segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Viagens para dentro e fora de mim - postagem final


Esta é a postagem final de textos do livro Viagens para dentro e fora de mim, contendo as páginas 77 a 90. A partir de agora, começarei a fazer a distribuição dos exemplares impressos em papel.

Por oportuno, manifesto os melhores votos de um feliz 2018 aos queridos leitores, com a minha gratidão pelo incentivo à manutenção deste blog, de natureza exclusivamente literária, que fechou o ano com os seguintes registros estatísticos de visitas: Brasil - 62.698; Estados Unidos e Canadá - 11.205; Europa - 6.425; Ásia - 204.


           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim

 CONTEÚDO POEMÁTICO DESTA POSTAGEM

DROGADO
77
TRÊS INSTANTES
78
APENAS POETA
79
À DERIVA
80
PLANTADOR
81
CAMINHANDO SEMPRE
82
A LUZ DO TEU OLHAR
83
RECUSAS
84
O VÍCIO DE VOCÊ
85
AOS PRETENSOS JUÍZES
86
SEQUENCIAL
87
EM BUSCA DO DESTINO
88
SÌNTESE BIOBIBLIOGRÁFICA DO AUTOR
89





                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          77

               DROGADO

Sempre que pega algum trocado micho,
daqui da rua certas horas some
para comprar a droga que consome,
mas logo volta, feito um homem-bicho.

Nele atua a má sina com capricho:
sob efeito da droga, esquece o nome
e até se serve, quando está com fome,
dos restos de comida que há no lixo.

É simplesmente um ser que subsiste
no curso de uma vida louca, triste,
em que de humano já não restam traços.

E para ele o mundo é algo estranho,
sem sentido, sem forma, e do tamanho
que cabe seu vaivém de poucos passos...




                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          78

TRÊS INSTANTES

Agora,
deves guardar silêncio
e escutar-me simplesmente;
deixar-me dizer-te
tudo o que te omiti
sobre meus pensamentos,
palavras e atos
de que não foras o alvo;
permitir-me revelar-te
todas as minhas mentiras,
fingimentos e traições
ao longo desses anos.

Depois,
será a tua vez
de livremente me fazeres
as tuas confissões,
a que ficarei atento,
sem buscar razões
e sem questionamentos.

Mais tarde,
deveremos considerar
o que nos dissemos
e, vestidos de sensatez,
despidos de rancor e mágoa,
teremos de decidir
entre duas opções:
– ou nos perdoarmos mutuamente
num abraço de reenlace;
– ou virarmos as costas um ao outro
para o começo de um caminhar
em direções opostas...


                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          79

 APENAS POETA

Se a Poesia me inspira o amor por tema,
sigo um hábito meu, já muito antigo:
torno-me personagem de um poema,
e conter meus impulsos não consigo.

Assim, versejo sem prender-me à algema
da censura e sem ver qualquer perigo
de provocar um conjugal problema
que afete tua relação comigo.

Sou só poeta, não quero desfeita
nossa união, quando a escrever me excedo,
nem que vivas em clima de suspeita.

Por não ferir-te, se eu buscasse acesso
a novo amor, faria isso em segredo;
e o que faço em segredo não confesso.



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          80

 À DERIVA


Não é que eu seja mau velejador,
sou apenas desleixado
e não posso velejar sozinho,
sem te ter por bússola
a indicar o meu norte
e por luz que não me deixe
desviar de rumo.

Por um impulso fui levado
a navegar por mar desconhecido
sem a tua companhia,
e simplesmente paguei
pela minha imprudência:
tombou o mastro sob a ventania
e o leme espatifou-se nos abrolhos.

Num barco à deriva,
sem vela e sem leme,
é como me sinto agora
não te tendo comigo...


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           PLANTADOR


Fiz-me ativista e dediquei-me a planos
com vistas a lutar pela melhora
das condições de meus irmãos humanos,
contra os quais a injustiça inda vigora.

Até bem perto dos sessenta anos,
não fui quieto como estou agora,
e usei, às vezes, métodos insanos
para espalhar ideias vida a fora.

Fui um cultivador de sonhos, sim;
enquanto o fui, mostrei a muita gente
como plantar sementes de esperança.

Sei que colhi bem pouco para mim,
mas vendo os que ensinei, fico contente
com cada um que melhor safra alcança.





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                         CAMINHANDO SEMPRE

Foram muitas caminhadas         Ao ir aonde não fui,
pelas estradas da vida,               já não busco fama ou glória:
e hoje, com setenta e três,         sim, tomar novas lições,
respeitados meus limites,           colher mais conhecimento
ainda solto meus passos,           para pôr em meus vazios
de volta a chãos já pisados        que, quanto mais eu preencho,
ou rumo aonde não fui.               maiores ficam em mim.

O caminhar pela vida
vale a pena para o homem
enquanto a alma o deseje,
e pouco importa que o corpo,
sentindo o peso dos anos,
só lhe permita fazê-lo
devagar, a passos lentos...

Continuo a caminhar,
feliz, descomprometido
com vaidades e ambições,
deixando o vento levar-me
aonde queira o pensamento,
para refazer percursos
ou descobrir novas trilhas.

De volta a chãos já pisados
por mim, revejo as vitórias,
como também os fracassos
que tive e que me ensinaram
a corrigir certos erros
e a criar boa estratégia
para aplicar noutra luta.


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    A LUZ DO TEU OLHAR


Sempre que a terna luz do teu olhar
atinge os olhos meus suavemente,
experimento uma emoção sem par,
em meio a tantas que minh’alma sente.

Um tipo de emoção tão singular,
que me invade de um jeito diferente,
tornando-me capaz de levitar,
em êxtase, de tudo mais ausente!...

Às vezes, tento descobrir a cor
com que a luz dos teus olhos me irradia
igual fascínio. Então, fico a supor

uma composição que o Criador
fez das cores do Sonho e da Poesia,
para pôr nessa luz a cor do amor.



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            RECUSAS


Ontem te convidei para um passeio,
porém tu recusaste o meu convite,
e na desculpa que me deste, veio
a alegação de crise de rinite.

Hoje vou te propor um dia cheio
de carinho e prazeres, sem limite,
mas estou, em verdade, com receio
de que me alegues uma encefalite.

Cada vez que me negas teu carinho
toda a alegria de minh’alma some,
e então me sinto como um bebezinho

que se contorce dentro do seu leito
e em pranto denuncia a dor da fome,
enquanto a mãe fica a negar-lhe o peito.



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          85

       
           O VÍCIO DE VOCÊ


Sinceramente, sinto-me um menino
sempre que com você, tardes inteiras,
envolvo-me em adultas brincadeiras
em que demonstro quanto sou “malino”.

Você cai em gostoso desatino,
sob o calor de lúbricas fogueiras
que acendo, a explorar de mil maneiras
as curvas do seu corpo pequenino.

... Penso em abdicar a certos vícios
que já se me tornaram de rotina,
embora isso me custe sacrifícios.

Mas não incluo aí aquele que
é, entre todos, o que mais domina
minha vontade: O VÍCIO DE VOCÊ!







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AOS PRETENSOS JUÍZES

Situações me acontecem
de maneira inusitada,
e não me resta, senão
nelas deixar-me envolver
sem qualquer questionamento
quanto a se certas, ou não.

Vou me deixando levar
pelos ventos da emoção;
vivo-as e as procuro ver
como sendo naturais,
enquanto me fazem bem,
enquanto me dão prazer.

Quem acha que estou errado
mostre-me quem nunca errou,
ou então me ensine um jeito
de evitar que as doces setas
atiradas por Cupido
venham cravar-se em meu peito.

Sou um simples ser humano,
posso até ter alma forte,
mas “a carne é fraca”... Assim,
quando erro por amor,
dou “bananas” a quem queira
fazer-se juiz de mim!


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                               SEQUENCIAL

O magnetismo das trocas de olhares,              A paixão,       
os toques "involuntários" de mãos,                   paixão que faz doer,
a convergência de desejos parecidos,             as primeiras feridas,
a eclosão do beijo não programado,                paixão que faz lembrar,
o abraço ativador                                              paixão que dá saudade,
da química natural                                            paixão que faz o "caedere"
em que se tornam mistura perfeita                   virar "cida" em nossa língua,
sensações e emoções compatíveis...               às vezes junto com "homo"
                                                                          e outras vezes, com "sui"...
A descoberta do amor,
o sonho da "vie en rose"                                   Pelas minhas
a fluir pelos canais                                            não mato,
das mentes fascinadas,                                    não me mato,
o compartilhamento das mesmas alegrias,      simplesmente me morro...
a realidade dos contatos mais íntimos,
a empolgação das carícias,
o sexo, a luxúria,
o prazer das fusões carnais
na beleza do estar juntos...

Os problemas do cotidiano,
os primeiros arranhões,
as primeiras feridas,
os primeiros sinais de desafeto,
o azinavre nos conectores da relação,
a queda de intensidade
na corrente do amor,
as crises,
o desenlace...


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 EM BUSCA DO DESTINO

Há muito tempo vivo além do muro
que me prendia a mim e a tudo quanto
me inspirava limites, entretanto
meu horizonte ainda é quase escuro.

Tenho me dado a esse trabalho duro
de vagar pela vida, canto a canto,
e embora tenha viajado tanto,
não consegui achar o que procuro.

Mas, quando venho de qualquer jornada,
logo depois que tiro os pés da estrada,
limpando todo o pó, me determino

a não parar, e me encho de coragem
para o começo de nova viagem
em busca de chegar ao meu destino.


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 SÍNTESE BIOBIBLIOGRÁFICA DO AUTOR

KLEBER CANTANHEDE LAGO (21/2/1942, Pedreiras - MA). Contador, professor e servidor público federal.

DOMICÍLIOS NO CURSO DA VIDA: Pedreiras - MA, até 1960 e de 1964 a 1975; Rio de Janeiro - RJ, de 1960 a 1964 e de 1975 a 1982; Teresina - PI, de 1982 a 1991; São Luís - MA, a partir de 1991.

EXERCÍCIO DO MAGISTÉRIO: (Língua Portuguesa): Ginásio Corrêa de Araújo e Escola Normal Messias Filho (Pedreiras - MA) e Instituto Dom Barreto (Teresina - PI).

VÍNCULO COM ENTIDADES LITERÁRIAS: Membro fundador da Academia Pedreirense de Letras e membro efetivo da Academia Poética Brasileira.

CARGOS E FUNÇÕES: Dirigente Municipal da CNEC, Secretário Municipal de Administração, Vereador, Presidente da Academia Pedreirense de Letras (Pedreiras - MA); Coordenador do Núcleo de Apoio Gerencial, Diretor do Departamento de Convênios, Assessor Especial do Reitor, Assessor junto à Pró-Reitoria de Gestão e Finanças (Universidade Federal do Maranhão, São Luís - MA).

TÍTULOS E HONRARIAS: Amigo da Universidade da Terceira Idade - UNITI; Comenda Corrêa de Araújo - Câmara Municipal de Pedreiras; Honra ao Mérito - Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão.

BIBLIOGRAFIA
Livros: Pedreiras (1970, 2ª ed. 1988), Palavras (1988), Da Cidade e do Rio (2006), Louvação a Pedreiras (2006, 2ª ed. 2007), Um Pouco de Cada Momento (2006), Caderno de Sonetos (2007), Os Loucos de Minha Terra (2007), Água e Pedra (2008), Tempo e Distância (2008), Palavras e Outros Poemas (2009), Da Cidade, da Pedra e do Rio (2009), Deixem tudo como está (2009), Reprodução Gráfica da Palestra “A produção literária e outras manifestações culturais em solo pedreirense” (2010), Sonetos que não estão no Caderno (2010), Menções, Cantos e Louvores (2011), Quadras para os Setenta, Haicais e Trovas Soltas (2011), Outros Momentos (2013), Amar e Escrever (2014), Viagens para dentro e fora de mim (2017).
Publicações em blog: kleberlago.blogspot.com 
   

Abraços os queridos leitores com carinho e gratidão.

                                       Kleber Lago
© Kleber Cantanhede Lago