(Foto importada: pulsarinagens.com.br)
Escrevo versos, componho poemas, não faço poesia. A poesia porventura existente em meus poemas colho-a da vida, nas experiências do cotidiano, como sugere o título atribuído a esta nova postagens, que traz alguns poemas que escrevi nos últimos meses e que será continuada na próxima postagem.
O F I L M E
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É a mesma fita,
A mesma encenação que se repete
No espaço temporal de cada ano...
Pela porta da frente,
Entra uma criança despida
Que logo veste os cueiros,
Levanta e sai puxando
Um carrinho de brinquedo
Carregado de esperanças...
E vai crescendo,
Caminhando sempre,
Ora pisando flores,
Ora pisando espinhos,
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Às vezes provando o amargo
Das decepções,
Outras saboreando o doce
Das alegrias,
Na luta para viver (ou sobreviver)
Até o instante de sair
Pela porta dos fundos,
Feito um velhinho
Com um alforje puído às costas,
Do qual se vão derramando
Lembranças dos que se foram
Nas saudades dos que ficaram
Para assistir a uma nova sessão
Do mesmo filme...
(Kleber Lago, Outros Momentos)
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FOI ASSIM QUE CHEGUEI
Na vida não andei só entre flores:
Tive meus dias de pisar espinhos,
Amargando, também, meus dissabores
A caminhar por ásperos caminhos.
Não reclamei jamais de minhas dores
Nem chorei insucessos que, aos pouquinhos,
Fui superando como os vencedores
Que não temem da luta os torvelinhos.
Foi desse jeito que cheguei aqui,
E até momentos de fora da lei
Vivi, por crimes que não cometi.
Muitas vezes segui aos tropeções,
Mas com as pedras em que tropecei
Alicercei as minhas construções.
(Kleber lago,
Outros Momentos)
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NAVEGAR
Diante
de mim,
são
tantos os mares a navegar.
E
eu tenho de fazê-lo
para que não
me sinta um solitário da praia,
insensível
aos apelos das águas,
incapaz
de subir ao barco dos sonhos,
abrir
suas velas e me deixar levar
pelos
ventos da aventura
a
segredos e mistérios
tão
provocantes,
quanto
os que me oculta
o
azul de seus olhos.
(Kleber Lago)
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TEMPO
Não conto o tempo que conta
Esse meu tempo de vida.
Conto, mas noutro sentido,
O que a vida me ensina,
O que aprendo do mundo,
Durante minha jornada
Pelo caminho em que vou.
O tempo que me perdoe
Por não perder o meu tempo
A medir quanto ele dure
Do princípio até o fim.
(Kleber Lago)
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O MAR, O RIO E A POESIA
Diante do mar
a sensação que me vem
é de poder, de força, da imensidão
do domínio das águas
sobre este planeta
que o astronauta,
ao vê-lo de cima,
definiu com o uma bela bola
t oda azul...
Olhando um pequeno rio,
eu sinto a suavidade
de água mansa a correr
para pagar seu tributo
ao mar imenso,
enquanto ele faz brotar em mim
pequenas fontes
em que tento saciar
minha sede de poesia...
Quanto à poesia,
a sensação que ela me causa
é de quanto sou vazio,
ante a plenitude de tudo
que ainda não consigo enxergar...
(Kleber Lago,
Ouros Momentos)
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A PONTE
De
cima da ponte
Eu
olho o presente
Que
a vista alcança,
Volto
ao passado
A
que lembrança me leva
E
enxergo o futuro
Que
sonho para minha terra.
A
ponte é o cordão umbilical
Que
continua ligando mãe e filha.
Sobre
ela, a dinâmica da vida
No
girar de rodas,
No
vaivém de passos,
Apressados
ou lentos,
De
pessoas que caminham
Ou
mesmo se arrastam,
Que
se encontram e se misturam,
Que
se abraçam e se confirmam
Como
um único povo,
A
buscar horizontes iguais
Em
qualquer dos lados
Ligados
pela ponte.
Por
baixo da ponte
Passa
um rio de águas mansas,
Motivo
de poemas e canções.
Um
rio preexistente
Ao
nascimento da mãe,
Por
conseguinte, ao seu parto...
E
me parece um rio ainda feliz,
Que
sente mãe e filha unidas
No
mesmo amor por ele,
Juntas
nos mesmos lamentos
Por
vê-lo estreito, raso
E
quase despovoado,
Teimando
em resistir
À
ação dos predadores.
(Kleber Lago, Outros
Momentos)
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SUBLIMAÇÃO
Olhos, boca, mãos,
Tudo em estado de deliciosa loucura,
Ao calor de nossos corpos
Que se entregam e se conjugam,
Que se desmentalizam e se desalmam
Para que o amor nos leve a transcender
A normalidade dos sentidos,
Num turbilhão de prazer
Que tanto dispensa lógica e nexo,
Quanto nos libera de pronunciar
Palavras articuladas,
Porque suspiros e gemidos
Bastam para exprimir
As nossas sensações...
(Kleber Lago)
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E N Í G M A S
Há sempre um dia na vida
em que o homem se vê diante da Esfinge,
a exigir-lhe que desvende
os próprios enigmas,
e vem aquela angústia da busca por ajuda
no Édipo interior que não aparece,
fazendo-se nele um silêncio
que se junta a todos os seus outros silêncios,
sem que nenhum abra a boca
para socorrê-lo,
enquanto o monstro vocifera:
– Decifra-te, ou te devorarei!
(Kleber
Lago,Outros Momentos )
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BECOS DE SÃO LUÍS
Becos, de chão coberto de cantaria
Vinda do outro lado do oceano,
Onde os cumprimentos
Podiam ser trocados das janelas,
E em voz baixa!...
Becos que inspiram canções
Sobre um tempo, em cuja lembrança
Não se ouvem sons de motores
Nem de altos falantes,
Mas o "toc-toc" de chamatós,
Os pregões musicados
De vendedores de frutos do mar
E de frutas da Ilha,
E as cantigas de sorveteiros equilibristas
Com suas tinas verdes na cabeça!...
Becos que sobem ladeiras em curva,
Que nos cansam os pés,
Mas nos compensam
Com a sombra dos casarões sem calçadas
Que, mesmo em lados opostos,
Quase conseguem se dar as mãos!...
Becos em que às vezes me embrenho,
Na busca de encontrar
Fantasmas do muito que ouvi contar
E do pouco que ainda pude ver!..
(Kleber Lago)
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...E ASSIM ACONTECEU
Não foi preciso
que saísse de minha boca
uma única palavra:
os apelos do meu silêncio
foram mais que suficientes
para que entendesses
o que eu pretendia te dizer
e o que eu realmente desejava,
quando um empalidecer da ousadia
tornou-me inerte e mudo,
diante de ti.
E tu me puxaste pelos braços,
fizeste-me sentar sobre tuas coxas
e, apoiando minha cabeça
na concha de uma de tuas mãos,
provocaste a troca daquele beijo,
abrindo todos os caminhos
para um fluxo de carícias mútuas,
em que silenciosos nos deixamos ir
até o estuário de delícias,
onde cada um de nós, um pleno do outro,
sentiu que se quebrou o silêncio do momento
pelo tilintar de sinos tocados por anjos
à luz de explosões imaginárias
de mil estrelas multicoloridas,
só voltando a ser silêncio
para o merecido repouso
de nossos corpos, saciados de prazer,
sobre um monte de lençóis desarrumados...
(Kleber Lago)
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POR UM SORRISO
EM TEU ROSTO
Não me tem sido difícil
Satisfazer teus
desejos,
E faria o
impossível
Por um sorriso
em teu rosto.
Por exemplo, se
algum dia
Tu me pedisses
estrelas,
Eu tenho plena
certeza
De daria meu
jeito
De trazer um bom
pedaço
De céu pra junto
de mim.
Então, dentre as
mais brilhantes
Das estrelas que
viessem
Nesse pedaço de
céu,
Escolheria as
mais belas
Para ofertá-las
a ti.
(Kleber Lago, Outros Momentos)
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SONHAR
É fascinante, mais do que envolvente
poder levar o pensamento além
daquilo que se é, do que se tem,
do que se pode ver diante da gente!...
A doce sensação de pôr a mente
livre de toda amarra que a retém
presa à mediocridade que convém
só mesmo a quem não pensa em ir em frente!...
Sonhar!... O verbo quanto o ato são
sublimes, mas não deixe, enquanto sonha,
que o encantamento do seu sonho o engrade,
pois todo sonho tende a ser em vão,
sempre que o sonhador não se disponha
a transformá-lo numa realidade.
(Kleber Lago,
Outros Momentos)
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Mais uma vez agradeço a atenção dos leitores, com um abraço carinhoso.
Kleber Lago
"Escrevo versos, componho poemas, não faço poesia." Você sabe caro Poeta, o quanto essa expressão agride meus ouvidos... Porém vou lhe perdoar mais por essa vez... E que a Poesia nunca te abandone!!!
ResponderExcluirMinha querida Ana, mas na verdade eu não a faço: ela existe, por si só,em tudo... Apenas a vejo, a sinto e tento exprimi-la nesses versos medíocres que escrevo e repasso.
ExcluirA poesia pode, inclusive, ser encontrada em um poema. A poesia está em muitas outras coisas, e pessoas. Mas, nem todo poema traz, na sua essência, a poesia. Às vezes são apenas palavras produzidas em versos, que alguns classificam de poesia, e como produtores desses mesmos versos passam a se autodenominar de poetas. Se considerarmos que poeta é aquele que produz versos, poemas, tudo bem. Mas se poeta for aquele que descortina a poesia existente por meio de versos, de poemas, de prosa, esse, a meu ver é, sim, um poeta.
ResponderExcluirAliás, antes de autointitular-se poeta (digo isso àqueles que acham que "produzem" poesia), melhor seria que os destinatários dos poemas lhes conferissem o título de poeta, e que não partisse de uma autoproclamação: -- sou poeta. À exceção de Cecília Meireles, quando diz, em Motivo: "Não sou alegre nem sou triste:/sou poeta." E aqui o disse em meio a abundante poesia.
Não costumo responder a comentários anônimos, salvo quando desafiam o pouco de inteligência que imagino ter. Mas a esse, escrito por alguém que faz bom uso da língua e mostra dominar o assunto sobre o qual comenta, vou dar uma sucinta resposta, declarando que concordo plenamente com tudo o que nele se acha contido.
ExcluirCreio saber de quem partiu o comentário, que também é uma espécie de lição para aqueles a quem se destina. De minha parte, felizmente, há muito já a aprendi, tanto que, apesar dos longos anos no exercício da escrita e do apelido de poeta que muitos me atribuem, continuo a considerar-me um fazedor de versos, um compositor de poemas, nos quais, às vezes, até consigo exprimir a poesia que imagino enxergar em algo, em mim e em outrem.
A única discordância é quanto ao anonimato em que preferiu manter-se o comentarista. Da próxima vez, meu caro... (quase revelo o suspeito nome), assine. Ninguém pode ser execrado por emitir opiniões oportunas e verdadeiras. Um abraço!
DISCUTIR SE O MEU NOBRE AMIGO E CONFRADE KLEBER LAGO É POETA, OU NÃO, É A MESMA COISA QUE DUVIDAR SE ÁGUA É MOLHADA OU SE GELO É FRIO.
ResponderExcluirSE ESSE CONTERRÂNEO NÃO FOR UM AUTÊNTICO E VERDADEIRO POETA, COM CERTEZA AINDA NÃO INVENTARAM A POESIA.
JOAQUIM FERREIRA FILHO
RUA CORINTO NASCIMNTO, 39 - GOIABAL - PEDREIRAS/MA
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