quinta-feira, 11 de outubro de 2018

SONETOS DE OUTROS MOMENTOS II

(Capa ilustrada com foto de Pedras Verdes)

CONTEÚDO DESTA POSTAGEM
TÍTULO DO SONETO
PG. DO LIVRO
9
SORRISO
37
10
CONFISSÕES DE UMA SONETISTA
43
11
RISO E CHORO
47
12
BEM ACOMPANHADO
53
13
MULHER, UM TEMA FORTE
67
14
AMOR COMPLETO
69
15
DISFARCE
71
16
VERSEJADOR
75

                                                                                9
               SORRISO

Durante minha humana travessia,
tenho mostrado ao mundo meu sorriso,
sem precisar tocar o menor guizo
de algum tipo fingido de alegria.

Ser triste é algo que não caberia
dentro do mundo que eu idealizo;
por isso, trago em mim e verbalizo
o meu modo de ser, no dia a dia.

Cada sorriso que me vem ao rosto
é um poema escrito por minh’alma
para falar do meu contentamento

em ser assim e estar vivendo a gosto
uma vida ora intensa e ora calma,
porém feliz, momento por momento!

10
CONFISSÕES DE UMA SONETISTA
Dedicado a minha amiga Ana Neres, inspirada cultora da poesia livre, mas que não esconde sua obsessão por compor um soneto tecnicamente perfeito.

Adoro as liberdades, em poesia,
mas muitas vezes eu me submeto
a uma vontade que me desafia
a versejar nas linhas do soneto.

E não posso conter minha ousadia
de buscar perfeição, quando me meto
num campo estrutural que a maioria
dos vates já reputa obsoletro.

Mesmo pisando ovos vou em frente,
medindo versos e os cadenciando,
seguindo a norma em tudo, ponto a ponto,

até que eu possa, morta de contente,
abrir um riso escancarado, quando
meu soneto perfeito estiver pronto.


                                                                              11
             RISO E CHORO

São reações opostas que a pessoa
pode sentir, de forma até serena,
conciliando a hora e a vez que em cena
deve entrar cada uma, numa boa.

Pois, no comum, juntá-las só destoa
a cena, e tudo então se desengrena,
prova de que nem sempre vale a pena
rir e chorar ao mesmo tempo, à toa.

O sorriso reflete estar contente;
o choro, a dor. Contudo, há um instante
em que esse oposto não se evidencia.

E isso acontece apenas quando a gente
vive uma experiência fascinante,
em que sorri e chora de alegria!

12
        BEM ACOMPANHADO

Na vida, algumas vezes, eu me vejo
Diante de uma grande ansiedade
Que me chega, partindo de um desejo
De sair por aí, com liberdade.

Então, mais do que rápido, cotejo
Os sins e os nãos de possibilidade,
E só sins me aparecem num lampejo,
Levando-me a atender minha vontade.

Assim, eu saio a esmo e, passo a passo,
Vou por becos vielas e ladeiras,
Sem demonstrar o mínimo cansaço,

Nem o medo dos que, a andar sozinhos,
Expõem-se a emboscadas traiçoeiras,
Pois Deus está comigo em meus caminhos.


                                                                             13
       MULHER, UM TEMA FORTE

Cantada em verso, é quase sempre airosa,
Feliz, divinamente encantadora,
Cândida e delicada como rosa,
Com status de musa inspiradora.

Quem de talento para o canto goza
Pouco fala da triste e sofredora,
Como se uma existência desditosa
Não fosse de atenção merecedora.

E se fala, é num tom só de lamento,
Não indo nunca ao cerne da questão
Buscar o que motiva o sofrimento.

Eis que, se de mulher trata, o poema
Sugere escolha apenas em razão
Da força chamativa desse tema.

14
            AMOR COMPLETO

Deixa-me amar-te assim como desejo,
preenchendo contigo as horas vãs
de nossas noites, tardes e manhãs
com algo bem mais forte e benfazejo.

Permite que aconteça como vejo:
os nossos corpos nus – carnes irmãs –
trazendo à luz recônditos afãs,
sem fingidos pudores e sem pejo...

E depois, ao lembrarmos cada jura,
cada carícia e ato de ternura
do namoro inda puro e tão discreto,

vamos poder ouvir nossos olhares
a nos dizer, por todos os lugares,
que o nosso amor, enfim, ficou completo.


                                                                             15
                DISFARCE

Há um amigo meu, moço, vaidoso,
e que infeliz no amor, ri e proclama
a todos nós, com ar de venturoso,
não estar “nem aí” para o seu drama.

Em visita a outro amigo, bem idoso,
sábio e que quase já não sai da cama,
referi-me a esse caso curioso
que, de mim,  atenção sempre reclama.

Ouviu-me o sábio...  E erguendo-se do leito,
a me mostrar no olhar aquele jeito
de quem conhece tudo (até de amor),

revelou-me, em palavras tão serenas,
que quem sofre sorrindo tenta apenas
disfarçar com sorrisos sua dor.

16
            VERSEJADOR

Poeta, amigos, não me considero.
Julgo-me apenas um versejador
Que ao versejar se dá com muito amor,
Tal como um leigo age junto ao clero.

Diante dos grandes vates, sou um mero
Artesão de medíocre valor,
Razão por que ninguém deve supor
Que reconhecimento disso espero.

Pude desenvolver variados temas,
E quanto a livros, publiquei diversos,
Reunindo centenas de poemas.

Mas acredito que melhor seria
Se, em vez de ter escrito tantos versos,
Eu tivesse mostrado mais poesia. 
                           © Lago, Kleber. Outros Momentos. São Luís: KCL, 2013

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