terça-feira, 15 de março de 2016

DA LAVRA DE 2015 - setembro



               Alguns poemas, selecionados entre os compostos em setembro de 2015:



 (Imagem do Google)

ANIVERSÁRIO

Enquanto tento esquecer
agulhadas de uma dor
que nos sorrisos disfarço,
com mais nitidez me lembro
dos momentos de prazer
de nossa história de amor,
que teve aurora em setembro
e ocaso no fim de março.

História que linda era
como a vida em florescência
por divina inspiração,
mas que, por nós termos dado
logo após a primavera
ouvidos à consciência,
teve o enredo arrastado
pelas águas do verão...

Se hoje me resta o consolo
de uma amizade até bela,
que compense o amor talvez,
ao olhar o calendário
choro um setembro sem bolo,
sem o amor soprando a vela
do primeiro aniversário,
que faria neste mês.
__________

A BUSCA

Em busca de algo, o homem sempre avança
em aventuras mil por terra e mar,
sem saber limitar sua esperança
áquilo que é possível de encontrar.

Serão tesouros ou só a bonança
de uma vida feliz noutro lugar
o objeto da busca a que se lança,
obstinadamente, sem parar?

Ainda há pouco, a caminhar a esmo,
eu, refletindo sobre tal procura,
senti que o homem busca é por si mesmo.

Pena que, obstinado que ele seja
na busca, sempre encontre a desventura
de não poder achar o que deseja...
__________

SEQUENCIAL

O magnetismo das trocas de olhares,
os toques "involuntários" de mãos,
a convergência de desejos parecidos,
a eclosão do beijo não programado,
o abraço ativador
da química natural
em que se tornam mistura perfeita
sensações e emoções compatíveis...

A descoberta do amor,
o sonho da "vie en rose"
a fluir pelos canais
das mentes fascinadas,
o compartilhamento das mesmas alegrias,
a realidade dos contatos mais íntimos,
a empolgação das carícias,
o sexo, a luxúria,
o prazer das fusões carnais
na beleza do estar juntos...

Os problemas do cotidiano,
os primeiros arranhões,
as primeiras feridas,
os primeiros sinais de desafeto,
o azinavre nos conectores da relação,
a queda de intensidade
na corrente do amor,
as crises,
o desenlace...

A paixão,
paixão que faz doer,
paixão que faz lembrar,
paixão que dá saudade,
paixão que faz o "caedere"
virar "cida" em nossa língua,
às vezes junto com "homo"
e outras vezes, com "sui"...
Pelas minhas
não mato,
não me mato,
simplesmente me morro...
__________

H A I C A I S

CAMA
Se nela o casal
só deita e dorme, há suspeita
de que algo vai mal.
______

AVE CATIVA
O seu canto é triste,
tendo, embora, na gaiola,
água, fruta e alpiste.
______

PRIMAVERA
Simplesmente, é quando
Deus com flores multicores
fica o mundo ornando.
______

FINGIDOR
Em prosa e em verso
diz ser pessoa feliz,
sentindo o inverso.
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VÃO ESFORÇO
O casal que insiste
em recompor um amor
que já não existe.
______

DOMINGO
Só para o descanso
queria Deus esse dia,
no qual mais me canso.
______

VAZIO
É como me sinto
sem vinho, prosa e carinho,
em qualquer recinto.
______

ARTÍSTICA LOUCURA
Jeito como pintas
de mil cores teus "amores",
misturando as tintas.
______

AMPARO
Se a vida me aperta,
não muda, pois chega ajuda
de Deus, por mão certa.
__________
  

 (Imagem do Google)

FLORES DE SETEMBRO

Setembro traz sprays com várias cores
e pinta, com as tintas espargidas
sobre tudo o que encontra de verdores,
um véu de flores multicoloridas.

Mamãe e Vânia, dois grandes amores,
as duas dentro desse mês nascidas,
deram cuidado especial às flores,
quanto puderam dar em suas vidas.

Nas mãos delas eu via as de dois anjos,
quando em jarros montavam seus arranjos
de rosas e outras flores... Quando lembro,

tenho a impressão de (até de noite) vê-las
juntas, no Céu, ao claro das estrelas,
passeando entre as flores de setembro!
__________

AQUELES DOCES PECADOS

O teu olhar provocante
eu senti no meu olhar,
e a partir daquele instante
não pude me controlar.

Daí fomos aos extremos
ao nos darmos com fervor,
mas só Deus e nós sabemos
nossos pecados de amor.

Foi tudo o que aconteceu
tão forte que tu e eu,
mesmo estando separados,

teremos sempre presentes
e vivos em nossas mentes
aqueles doces pecados.
__________

POR TI

Não adianta, amor, não vais poder,
mais que te esforces, ver-me aborrecido
nem provocar-me mágoa e desprazer
com as bobagens que tens cometido.

Pretendo te vencer pelo cansaço,
com sorrisos a cada gesto rude
que tu me fazes se não satisfaço
qualquer vontade tua, em plenitude.

E nada vai mudar-me o estado d'alma,
enquanto assim comigo te comportas
e com palavras tão cruéis me espancas.

Por ti, para manter a minha calma,
antes de a ira vir bater-me às portas
do coração, as fecho e ponho trancas.
__________

A LUZ DO TEU OLHAR

Sempre que a terna luz do teu olhar
atinge os olhos meus suavemente,
experimento uma emoção sem par,
em meio a tantas que minh’alma sente.

Um tipo de emoção tão singular,
que me invade de um jeito diferente,
tornando-me capaz de levitar,
em êxtase, de tudo mais ausente!...

Às vezes, tento descobrir a cor
com que a luz dos teus olhos me irradia
igual fascínio. Então, fico a supor

uma composição que o Criador
fez das cores do Sonho e da Poesia,
para pôr nessa luz a cor do amor.
__________

POSSO FAZER, MAS NÃO PROMETO

A viver só o lado de poeta,
sem o prazer daquele outro meu lado
alegre que não tenho desfrutado,
percebo que algo em mim não se completa.

A ansiedade já me põe na prensa
para não reprimir mais as vontades,
não me privar de certas liberdades
e dar um drible na convalescença.

Por isso, meus amigos, não prometo
hoje cumprir o velho ritual
de fazer toda sexta algum soneto.

Vou tomar umas "frias" lá na praça,
daquele jeito lúdico, informal,
mas se sóbrio voltar, talvez o faça.
__________

ESFINGE

Costumo andar
com este meu sorriso no rosto,
talvez natural, talvez forçado,
e ele pode até causar
suposição de enigma.

Ninguém pense é que não tenho
os meus conflitos interiores,
que os antagonismos
não lutam entre si
dentro de mim.

Eu também caminho
pela estreita viela
que separa o céu do inferno,
suscetível aos atrativos
de ambos os lados.

É verdade
que sofro uma tendência para o bem
e que quando me tenta
a vontade de fazer o mal,
é a mim que elejo vítima maior
de meus vícios e pecados.

Em relação a amor e ódio,
por enquanto só tenho amado,
e com muita intensidade,
mas se tivesse de odiar,
acredito que o faria
do jeito como amo...

Ao mundo eu me apresento
tal qual penso ser;
entretanto, cá dentro,
nem mesmo eu sei
se sou como me imagino.

Há momentos em que me sinto misterioso,
igual à Esfinge grega,
e aí, sem deixar apagar o sorriso do rosto,
simplesmente me digo
em voz silenciosa:
- Quem sabe, um dia não me apareça
um Édipo, em forma feminina,
e me decifre!...
Não para que eu me atire
precipício abaixo,
mas para que eu me "desesfinja" em homem
e tenha vida humana ao lado de alguém
capaz de me entender.
__________



 ÁGUAS DO MEARIM

Por elas eu viajei
a bordo de grande lanchas,
nelas pesquei, tomei banho,
e também delas bebi
sem precisar tratá-las
com maiores cuidados.
Mas isso já vai bem longe
e só existe na lembrança
do que ficou num tempo
em que eu acreditava
em serpentes encantadas
e mães-d'água.

Hoje, não sãos iguais
as sensações que me provoca
o manso passar dessas águas,
embora eu enxergue ainda
no fluxo do Mearim
certa beleza e poesia.

É que, enquanto suas águas
vão descendo num leito assoreado
entre as margens despojadas
da roupagem vegetal,
sofrendo poluição
e ictíaca pobreza,
sem que ninguém as socorra,
sobem-me à alma a tristeza
e a grande dor de saber
que nunca mais hei de vê-las
como as via em minha infância...
____________

               Sempre grato aos leitores deste blog, mando-lhes um carinhoso abraço.

                                                                            Kleber Lago
© Kleber Cantanhede Lago

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