sábado, 3 de novembro de 2012

LIRA DE OUTUBRO

(Imagem: diariodoandre.com)


A postagem de hoje reúne alguns poemas que compus em outubro findo, numa pequena mostra que se encerra com o soneto AO POETA MAIOR, dedicado ao grande homenageado do mês: o poeta maranhense nascido na Paraíba JOSÉ CHAGAS que comemorou no dia 29/10/2012 o seu octogésimo oitavo aniversário de nascimento para uma vida de luz e de glória literária. 


      METADE(S)
 
Chamam-me de poeta
Porque sou capaz
De mostrar em versos
A beleza que vejo nas coisas,
Os sons que ouço
Da vida em movimento,
A suavidade da música
Instrumentalmente produzida,
O perfume das flores
Viajando no vento...
Também ouço
O que o silencio me diz,
Distingo a distância
O canto de minhas ninfas,
Enxergo o que o escuro me revela
E me inebrio de essências imaginárias...

Sou metade realidade,
Metade fantasia,
E em ambas as situações
Confirmo que não tenho surdez,
Cegueira e falta de olfato.
Mas, se não consigo
Exprimir as percepções
De minha segunda metade,
Sinto-me meio poeta,
Meio mudo.


DESESPERADA ESPERANÇA


Não deixo de esperar por tua volta
e, enquanto espero, não encontro calma,
na saudade que causa uma revolta
de muitas culpas, dentro de minh’alma.

Por te deixar partir, nunca me solta
amarga sensação, como a de um trauma,
que pisa, em rodopio, em viravolta,
meu pobre coração, e não se acalma.

Mais ansioso que qualquer menino
em frente do que quer e não alcança,
faço coisas de um homem já sem tino.

Deito, levanto, chego à porta... E assim,
vou me desesperando na esperança
de que voltes um dia para mim.



INCAPACIDADE
 
Injustificáveis
E persistentemente inoportunas,
Essas sensações de desprezo
Que me ferem a alma!

Só me resta é procurar um jeito
De bloquear a mente
Aos seus ataques
E ir tratando, enquanto posso,
De pensar as chagas
Que elas deixam em mim
E enxugar o sangue
Que delas escorre...

Afinal, sentir-me assim ferido
Não me inspira revolta
Nem me pede revanche,
Pois quem indiretamente me fere
Nem de longe imagina que o faz.
E nenhuma culpa lhe cabe
Por eu não ser capaz
De conquistar o quanto desejo
De sua atenção...


  SEXO, DE CORPO E ALMA

Que um quarto não seja nunca visto
como mero ambiente estabular
de ações reprodutivas,
nem a cama como simples palco
que sirva à ridícula cena
da mulher que abre as pernas
para o homem “usá-la”!

Que não seja apenas uma visão poética
o que em ato se sublima,
da junção de correntes opostas de energia
que provoca no homem e na mulher
esse mútuo e incontrolável desejo
de dar à carne o prazer
que o espírito requesta ao ser humano!

E que tenhamos, na satisfação desses apelos,
a mesma ternura das preliminares
até o derradeiro espasmo de prazer,
para que duas almas plenamente contentadas
permitam que dois corpos, lado a lado,
adormeçam tranquilos, embalados
por sonhos de novos momentos iguais!



     HALLOWEEN

Se estão soltas,
Que venham as bruxas!
Altas, baixas, gordas, magras,
Bonitas, feias, jovens, idosas,
Isso pouco importa...
Estacionem as vassouras à porta
E façam a festa!
Mas nenhuma caia na asneira
De tentar levar-me
Para cozinhar-me em seu caldeirão,
Se não tiver em casa
Tempero de carinho
E fogo de amor.


             MEDO
 
Minha porta sempre estará aberta
Para que por ela entre
Gente que me faça companhia.

Mas peço às pessoas que vierem
Que não esqueçam a cesta-básica,
Cujo conteúdo são coisas muito simples
E sem peso para os bolsos.
Porções soltas de sentimentos
De alegria, amor e afeto,
Misturadas a outras de fantasias
Ou de razões que me incitem a mente
E me permitam, até o meu último dia,
Continuar a fazer o que mais gosto:
Estar junto de gente, ler, escrever,
Falar e dar ouvidos,
No pleno exercício desse duplo papel
De mestre e aprendiz da Escola da Vida.

Medo do que se chama morte nunca tive,
Mas tenho pavor de que ela me encontre
À sombra da ociosidade
E naquele tipo de solidão
Que faz o homem se sentir
Companheiro único de si mesmo.



AO POETA MAIOR                 

Homenagem a José Chagas

Amigo que me inspira confiança,
que me oferece a luz e a claridade
de uma grande lição que não me cansa,
e mais que a ouça, mais sinto vontade!

Apesar das alturas que ele alcança
com sua pena e da avançada idade,
nele enxergo uma alma de criança
desprovida de orgulho e de vaidade.

Chego a notar em seus cantos urbanos
todo o lirismo que ele, infante, via
na singeleza da vida campestre.

São, pois, os seus oitenta e oito anos,
tanto de vida quanto de poesia,
já que nasceu poeta o nosso mestre!


Ao estimado amigo José Chagas,

São simples versos, num soneto que não revela a mestria com que você tão bem já se expressou nesse tipo de estrutura poemática. Mas foi o meio que encontrei, tanto para externar meus sentimentos de admiração, respeito e reconhecimento por tudo que tem feito pelas nossas letras, quanto para, em nome da amizade que lhe tenho, mostrar como o vejo na simples condição de pessoa humana. Que me seja dada a alegria de festejar sua presença no tempo e no espaço da vida terrena, quando a sua idade estiver sendo marcada pelo número formado com a junção dos dois algarismos iguais, subsequentes aos que formam o número que hoje a indica.
São Luís, 29/10/2012


Um forte abraço de agradecimento aos queridos leitores.

Kleber Lago