quinta-feira, 11 de outubro de 2012

CANÇÕES INFANTIS

(Imagem Google - samambaiahostel.blogspot.com)

Todos estes poemas foram compostos em minha adolescência e mais tarde organizados sob o título genérico de Canções Infantis, integrando o livro Um pouco de Cada Momento. Para eles, abro um espaço neste blog, como forma de prestar, no Dia da Criança, uma homenagem não somente aos que estão vivendo sua infância, mas também às crianças que continuam existindo dentro de nós.

A LUA

Certa noite, a passear
Pelas calçadas da rua,
Tive a ventura de olhar
O surgimento da lua.

O céu, claro como um dia,
Estava todo estrelado

E aos meus olhos parecia
Um grande véu prateado.

A lua surgiu tão bela!
Foi para mim um regalo
Ver São Jorge dentro dela
Montado no seu cavalo!


      RABICÓ

Eu me lembro muito bem
Do porquinho da vovó.
Como o do Sítio, também
Se chamava Rabicó.

Era um esperto porquinho,
Daquele tipo infernal
Que metia seu focinho
No que via no quintal.

Quando voltava ao terreiro
Depois de andar pelo mato,
Transformava num lameiro
O tanque d’água do pato.

Corria atrás da galinha,
Mordia o rabo do galo.
Sua diabrura não tinha
Um minuto de intervalo.

Vovó desejou um dia
Almoçar leitão assado
E encarregou a Maria
De ir pegar o danado.

Quando a pobre da empregada
Segurou o Rabicó,
Ele empurrou a coitada
E fê-la beijar o pó.

Na disparada em que vinha,
Arrebentou a cancela
E foi parar na cozinha,
Virando prato e panela.

Maria, recuperada,
Tentou cercar Rabicó.
Tombou no meio da escada
E quase leva a vovó.

Rabicó, bastante esperto,
Foi em frente e, quando viu
O portão da casa aberto,
Ganhou a rua e sumiu.

Vovó, num tom engraçado,
Disse: – Deixa, não faz mal!
Não comi leitão assado,
Mas vou ter paz no quintal.


        VOVÔ

Toda tarde eu visitava
O vovô que, satisfeito,
Me acomodava com jeito
Na perna e me balançava,
Cantarolando baixinho:
– Upa, upa, cavalinho!

Depois ficava contando
Estórias de reis e fadas
E florestas encantadas.
Cochilava, vez em quando,
Mas voltava de repente
Numa estória diferente.

Vovô partiu certo dia
Para o plano da saudade.
Mamãe contou-me a verdade
Que, no fundo, eu já sabia:
Nunca mais iria tê-lo
Com seu carinho e desvelo...

Hoje, no reino das glórias,
Sob o olhar protetor
E divino do Senhor,
Vive a rechear estórias
De alguns celestes arranjos
Para contá-las aos anjos.

       CABEÇA DE BOLA

Juvenal era um menino
Muito pequeno, franzino,
De nariz chato e beiçola.
A cabeça, agigantada
E de forma arredondada,
Mais parecia uma bola.

Nunca ficava zangado
Ao se sentir maltratado
Pelos colegas de escola
Que, quando o viam chegar,
Passavam logo a gritar:
– Lá vem Cabeça de Bola!

Na escola, como no lar,
Juvenal era exemplar.
Indiferente às chacotas,
Dedicava-se ao estudo
E, aprendendo sempre tudo,
Tirava as melhores notas.

Um dia um curto-circuito
Causou um incêndio fortuito
Na sala do Juvenal..

Em disparada carreira,
Foi saindo a turma inteira
Sob pânico geral.

Juvenal não viu lá fora
A professora Isadora
E correu para buscá-la.
Naquele mesmo momento
Uma rajada de vento
Fechou a porta da sala.

Por incrível que pareça,
Ele meteu a cabeça
Na porta e o trinco partiu.
Não demorou quase nada,
A mestra, um pouco queimada,
Nele amparada surgiu. 

Desde então foi esquecido
Aquele feio apelido:
Morreu Cabeça de Bola.
Juvenal foi respeitado
E passou a ser tratado
Como herói por toda a escola.

           O GURIATÃ

Repousando à sombra fria
De uma mangueira que havia
No fundo de meu quintal,
Escutei certa manhã
O canto fenomenal
Daquele guriatã.

Eu tinha perto de mim
Uma gaiola; e, assim,
Cometi a grande asneira
De tomá-la em minha mão,
Pendurá-la na mangueira
E ativar seu alçapão.

Só demorou um pouquinho
Para o pobre passarinho
Tornar-se prisioneiro,

A debater-se o coitado
No espaço do cativeiro,
Tão estranho e limitado.

Ao longo de uma semana,
Na gaiola pus banana,
Manga, água fresca e alpiste.
Ele só bebericava...
Sem comer, calado e triste,
Mal se firmava na trava.

Aquilo me comoveu
E, ferido no meu eu
Por sentir-me um carcereiro,
Num átimo arrebentei
Os talos de um lado inteiro
Da gaiola e o libertei.


           BATE-BATE

No circo é tarde de estréia.
Uma turma atenciosa
Acompanha passo a passo
As atrações, da platéia;
Porém se mostra ansiosa
Pela entrada do palhaço.

De repente, a garotada
Explode e aplaude feliz.
Chega a vez do Bate-Bate,
Com sua cara pintada
E uma bola no nariz
Que mais parece um tomate.

– Boa tarde, meninada! –
Grita o palhaço bem alto
E, ajeitando o camisão

Dentro da calça folgada,
Corre para dar um salto
E cai de bumbum no chão.

Outro palhaço entra em cena,
Alto, em traje feminino,
Tendo no colo um anão.
Diz: – Beija tua morena
E acarinha o teu menino,
Meu fofo, minha paixão!

Bate-Bate se rebola,
Perguntando: – Desde quando? 
E foge do picadeiro,
Batendo as botas de sola
Uma na outra e soltando
Pó de arroz pelo traseiro.

             (Lago, Kleber. Canções Infantis, in Um Pouco de Cada Momento. São Luís: EDUFMA, 2006)

Eu e Vinícius, meu filho de 7 anos, estamos mandando um abraço e votos de muita alegria e felicidade a todas as crianças, seres humanos que estagiam num momento de vida em que a espontaneidade da inocência é a grande inspiração de um universo especial, onde não encontra abrigo qualquer tipo de preconceito.

Kleber Lago