quarta-feira, 23 de março de 2016

DA LAVRA DE 2015 - outubro


               Constam desta postagem alguns poemas selecionados de minha produção de outubro de 2015.



MELHOR SERIA...



Há muito tempo que meus versos teço,
só que o faço de forma bem discreta
nessa missão que ainda reconheço
distante de ser dada por completa.



É que não tenho pago o justo preço
Àquele que de mim fez um poeta
feliz, muito feliz, que até me esqueço
de agradecer-lhe a vida tão dileta.



E embora eu já figure em certas listas
de bons poetas e bons sonetistas,
melhor seria se os sonetos meus



pudessem se mostrar mais eloquentes
em gratidão, por todos os presentes
que vivo sempre a receber de Deus!

                                                               (Imagem do Google)
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V Í C I O

O amor que vivi contigo,
do tipo que não tem fim,
ainda o vivo e bendigo
sua permanência em mim.

De quase nada adianta
estar de ti separado,
pois na saudade, que é tanta,
sempre te tenho a meu lado.

Tu és como aquele vício
que nunca me sai da vida:
para deixar-te esquecida

já fiz muito sacrifício,
e tudo o que consegui
foi me apegar mais a ti...
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 (Imagem do Google)
 
DESEJOS REPRIMIDOS

Sempre que me encontras
a sorrir e a brincar contigo,
nunca falta aquele momento
em que me fitas com olhar curioso
e me perguntas se sou mesmo estranho
como às vezes te pareço.

Acho que não... Apenas
ainda não pudeste perceber
que minha alegria sorridente
e meu jeito aparentemente extrovertido
diante de ti
são meros detalhes de uma máscara
com que busco disfarçar
impulsos reprimidos
em meu interior.

E é só em tua presença
que uso esse disfarce,
por questão de respeito
e de dever moral...

Mas se quisesses chutar
minha cautela para o alto
e saber realmente
o que acontece comigo,
bastaria que me pusesses nos lábios
o beijo com que tenho sonhado.

A partir de então,
viriam outros beijos
e tantas coisas mais
que me fariam dispensar a máscara,
porque aí já terias entendido
que o que em mim te parecia estranho
eram reflexos da repressão
que eu impus aos desejos
de te ter em meus braços!
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CANTO E DANÇO NESSE TOM

Encontro por aí quem só lamenta
e nas cores da vida insiste em pôr
doses de um pigmento de amargor
que faz a vida parecer cinzenta.

A mim, o amor à vida me orienta
a preservá-la alegre, multicor
e a, sem choros, cuidar de recompor
cada parte que dela se arrebenta.

Vivo em estado de perpétuo gozo,
pois, embora não seja ambicioso,
do que quero da vida, tudo alcanço.

E, tornando maior o meu prazer,
o amor me dá o tom para viver,
e é sempre nesse tom que canto e danço!
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SÃO SÓ TEUS OS MEUS OLHARES

Ao me veres lançar o meu olhar
a uma mulher exuberante e bela,
não deves nem de longe imaginar
que sinto a mínima atração por ela.

Nunca vai me atrair essa ou aquela,
pois no que tange à forma singular
de beleza capaz de me agradar,
a ti nenhuma outra se nivela.

São só teus meus olhares de prazer
e desejo... E, se acaso, para ter
teu amor sempre em clima de harmonia,

tu me impusesses como condição
que eu perdesse o sentido da visão,
juro por tudo que eu me cegaria!
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RISCO

Costumo desmontar o meu interior,
componente por componente,
para conhecer sempre mais
a serventia de cada um deles
no funcionamento do todo
com que me apresento cá fora.

É um trabalho que já venho fazendo
há muitos anos, repetidas vezes,
também para dar satisfação
a uma obsessiva necessidade
de verificar se o tempo (ou a comodidade)
não vem provocando desgastes
em peças fundamentais.

Não encontro um jeito
de livrar-me da mania de querer ser
meu próprio analista,
mesmo consciente de que, a usar
esse método de desmonte,
corro risco de um dia
não conseguir remontar-me...
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DE SONHO A PESADELO

Meu sono durante a noite
sempre foi muito tranquilo,
povoado de bons sonhos,
em cujos belos enredos
tu nunca estavas ausente
até uns dias atrás.

Em média, são seis por noite;
mas, pelo que me parece,
esses últimos estão
se tornando pesadelos,
pois em todos te procuro,
e em nenhum deles te encontro...
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(Imagem do Google)

COMO PENSO EM TI

Em minha mente vivo a recompor
as líricas metáforas de nós
fazendo os corpos declamar o amor
e a boca da razão calar a voz.

Lembro o quase divino despudor
das horas que passávamos a sós,
num aconchego mútuo, e eu sem supor
que sofreria esta saudade atroz...

Ando a devanear, impregnado
de ti, dos beijos teus mornos e doces,
de nós em nossos atos de pecado...

E, feito divagante, nada forte,
só penso em ti como se ainda fosses
quem prometia amar-me até a morte...
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FEVEREIRO

Como ser comum, primeiro,
sem qualquer constrangimento,
quero sempre um bom suporte
para toda afirmação,
e atitude que eu tome.

Assim, termino uma busca
sobre a origem do nome
do mês de meu nascimento,
e já sei que fevereiro
vem de Fébruo – o deus da morte
e da purificação
na mitologia etrusca.

Contudo, como poeta
que sempre disse o que quis,
eu só sigo as emoções,
voando ao sabor da sina,
alma descomprometida,
sem procurar as razões,
sem pôr os pingos nos “is”,
pois a poesia completa
é voo que não termina,
e para ser entendida
dispensa as explicações.

Poeta de fevereiro,
bem nascido nesse mês,
nele ando passo a passo.

Mas se acaso nele morro
e nele me purifico,
eu morto nele não fico,
pois peço à vida socorro
e, ainda nele, renasço
para viver meses mais,
esperando cada vez
que ele volte ao calendário
nos braços de um novo ano
e traga seus carnavais
ao mundo do imaginário
onde é certo estar no engano!

(Colaboração para a coletânea Fevereiro Poético)
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VOU BUSCAR-TE

Teu celular não responde
A tantos chamados meus.
Diz-me, meu amor, por onde
andas, pelo amor de Deus!

Se eu souber, vou te buscar,
seja verão seja inverno,
por ar, por terra ou por mar,
mesmo que estejas no inferno.

Tu longe, quero socorro
pois os dias de saudade
fazem-me a alma em pedaços.

Tu perto de mim, eu morro,
mas é de felicidade
e de prazer em teus braços!
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 (Imagem do Google)

NÃO DÊ O PEIXE, ENSINE A PESCAR

Sempre aumenta a demanda por esmola,
onde o sistema social é falho,
onde o povo não tem acesso à escola,
atenção à saúde e bom trabalho.

Por caridade, dou a quem mendiga
alguns trocados, mas não acho um meio
de me esquecer desta sentença antiga
que nos tercetos eu parafraseio:

Não dê o peixe àquele que tem fome,
quando a fome é problema, por ser isso
mero paliativo de momento,

cujo efeito não dura, logo some.
Dê-lhe, pois, um anzol e um caniço
e o ensine a pescar o seu sustento.
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                    Meus agradecimentos ao que se fazem presentes.

                                                                            Kleber Lago

© Kleber Cantanhede Lago