(Imagem importado do Google)
Hoje, reservei o espaço deste blog para mais
um capítulo do poema-livro Os Loucos de Minha Terra, dedicado a
PEQUAPÁ (Raimundo Pires), uma das saudosas figuras que fazem parte da história pedreirense,
dentre tantas outras personagens que se folclorizaram, enchendo de alegria o
passado da Princesa do Mearim.
XIV – Pequapá
De casa, ainda menino,
eu ouvia: – O home é o Lino*!...
Conhecia muito bem
aquela voz, que seguia
cantando e logo dizia:
– Genésio Rego* também!...
Era só mais um Raimundo
dos que existem neste mundo...
Ao mudar-se para cá,
já veio rebatizado
e ficou sendo chamado,
simplesmente: Pequapá.
Do apelido, eu não achei
a origem. Contudo, sei
que
chegou a nossa terra,
de repente. Por sinal,
logo depois do final
da Segunda Grande Guerra.
Na Itália, esteve na linha
de frente como pracinha.
E, segundo me foi dito,
regressou a Teresina,
doido e entregue à própria sina,
quando acabou o conflito.
Depois, saiu Pequapá
de trem até Coroatá.
Dono de pernas ligeiras,
dali, vindo a pé e só,
passou por Peritoró
e terminou em Pedreiras.
Muito embora disso não
exista confirmação,
pouco importa o que se pense,
já que aqui quero tratar
mais da vida singular
do Pequapá pedreirense.
O louco pobre, não tolo
como foi Come Miolo*
que, mesmo tendo um padrinho
sempre disposto a ajudá-lo,
morreu seco como um talo,
tuberculoso e sozinho.
Pequapá, de médio porte,
tão ativo quanto forte
e exímio mergulhador,
quando sóbrio, era discreto
meio tímido, correto
e cheio de bom humor.
Entre ele e o velho rio
existia um amasio
tão gostoso de se ver!
Mergulhar no Mearim
deu-lhe vida e fez-se, assim,
seu mais lúcido prazer.
Nos mergulhos, conseguia
o peixe de cada dia,
sem falar que outros achados,
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tais como anéis e cordões
caídos de embarcações,
lhe rendiam bons trocados.
Às vezes, se embriagava,
E, sem sentir, adentrava
uma loja ou residência.
Mas, repelido na hora,
tratava de cair fora,
sem nenhuma resistência.
E curtia a embriaguez,
por duas horas ou três,
exposto ao sol e ao calor,
pés descalços, costas nuas,
exibindo pelas ruas
atributos de tenor.
Seu canto tornou-se um hino
muito ouvido: – O home é o Lino!
Genésio
Rego também!
Lauro
Lages*, barbudinho;
Lauro
Lages, capuchinho,
perde no
jogo o que tem...
Pequapá mostrou seu canto
por vários anos, enquanto
pôde encher de pinga a pança.
Ouvi-lo depois, somente
através da voz silente
de uma saudosa lembrança.
Quando deixou a bebida,
dedicou a sua vida
mais aos mergulhos no rio,
tendo escolhido a figura
conhecida por Mucura*
para aquecê-lo, no frio.
Em Pedreiras há quem conte
que, ali debaixo da ponte,
onde morava o casal,
eles dois, sobre uma esteira,
transavam a noite inteira,
em gritaria infernal.
Hoje em dia, não se vê
o velho ninho porque
uma horrível construção,
inconvenientemente
levantada bem em frente,
nos tirou toda a visão.
Mas era lá o barraco,
onde, velho, enfermo e fraco,
se despediu de Pedreiras
seu maior mergulhador.
E o rio sentiu a dor,
chorando entre as barranceiras...
Pequapá foi, certamente,
o nosso irmão “diferente”
que mais nos deixou saudade.
Sem ele, resta um vazio
nas águas mansas do rio
e nas ruas da cidade...
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AJUDA AO LEITOR
Lino - O senador
Lino Machado.
Genésio Rêgo - O
também senador Genésio Moraes Rego (pedreirense).
Come Miolo -
Raimundo Franco de Sá, um maluco alcoólatra, afilhado de minha mãe e de meu tio
Bibi Cantanhede.
Lauro Lages - Rico
empresário que perdeu sua fortuna nas mesas de pife-pafe.
Mucura -
Mulher que bebia muito e era assim chamada em virtude do mau cheiro que exalava
de seu corpo. Já idoso, Pequapá a tomou por companheira.
Mais uma vez agradeço a
atenção dos leitores e reitero a minha intenção de manter a qualidade das
postagens deste blog.
Kleber Lago
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Como me lembro do Pequapá e desses refrões que cantava altas horas da noite. Quando morava em Pedreiras e minha mãe me visisitava, ficávamos imprecionadas com a memória do Pequapá. Ele sempre a cumprimentava. Gostei muito desta homenagem que você prestou, através de sua poesia a este personagem popular. Parabens.
ResponderExcluirParbéns pela homenagem. Em poucas linhas contou a história de um personagem que marcou a vida da maioria dos cinquentões. Quem não lembra do Pequapá? Já não morava mais em Pedreiras quando ele morreu, mais nunca saiu da minha memória aquele homem, quase sempre embriagado, andando da ponte para o Bar Mearim. Ele até podia fazer outros percursos, mais eu só o encontrava ali. E pega na carreira que lá vem o Pequapá.
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