sábado, 23 de fevereiro de 2013

POEMAS DAS ÚLTIMAS COLHEITAS I

(Foto importada: pulsarinagens.com.br)
 
               Escrevo versos, componho poemas, não faço poesia. A poesia porventura existente em meus poemas colho-a da vida, nas experiências do cotidiano, como sugere o título atribuído a esta nova postagens, que traz alguns poemas que escrevi nos últimos meses e que será continuada na próxima postagem.
 
                                              O  F I L M E
 
É a mesma fita,
A mesma encenação que se repete
No espaço temporal de cada ano...
 
Pela porta da frente,
Entra uma criança despida
Que logo veste os cueiros,
Levanta e sai puxando
Um carrinho de brinquedo
Carregado de esperanças...
E vai crescendo,
Caminhando sempre,
Ora pisando flores,
Ora pisando espinhos,
 
 
Às vezes provando o amargo
Das decepções,
Outras saboreando o doce
Das alegrias,
Na luta para viver (ou sobreviver)
Até o instante de sair
Pela porta dos fundos,
Feito um velhinho
Com um alforje puído às costas,
Do qual se vão derramando
Lembranças dos que se foram
Nas saudades dos que ficaram
Para assistir a uma nova sessão
Do mesmo filme...
                     
                              (Kleber Lago, Outros Momentos)
 
 
   FOI ASSIM QUE CHEGUEI
 
Na vida não andei só entre flores:
Tive meus dias de pisar espinhos,
Amargando, também, meus dissabores
A caminhar por ásperos caminhos.
 
Não reclamei jamais de minhas dores
Nem chorei insucessos que, aos pouquinhos,
Fui superando como os vencedores
Que não temem da luta os torvelinhos.
 
Foi desse jeito que cheguei aqui,
E até momentos de fora da lei
Vivi, por crimes que não cometi.
 
Muitas vezes segui aos tropeções,
Mas com as pedras em que tropecei
Alicercei as minhas construções.
 
                                      (Kleber lago, Outros Momentos)
 
NAVEGAR
 
Diante de mim,
são tantos os mares a navegar.
E eu tenho de fazê-lo
para que não me sinta um solitário da praia,
insensível aos apelos das águas,
incapaz de subir ao barco dos sonhos,
abrir suas velas e me deixar levar
pelos ventos da aventura
a segredos e mistérios
tão provocantes,
quanto os que me oculta
o azul de seus olhos.
                    
                           (Kleber Lago)
_________________
 
TEMPO
 
Não conto o tempo que conta
Esse meu tempo de vida.
Conto, mas noutro sentido,
O que a vida me ensina,
O que aprendo do mundo,
Durante minha jornada
Pelo caminho em que vou.
O tempo que me perdoe
Por não perder o meu tempo
A medir quanto ele dure
Do princípio até o fim.
 
                        (Kleber Lago)
O MAR, O RIO E A POESIA
 
Diante do mar
a sensação que me vem
é de poder, de força, da imensidão
do domínio das águas
sobre este planeta
que o astronauta,
ao vê-lo de cima,
definiu com o uma bela bola
t oda azul...
 
Olhando um pequeno rio,
eu sinto a suavidade
de água mansa a correr
para pagar seu tributo
ao mar imenso,
enquanto ele faz brotar em mim
pequenas fontes
em que tento saciar
minha sede de poesia...
 
Quanto à poesia,
a sensação que ela me causa
é de quanto sou vazio,
ante a plenitude de tudo
que ainda não consigo enxergar...
 
                           (Kleber Lago, Ouros Momentos)
 
A PONTE
 
De cima da ponte
Eu olho o presente
Que a vista alcança,
Volto ao passado
A que lembrança me leva
E enxergo o futuro
Que sonho para minha terra.
 
A ponte é o cordão umbilical
Que continua ligando mãe e filha.
Sobre ela, a dinâmica da vida
No girar de rodas,
No vaivém de passos,
Apressados ou lentos,
De pessoas que caminham
Ou mesmo se arrastam,
Que se encontram e se misturam,
Que se abraçam e se confirmam
Como um único povo,
A buscar horizontes iguais
Em qualquer dos lados
Ligados pela ponte.
 
Por baixo da ponte
Passa um rio de águas mansas,
Motivo de poemas e canções.
Um rio preexistente
Ao nascimento da mãe,
Por conseguinte, ao seu parto...
E me parece um rio ainda feliz,
Que sente mãe e filha unidas
No mesmo amor por ele,
Juntas nos mesmos lamentos
Por vê-lo estreito, raso
E quase despovoado,
Teimando em resistir
À ação dos predadores.
 
                        (Kleber Lago, Outros Momentos)
 
SUBLIMAÇÃO
 
Olhos, boca, mãos,
Tudo em estado de deliciosa loucura,
Ao calor de nossos corpos
Que se entregam e se conjugam,
Que se desmentalizam e se desalmam
Para que o amor nos leve a transcender
A normalidade dos sentidos,
Num turbilhão de prazer
Que tanto dispensa lógica e nexo,
Quanto nos libera de pronunciar
Palavras articuladas,
Porque suspiros e gemidos
Bastam para exprimir
As nossas sensações...
 
                      (Kleber Lago)
 
____________________
 
 
E N Í G M A S
 
Há sempre um dia na vida
em que o homem se vê diante da Esfinge,
a exigir-lhe que desvende
os próprios enigmas,
e vem aquela angústia da busca por ajuda
no Édipo interior que não aparece,
fazendo-se nele um silêncio
que se junta a todos os seus outros silêncios,
sem que nenhum abra a boca
para socorrê-lo,
enquanto o monstro vocifera:
– Decifra-te, ou te devorarei!
 
                               (Kleber Lago,Outros Momentos )
 
BECOS DE SÃO LUÍS
 
Becos, de chão coberto de cantaria
Vinda do outro lado do oceano,
Onde os cumprimentos
Podiam ser trocados das janelas,
E em voz baixa!...
 
Becos que inspiram canções
Sobre um tempo, em cuja lembrança
Não se ouvem sons de motores
Nem de altos falantes,
Mas o "toc-toc" de chamatós,
Os pregões musicados
De vendedores de frutos do mar
E de frutas da Ilha,
E as cantigas de sorveteiros equilibristas
Com suas tinas verdes na cabeça!...
 
Becos que sobem ladeiras em curva,
Que nos cansam os pés,
Mas nos compensam
Com a sombra dos casarões sem calçadas
Que, mesmo em lados opostos,
Quase conseguem se dar as mãos!...
 
Becos em que às vezes me embrenho,
Na busca de encontrar
Fantasmas do muito que ouvi contar
E do pouco que ainda pude ver!..
 
                     (Kleber Lago)
 
...E ASSIM ACONTECEU
  
Não foi preciso
que saísse de minha boca
uma única palavra:
os apelos do meu silêncio
foram mais que suficientes
para que entendesses
o que eu pretendia te dizer
e o que eu realmente desejava,
quando um empalidecer da ousadia
tornou-me inerte e mudo,
diante de ti.
 
E tu me puxaste pelos braços,
fizeste-me sentar sobre tuas coxas
e, apoiando minha cabeça
na concha de uma de tuas mãos,
provocaste a troca daquele beijo,
abrindo todos os caminhos
para um fluxo de carícias mútuas,
em que silenciosos nos deixamos ir
até o estuário de delícias,
onde cada um de nós, um pleno do outro,
sentiu que se quebrou o silêncio do momento
pelo tilintar de sinos tocados por anjos
à luz de explosões imaginárias
de mil estrelas multicoloridas,
só voltando a ser silêncio
para o merecido repouso
de nossos corpos, saciados de prazer,
sobre um monte de lençóis desarrumados...
 
                                  (Kleber Lago)
 
 
POR UM SORRISO
  EM TEU ROSTO
 
Não me tem sido difícil
 Satisfazer teus desejos,
 E faria o impossível
 Por um sorriso em teu rosto.
 Por exemplo, se algum dia
 Tu me pedisses estrelas,
 Eu tenho plena certeza
 De daria meu jeito
 De trazer um bom pedaço
 De céu pra junto de mim.
 Então, dentre as mais brilhantes
 Das estrelas que viessem
 Nesse pedaço de céu,
 Escolheria as mais belas
 Para ofertá-las a ti.
 
                  (Kleber Lago, Outros Momentos)
 
SONHAR
 
É fascinante, mais do que envolvente
poder levar o pensamento além
daquilo que se é, do que se tem,
do que se pode ver diante da gente!...
 
A doce sensação de pôr a mente
livre de toda amarra que a retém
presa à mediocridade que convém
só mesmo a quem não pensa em ir em frente!...
 
Sonhar!... O verbo quanto o ato são
sublimes, mas não deixe, enquanto sonha,
que o encantamento do seu sonho o engrade,
 
pois todo sonho tende a ser em vão,
sempre que o sonhador não se disponha
a transformá-lo numa realidade.
 
                              (Kleber Lago, Outros Momentos)
 
               Mais uma vez agradeço a atenção dos leitores, com um abraço carinhoso.
                                                                                              
                                                                       Kleber Lago
© Kleber Cantanhede Lago