(Imagem: pedrasverdes)
MEARIM
Eis aí um rio
Tão cheio de encanto,
De correr macio
Doce de se ver.
Nele quem vier
Buscar o lazer
Fartar-se-á de tanto
Entretenimento.
Porém, quem fizer
Da água do seu leito
Fonte de alimento,
Vá pescar, e deixe...
Pois que, com certeza,
Verá satisfeito
Que na sua mesa
Sempre haverá peixe.
Basta ter cuidado,
Ser muito zeloso
Com a coisa nossa,
Para que assim
Nosso Mearim,
Tão ameçado,
Preservar-se possa
Belo e dadivoso.
Como não me sento com determinaçao específica para escrever, e o faço despretensiosamente
apenas quando encontro um motivo
qualquer que me inspire a fazê-lo, eu não me dei conta do quanto escrevi, em
quantidade de poemas, desde a publicação do meu útimo livro. Assim, na postagem
anterior, com o título de Poemas das Últimas Colheitas I,
reuni alguns dos meus útimos escritos em verso, prometendo continuar a mostra
em outra postagem com o mesmo título. É o que estrou fazendo, mas uma visita
aos meus arquivos me indica que serei forçado a deixar muitos poemas a espera
de sua vez, em outras postagens que virão depois desta.
SE TE FALTA O SORRISO
Se me abres um sorriso.
isso me leva a sentir-te
como um botão que eclode
e se faz rosa.
Se te manténs
sorrindo para mim,
eu te imagino
rosa imarcescível.
Mas se o sorriso
some do teu rosto,
parece-me ver murcharem
as pétalas macias
de minha rosa predileta
e senti-las caírem,
uma a uma, pesadamente,
sobre minha alma
que aos pouco vai morrendo,
da provável tristeza
que te levou o sorriso...
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NEM IMORAL, NEM IMPURO
Misturar o doce de teus lábios
ao sabor salgado
do suor que brota
dos poros de teu pescoço,
em gotículas quase imperceptíveis!...
Acariciar-te os seios túmidos
e fazer teu corpo inteiro
vibrar de desejo,
a exalar o cheiro natural
de fêmea no cio!...
Sentir tuas unhas
arranhando com suavidade
a pele de minhas costas,
à medida que nos damos
à busca recíproca desse tipo de prazer,
não inventado por nós
e que nada tem de imoral e impuro,
por ser apenas o que de mais agradável
Deus nos concedeu, para a satisfação
desse nosso pedaço de criatura humana
concebido carne!
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RISO E CHORO
São reações
opostas que a pessoa
pode sentir, de
forma até serena,
conciliando a
hora e a vez que em cena
deve entrar
cada uma, numa boa.
Pois, no comum,
juntá-las só destoa
a cena, e tudo
então se desengrena,
prova de que
nem sempre vale a pena
rir e chorar ao
mesmo tempo, à toa.
O sorriso
reflete o estar contente;
o choro, a dor.
Contudo, há um instante
em que esse
oposto não se evidencia.
E isso acontece
apenas quando a gente
viive uma
experiência fascinante,
em que sorri e
chora de alegria!
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O PASSAPORTE
Só tinha o Sebastião,
Além da vida e do nome,
Uma redinha, uma bilha,
E um mau cheiro de virilha,
Causado por comichão
Do tipo que nunca some.
Quando a rede se rasgou,
Passou a dormir no chão;
Quando a bilha se quebrou,
Juntou sede à sua fome...
Então, ele foi embora
Para o céu, porém na hora
Em que chegou à entrada,
Pela doce voz divina
Teve a passagem barrada:
Para entrar, vás ter primeiro
De passar o dia inteiro
Banhando naquela tina
Até que saia o mau cheiro.
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POVO
Não quero o palco,
Sim a plateia...
Ser um simples anônimo
Misturado à multidão
Que aplaude ou vaia
As estrelas em busca de luz,
Que sabe dizer o sim ou o não
Exigido pelo momento...
Gosto de me sentir uma peça,
Minúscula, mas ativa,
Dessa máquina poderosa e grande
Que se chama POVO!
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SONETO
DO NOSSO AMOR
É raro amor como o do nosso caso,
Mais do que fontes de água num deserto...
Não te achei nem me achaste por acaso,
Foi Deus que nos uniu, disso estou certo.
E eu, que dos sonhos já mirava o ocaso,
Meio perdido num caminho incerto,
Ao te encontrar, mesmo com certo atraso,
Logo senti meu sol de novo aberto.
Se Deus nos elegeu para compor
Um bom modelo de casal perfeito
Cujo esteio da vida seja o amor,
Ele – que tudo pode e tudo sabe –
Pelo bem que nos quer, vai dar seu jeito
De não deixar que o nosso amor se acabe.
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QUATRO MOMENTOS
Ilusão
Foi imaginar que ela
Entendesse o poema mais sincero
E mais intenso em sentimento,
Que fiz em três palavras:
EU TE AMO!
Decepção
Foi ouvi-la declamar-me
O mesmo poema,
Friamente adulterado
Por um “NÃO” de gosto amargo,
Entre o pronome e o verbo...
Satisfação
Foi quando tu me ouviste,
Puseste ternura na voz
E me repetiste meu poema
Inserindo um “TAMBÉM” de doce tom,
Em seu final.
Felicidade
É hoje perceber sinceridade
E prazer que não cansa,
Na repetitiva reciprocidade
De nós dois nos declamando o velho poema
Em nosso dia a dia.
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BUQUÊS
Aos poucos vão murchando
as rosas
Do buquê que não te dei,
por timidez.
A cada pétala que se
desprende e cai,
Sinto que também murcha
em mim
Um pedaço da esperança
de um dia
Poder ainda criar
coragem
De te enviar uma
mensagem de amor,
Presa a outro buquê
De rosas vermelhas.
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CADA PALAVRA EM SEU TEMPO
Tudo
tem seu tempo certo
Em
nosso tempo de vida.
Há,
pois, tempo de negar,
Tempo
de duvidar,
Tempo
de afirmar...
Por
isso, use sempre NÃO,
Caso
pretenda expor uma recusa,
Para
evitar depois
O
arrependimento de ter dado aceite
A
algo indesejado.
Nunca
tente, também,
Esconder
num TALVEZ
A
intenção de um SIM
Para
não vir a lamentar
Ter
sentido medo
Num
instante que pedia
Afirmação.
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SORRISO
Durante minha humana travessia,
tenho mostrado ao mundo meu sorriso,
sem precisar tocar o menor guizo
de algum tipo fingido de alegria.
Ser triste é algo que não caberia
dentro do mundo que eu idealizo;
por isso, trago em mim e verbalizo
o meu modo de ser, no dia a dia.
Cada sorriso que me vem ao rosto
é um poema escrito por minh’alma
para falar do meu contentamento
em ser assim e estar vivendo a gosto
uma vida, ora intensa e ora calma,
porém feliz, momento por momento!
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SEM ALMA
Caso um dia neste mundo
eu venha encontrar alguém
que mastigue fel
para não perceber os bons sabores,
não toque em nada
para não descobrir
sensações e formas pelo tato,
cubra os olhos ao belo visual,
feche os ouvidos aos sons,
tape o nariz aos odores, e...
que não seja capaz de amar
e receber amor,
decerto entenderei
tratar-se (ainda) de pessoa humana,
mas que, em vez de alma, tem em si
uma essência instintiva
de plena ou quase plena
insensibilidade.
|
VONTADE EXPRESSA
Quando eu morrer,
Pouco importa quantos anos eu tenha,
Peço que me enterrem o corpo
Vestido numa bermuda
E numa camisa “pólo”.
Não se esqueçam de pôr-me, também,
Um boné na cabeça
E de calçar-me os pés
Com um par de sapatilhas macias,
Sem meias.
É como gosto de andar
E como quero que minha alma
Chegue ao céu
Para ouvir São Pedro dizer:
- Entra, garoto, fica à vontade!
Teus amigos te esperam
Para o bate-papo
E a cervejinha gelada.
|
Mais uma vez
agradeço, com aquele abraço de sempre, a atenção dos leitores a este blog.
Muita paz e muita luz a todos!
Kleber
Lago
© Kleber Cantanhede Lago
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