(Imagem: diariodoandre.com)
A postagem de hoje reúne alguns
poemas que compus em outubro findo, numa pequena mostra que se encerra com o
soneto AO POETA MAIOR,
dedicado ao grande homenageado do mês: o poeta maranhense nascido na Paraíba JOSÉ CHAGAS que comemorou no dia
29/10/2012 o seu octogésimo oitavo aniversário de nascimento para uma vida de
luz e de glória literária.
METADE(S)
Chamam-me de poeta
Porque sou capaz
De mostrar em versos
A beleza que vejo nas coisas,
Os sons que ouço
Da vida em movimento,
A suavidade da música
Instrumentalmente produzida,
O perfume das flores
Viajando no vento...
Também ouço
O que o silencio me diz,
Distingo a distância
O canto de minhas ninfas,
Enxergo o que o escuro me revela
E me inebrio de essências imaginárias...
Sou metade realidade,
Metade fantasia,
E em ambas as situações
Confirmo que não tenho surdez,
Cegueira e falta de olfato.
Mas, se não consigo
Exprimir as percepções
De minha segunda metade,
Sinto-me meio poeta,
Meio mudo.
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DESESPERADA ESPERANÇA
Não deixo de esperar por tua volta
e, enquanto espero, não encontro calma,
na saudade que causa uma revolta
de muitas culpas, dentro de minh’alma.
Por te deixar partir, nunca me solta
amarga sensação, como a de um trauma,
que pisa, em rodopio, em viravolta,
meu pobre coração, e não se acalma.
Mais ansioso que qualquer menino
em frente do que quer e não alcança,
faço coisas de um homem já sem tino.
Deito, levanto, chego à porta... E assim,
vou me desesperando na esperança
de que voltes um dia para mim.
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INCAPACIDADE
Injustificáveis
E persistentemente
inoportunas,
Essas sensações de
desprezo
Que me ferem a alma!
Só me resta é
procurar um jeito
De bloquear a mente
Aos seus ataques
E ir tratando, enquanto
posso,
De pensar as chagas
Que elas deixam em
mim
E enxugar o sangue
Que delas escorre...
Afinal, sentir-me
assim ferido
Não me inspira
revolta
Nem me pede
revanche,
Pois quem
indiretamente me fere
Nem de longe imagina
que o faz.
E nenhuma culpa lhe
cabe
Por eu não ser capaz
De conquistar o
quanto desejo
De sua atenção...
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SEXO, DE CORPO E
ALMA
Que um quarto não seja nunca visto
como mero ambiente estabular
de ações reprodutivas,
nem a cama como simples palco
que sirva à ridícula cena
da mulher que abre as pernas
para o homem “usá-la”!
Que não seja apenas uma visão
poética
o que em ato se sublima,
da junção de correntes opostas de
energia
que provoca no homem e na mulher
esse mútuo e incontrolável desejo
de dar à carne o prazer
que o espírito requesta ao ser
humano!
E que tenhamos, na satisfação
desses apelos,
a mesma ternura das preliminares
até o derradeiro espasmo de
prazer,
para que duas almas plenamente
contentadas
permitam que dois corpos, lado a
lado,
adormeçam tranquilos, embalados
por sonhos de novos momentos
iguais!
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HALLOWEEN
Se estão soltas,
Que venham as bruxas!
Altas, baixas, gordas, magras,
Bonitas, feias, jovens, idosas,
Isso pouco importa...
Estacionem as vassouras à porta
E façam a festa!
Mas nenhuma caia na asneira
De tentar levar-me
Para cozinhar-me em seu caldeirão,
Se não tiver em casa
Tempero de carinho
E fogo de amor.
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MEDO
Minha porta sempre
estará aberta
Para que por ela
entre
Gente que me faça
companhia.
Mas peço às pessoas
que vierem
Que não esqueçam a
cesta-básica,
Cujo conteúdo são
coisas muito simples
E sem peso para os
bolsos.
Porções soltas de
sentimentos
De alegria, amor e
afeto,
Misturadas a outras
de fantasias
Ou de razões que me
incitem a mente
E me permitam, até o
meu último dia,
Continuar a fazer o
que mais gosto:
Estar junto de
gente, ler, escrever,
Falar e dar ouvidos,
No pleno exercício
desse duplo papel
De mestre e aprendiz
da Escola da Vida.
Medo do que se chama
morte nunca tive,
Mas tenho pavor de
que ela me encontre
À sombra da
ociosidade
E naquele tipo de
solidão
Que faz o homem se
sentir
Companheiro único de
si mesmo.
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AO POETA MAIOR
Homenagem a José Chagas
Amigo que me inspira confiança,
que me oferece a luz e a claridade
de uma grande lição que não me cansa,
e mais que a ouça, mais sinto vontade!
Apesar das alturas que ele alcança
com sua pena e da avançada idade,
nele enxergo uma alma de criança
desprovida de orgulho e de vaidade.
Chego a notar em seus cantos urbanos
todo o lirismo que ele, infante, via
na singeleza da vida campestre.
São, pois, os seus oitenta e oito anos,
tanto de vida quanto de poesia,
já que nasceu poeta o nosso mestre!
Ao estimado amigo José Chagas,
São simples versos,
num soneto que não revela a mestria com que você tão bem já se expressou
nesse tipo de estrutura poemática. Mas foi o meio que encontrei, tanto para
externar meus sentimentos de admiração, respeito e reconhecimento por tudo
que tem feito pelas nossas letras, quanto para, em nome da amizade que lhe
tenho, mostrar como o vejo na simples condição de pessoa humana. Que me seja
dada a alegria de festejar sua presença no tempo e no espaço da vida terrena,
quando a sua idade estiver sendo marcada pelo número formado com a junção dos dois algarismos iguais, subsequentes
aos que formam o número que hoje a indica.
São Luís, 29/10/2012
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Um forte abraço de agradecimento aos queridos leitores.
Kleber Lago
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