quinta-feira, 27 de setembro de 2018

SONETOS DE OUTROS MOMENTOS I



                                                            (Capa ilustrada com foto de  Pedras Verdes)

CONTEÚDO DESTA POSTAGEM
TÍTULO DO SONETO
PG. DO LIVRO
1
OUTROS MOMENTOS
7
2
SONETO DO NOSSO AMOR
9
3
FINGIMENTO
11
4
AUSÊNCIA
13
5
SONHAR
19
6
DESESPERADA ESPERANÇA
23
7
AO POETA MAIOR
25
8
FOI ASSIM QUE CHEGUEI
31


                                                                                1
       OUTROS MOMENTOS

Para enfrentar sorrindo a minha lide,
sem dar lugar na mente a desatino,
aprendi a deixar, desde menino,
tristezas penduradas num cabide.

Sinto que em meu viver nada me agride,
pois tenho a vida como um dom divino,
e enquanto vou cumprindo o meu destino,
sou de fato feliz, ninguém duvide!

E já que desfrutei até agora
tantos momentos de felicidade,
sem dar guarida a mágoas e lamentos,

estou, dia pós dia, hora pós hora,
buscando, enquanto avanço em minha idade,
viver do mesmo jeito outros momentos.

2
       SONETO DO NOSSO AMOR

É raro amor como o do nosso caso,
Mais do que fontes de água num deserto...
Não te achei nem me achaste por acaso,
Foi Deus que nos uniu, disso estou certo.

E eu, que dos sonhos já mirava o ocaso,
Meio perdido num caminho incerto,
Ao te encontrar, mesmo com certo atraso,
Logo senti meu sol de novo aberto.

Se Deus nos elegeu para compor
Um bom modelo de casal perfeito
Cujo esteio da vida seja o amor,

Ele – que tudo pode e tudo sabe –
Pelo bem que nos quer, vai dar seu jeito
De não deixar que o nosso amor se acabe.


                                                                                3
               FINGIMENTO

Na vida, somos nós seres bisonhos
escorregando pelos seus resvalos,
muitas vezes capazes de ter sonhos
e nunca cogitar em realizá-los.

Tendo conosco o certo e o errado inconhos
e não sabendo como separá-los,
infelizes, mostramo-nos risonhos,
mesmo que isso nos provoque entalos.

Fingimos bem durante toda a vida,
e, geralmente, até de alma ferida
procuramos conter nossos assomos!...

Em resumo, sejamos bons ou não,
nunca nos deslindamos da intenção
de sempre querer ser como não somos.

4
               AUSÊNCIA

Vejo como tortura uma saudade
toda vez que de mim estás distante
e a sensação de falta que me invade
refletida aparece em meu semblante.

Eu não encontro em nada o que me agrade,
tudo me irrita, e passo cada instante
como se dentro de uma eternidade,
de ansiedade atroz, intolerante.

Enquanto tu não vens, tentar eu tento,
mas não encontro um ínfimo momento
de calma, no meu mar de impaciência.

E a cada ausência fico perguntando
se um velho coreação pode, e até quando,
suportar as agruras de outra ausência.


                                                                                5
                 SONHAR

É fascinante, mais do que envolvente,
poder levar o pensamento além
daquilo que se é, do que se tem,
do que se pode ver diante da gente!...

A doce sensação de pôr a mente
livre de toda amarra que a retém
presa à mediocridade que convém
só mesmo a quem  não pensa em ir em frente!...

Sonhar!... O verbo quanto o ato são
sublimes, mas não deixe, enquanto sonha,
que o encantamento do seu sonho o engrade,

pois todo sonho tende a ser em vão,
sempre que o sonhador não se disponha
a transformá-lo numa realidade.

6
   DESESPERADA ESPERANÇA

Não deixo de esperar por tua volta
e, enquanto espero, não encontro calma,
na saudade que causa uma revolta
de muitas culpas, dentro de minh’alma.

Por te deixar partir, nunca me solta
amarga sensação, como a de um trauma
que pisa, em rodopio, em viravolta,
meu pobre coreação, e não se acalma.

Mais ansioso que qualquer menino
em frente do que quer e não alcança,
faço coisas de um homem já sem tino.

Deito, levanto, chego à porta... E assim,
vou me desesperando na esperança
de que voltes um dia para mim.

7
                AO POETA MAIOR
                                     (Homenagem a José Chagas)

Amigo que me inspira confiança,
que me oferece a luz e a claridade
de uma grande lição que não me cansa,
e mais que eu ouça, mais sinto vontade!

Apesar das alturas que ele alcança
com sua pena e da avançada idade,
nele enxergo uma alma de criança
desprovida de orgulho e de vaidade.

Chego a notar em seus cantos urbanos
todo o lirismo que ele, infante, via
na singeleza da vida campestre.

São, pois, os seus oitenta e oito anos
tanto de vida quanto de poesia,
já que nasceu poeta o nosso mestre!

8
      FOI ASSIM QUE CHEGUEI

Na vida não andei só entre flores:
Tive meus dias de pisar espinhos,
Amargando também meus dissabores
A caminhar por ásperos caminhos.

Não reclamei jamais de minhas dores
Nem chorei insucessos que, aos pouquinhos,
Fui superando como os vencedores
Que não temem da luta os torvelinhos.

Foi desse jeito que cheguei aqui,
E até momentos de fora da lei
Vivi, por crimes que não cometi.

Muitas vezes segui aos tropeções,
Mas com as pedras em que tropecei
Alicercei as minhas construções.

                           © Lago, Kleber. Outros Momentos. São Luís: KCL, 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário