quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Sonetos de Amar e Escrever - I



CONTEÚDO DESTA POSTAGEM
TÍTULO DO SONETO
PG. DO LIVRO
1
AMAR E ESCREVER
7
2
MÚSICA E POESIA
9
3
PRECE DE GRATIDÃO
11
4
SEMPRE JOVEM
13
5
VERSOS PARA ROSA
15
6
SOBRE A PALAVRA MÃE
17
7
NA PAZ DESSES POENTES
19
8
CRIME E CASTIGO
21
9
OPÇÃO
25
10
MÃE-POESIA
27


                                                                               1
           AMAR E ESCREVER
  
Essa missão de amar e de escrever
mostra-se em mim um tanto compulsiva,
mas eu, em meu papel de humano ser,
bem sei que ela me apraz e me cativa.

Cumprir essa missão me deixa ver
que torno minha alma mais altiva,
e quanto mais a cumpro com prazer,
mais quero que assim seja, enquanto eu viva.

Daí, se o medo de falhar me abraça,
em silêncio dirijo-me ao Senhor,
a suplicar que me preserve a graça

de, pelo tempo em que ficar em cena,
ter sempre o coração cheio de amor
e a mão sempre capaz de usar a pena.

2
            MÚSICA E POESIA
  
Amo essas artes, mas a que canseira
submetido muitas vezes fico,
lendo versos e ouvindo barulheira,
cujas mensagens não decodifico.

Decerto, a música não tem fronteira,
nem a poesia; só não justifico
com isso que se extraia baboseira
desses dois campos, cada qual mais rico. 

Eu uma arte à outra sempre atrelo,
Ante a necessidade de mestria
Em quem, por elas, busca expor o Belo.

Poesia não é música, é verdade,
Mas música precisa de poesia,
E poesia, de musicalidade.


                                                                               3
          PRECE DE GRATIDÃO
  
Viva, meu filho! Era, no lar paterno,
a lição cheia de sabedoria
que, com seu jeito amavelmente terno,
o meu saudoso pai me transmitia.  

Aprendi a lição... E sempre externo
que, seja em realidade ou fantasia,
às vezes chego a imaginar-me eterno
e vivo a eternidade num só dia.

Em tendo a vida por maior presente
que Deus me deu, viver é minha prece
de gratidão perene e reverente.

E ao fazer minha prece, sinto, assim,
a todo instante, quanto recrudesce
o prazer de viver, dentro de mim!

4
            SEMPRE JOVEM
  
Enquanto vivo, não penso na morte,
e vejo a idade só como um detalhe,
em que não acho nada que me corte
o prazer de viver, ou me atrapalhe.

Navego, driblo os ventos da má sorte,
sempre evitando que meu barco encalhe
nos escolhos que encontro, ou mesmo aporte
em terra onde eu talvez não me agasalhe.

Acumulei bastante experiência,
mas, quanto mais aprendo, mais desejo
deixar que meus princípios se renovem.

Pois, apesar da plena consciência
de que às vezes no corpo já fraquejo,
mantenho em mim o espírito de jovem!


                                                                               5
            VERSOS PARA ROSA
  
Dói-me tanto encontrar-te assim, chorosa,
Cabisbaixa, encolhida pelos cantos!
Nem reconheço em ti aquela Rosa
Que eu só via a sorrir, cheia de encantos!

Põe-te a varrer a mancha nebulosa
De teus olhos! E não importa em quantos
Momentos, nessa sina insidiosa,
Tu tenhas amargado desencantos...

Levanta, vem viver! Só é preciso
Que de cada decepção sofrida
Saibas tirar uma lição de vida.

Começa, pois, deixando que um sorriso
Venha luzir-te o rosto e dissipar
As sombras de tristeza desse olhar!

 6
          SOBRE A PALAVRA MÃE
  
Umas são longas no tamanho apenas,
porém curtas em significado;
outras têm, apesar de bem pequenas,
em si muito sentido concentrado.

Das línguas, cito aqui entre dezenas:
mater, mère, madre, mãe... Quanto cuidado
na escolha das maneiras mais amenas
de chamar nosso ente mais sagrado!

No português, qualquer poeta há de
perceber uma coisa curiosa
que já se fez particularidade:

não existe outra rima para mãe
que não seja essa forma afetuosa,
e dela derivada, que é mamãe.


                                                                               7
        NA PAZ DESSES POENTES
  
Eu me fascino quando, em tarde amena,
vejo o sol quase todo recolhido
e escuto a voz da paz, suave, serena,
surdinando harmonia ao meu ouvido.

A minha mente, de estesia plena,
leva-me em voo ao céu, onde esquecido
de tudo que é desilusão terrena,
vagueio leve, solto e embevecido!...

Na beleza de um dia que se finda
em cena apoteótica tão linda,
com doces sensações em mim presentes,

poderia morrer, sem querer mais
do que levar comigo a mesma paz
que sinto, enquanto vivo esses poentes!

8
          CRIME E CASTIGO
  
Vão ouvir muito a velha cantilena
em que afirmo que amar-te é tão sublime
e que eu te amo de maneira plena,
talvez bem mais do que meu canto exprime.

Mas se por isso o mundo me condena,
vivo pagando ao mundo por meu crime
e, alegre, cumpro minha doce pena
que tanto agrada quanto não reprime!

A pena é demonstrar como cresceu
em mim o que parece demasia,
enfatizando sempre que este meu

desejo de te amar cada vez mais
é como a fome que não se sacia
e a sede que jamais se satisfaz!


                                                                               9
                  OPÇÃO
  
Amar! De vocação por mim sentida
inda na infância dos primeiros dentes,
inspirando-me afetos inocentes,
tornou-se minha faina preferida!

Amei e amo, nesta humana lida,
pai, mãe, irmãos, mulher, filhos, parentes
e amigos que estarão sempre presentes
em meus quadros de amor, por toda a vida.

Amar ou não amar? Se Deus um dia
ante o dilema me viesse pôr,
juro que, no momento de optar,

iria Lhe dizer que preferia
poucas horas a mais de muito amor
a viver um milênio sem amar.

10
               MÃE-POESIA
  
Quando Deus à mulher deu a missão
de mãe, mostrou de forma bem direta
que Ele, o Senhor de toda a criação,
tinha também Seus dotes de poeta.

É que não há no mundo outra expressão
de poesia que seja mais completa,
em beleza, ternura e emoção,
do que uma mãe cumprindo sua meta.

Ser mãe traduz, na plenitude, o amor,
pouco importa o lugar de onde ela veio,
o status social, o credo e a cor...

Mãe é poesia escrita a tinta forte,
e que não sai jamais de nosso seio,
nem quando a musa nos carrega a morte!

                                        [Lago, Kleber. Amar e Escrever. São Luís: KCL, 2014]