que alguns de seus atos e atitudes
eram certos, à luz de seus conceitos,
e não seriam hoje em dia aceitos,
por força das morais vicissitudes.

Sem traumas, amo a mãe que me foi brava,
dela me orgulho e não faço elegia
sobre o rigor com que ela me educava.

Dou-lhe, em memória, a alma agradecida,
pois as surras que dela eu recebia
não tive de apanhar das mãos da vida!



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          56

                FELIZ EM MINHA RIQUEZA

Eu não entro em labirinto,                 Quando tenho de tomar
para estar livre do risco                     uma decisão qualquer
de não achar a saída;                        só me ponho nos extremos:
nem sigo cursos da vida                    SIM ou NÃO, nunca TALVEZ,
por caminhos muito estreitos,            e a decisão sai na hora
para não ter de arranhar-me              que a consciência me aponte
em vegetais espinhosos                     o lado em que eu deva estar;
que sempre estendem seus ramos    por isso ninguém me vê
para dentro dos caminhos.                 ficar “em cima do muro”.

Sei que do escuro noturno                 Nada lamento da vida,
não costumo sentir medo,                  apesar de ter “perdido”
mas prefiro estar no aberto                muitas “oportunidades”
em noites enluaradas                         de viver “bem situado”,
e com céu cheio de estrelas,              política e socialmente,
para que aviste de longe                     porém me sinto feliz
todo eventual perigo,                          quando me olho e me vejo
de forma a me permitir                        pobre só do que não tenho
preparar minhas defesas.                   na riqueza do que sou.

Sem falar em ter, ainda,
o encanto de noite assim
por fonte de inspiração
para escrever um poema,
seja sem métrica e rima,
mas em plena consonância
com o dom que trago em mim
de ver poesia e beleza
em tudo quanto Deus cria.



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          57

         SOBRE POETAS


Alguém que sempre os meus sonetos lia,
certa vez, perguntou-me de repente:
– É verdadeiro ou mera fantasia
o amor que, em versos, só te faz contente?

De forma natural e meio fria,
dei-lhe a resposta que me veio à mente,
de que, quanto ao meu caso, eu garantia
ser verdadeiro sim, mas consciente

de que todo “poeta é um fingidor”
que escreve versos como bem lhe agrade
e é capaz de, ao falar de seu amor,

dizer uma mentira em cada verso
só para simular felicidade
plena, até quando experimente o inverso.



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          58

                             TUDO BEM!

Ao te amar com todo o apreço      E tu verás que, de fato,
Que nas trovas apregoo,               Com toda sinceridade,
Sei que tolo até pareço,                 A ti sempre estarei grato
Mas sem bom senso não sou!       Por tanta felicidade.

Eu venho tendo de ti                      Nosso amor valeu! No entanto,
Atenção pouca e fugaz,                 Depois de por ti perdido
E há muito já percebi                     O que te inspirou de encanto,
Que tu não me queres mais.          Deixou de fazer sentido.

O desenlace eu aceito,                   Morreu. Tudo bem! Deus faça
Mas sem fugas: face a face,           Que das cinzas desse amor
Com ternura, assim do jeito            Nossa amizade renasça
Como ocorreu o enlace.                  E venha com mais vigor!

Dir-me-ás, então, de frente,            Saberei ser teu amigo
Que foi tudo uma paixão                 Sem deixar transparecer
Louca, mas que, finalmente,           Que já desfrutei contigo
Ouviste a voz da razão.                  Tanta loucura e prazer.

Eu, sem mágoa, sem desgosto,     E nesse retorno ao antes,
Sem qualquer ressentimento,         Tanto podes como eu posso
Com um beijinho em teu rosto,       Manter o tempo de amantes
Selarei o assentimento.                   Como segredo, só nosso.

Em mim, de nossa cisão
Não ficará cicatriz,
Nem morrerá a emoção
De ter sido tão feliz.



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          59

         HABITUALISMO



Nos versos de um soneto descrever
amores, sonhos, coisas corriqueiras,
tem sido para mim, nas sextas-feiras,
um hábito tão cheio de prazer!

Já deixo a pena no papel correr
livre, só tendo as margens por fronteiras,
desde bem cedo, logo que as primeiras
luzes venham no céu aparecer.

Se ela registra, mesmo sem que eu peça,
que quando ao receber algum favor
costumo dar em troca uma promessa,

há duas coisas que jamais prometo:
passar um dia sem falar de amor
e uma semana sem fazer soneto.

   



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          60

         RESPOSTA


Amanhã, quando estivermos
bem juntinhos novamente
a gozar nosso segredo,
vou te oferecer resposta
silenciosa à pergunta
que há pouco me fizeste
num breve telefonema,
antes que a ligação caísse.

E chegarás ao entendimento pleno
do que pretendo de ti,
no instante em que os meus lábios
tiverem terminado
de escrever em teu corpo
o poema de amor
que eu nunca conseguirei
escrever com palavras...
  




                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          61

SONETO DO AMOR DESFEITO

De ti a ideia veio. Por sinal,
em face das razões, dei por aceito
retornarmos, em sendo o amor desfeito,
à amizade, de forma natural.

E assim se fez... Na hora, passei mal,
dando a impressão de estar insatisfeito,
mas logo procurei achar um jeito
de manter o equilíbrio emocional.

Deixei os meus sentidos desatentos
a máximas e a outros pensamentos
que, de ouvir desde a infância, sei de cor.

E cheguei, por mim mesmo, à conclusão
de que termos saído da ilusão
para a realidade foi melhor.



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          62

       O ESPETÁCULO

Se pudessem ser abertas as cortinas
do palco onde acontecem
nossos encontros secretos,
todos enxergariam a verdade
dos quadros que figuram em poemas
como meras fantasias poéticas.

Imagino a plateia não virtual
delirando a cada cena de nós dois
num instante de amor:  

Em minha mente,
nenhum espectador
consegue abafar aquele suspiro
provocado pela emoção
de perceber que as palavras mudas
pronunciadas pelas minhas carícias
estão sendo entendidas pelo teu corpo
que, em frêmitos, se funde ao meu,
ao calor de luxuriante loucura,
diante de um relógio de cabeceira
que parou os ponteiros,
atestando que tempo não é medida
para a intensidade de um prazer...

Chego a ver
o final apoteótico do espetáculo,
em que os nossos corpos relaxam
lado a lado, entre lençóis amarrotados.
cada um de nós com o sorriso próprio
de quem espera o início de uma nova sessão,
quando a plateia inteira se põe de pé,
aos gritos de BRAVO!... BRAVO!... 
  


                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          63

   NIL NOVI SUB SOLE”

Ninguém imagina seres tu
quem protagoniza comigo
as cenas desse amor
de que falo em meus poemas:
amor que temos vivido em plenitude,
à distância dos olhares alheios
e do qual são testemunhas
apenas os espelhos que refletem
os momentos de prazer que ele nos dá.

Se alguém soubesse disso,
sem nenhuma dúvida,
eu estaria sendo ridicularizado
pelo fato de quase te ter
carregado no colo;
e os dois estaríamos,
inevitavelmente, expostos a julgamentos
por traição aos nossos companheiros
de união formal.

Sem a menor preocupação
quanto a estarmos certos ou errados,
torço por que esse nosso segredo
nunca se revele,
e por que não morra o encanto
dos mágicos momentos
em que a força da paixão
me permite atender
a todos os apelos de tua lascívia,


                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          64

com relativo entusiasmo,
que até me faz lembrar de mim
nos meus tempos  de moço
afoito e travesso. 

Vou fazer o possível
para que esses momentos
continuem a ser vividos por nós,
sem que percamos a certeza
de que não nos cabe a culpa
de a emoção não ter dado tempo
para a razão impedir
o primeiro olhar, o primeiro toque,
o primeiro beijo, o primeiro abraço,
responsáveis pelo intenso envolvimento
de que nos tornamos escravos:
no começo, por impulsos instintivos;
agora, por decisão voluntária. 

Condenáveis que sejam nossos atos
para os olhos do mundo,
“nada há de novo sob o sol”;
e não fomos os inventores,
não somos os primeiros,
nem seremos os últimos
a viver esse tipo de relação...



            Agradeço a atenção dos queridos leitores.
Kleber Lago
             
©     Kleber Cantanhede Lago