segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Viagens para dentro e fora de mim - Postagem parcial IV


Esta é a quarta e penúltima postagem de textos do livro Viagens para dentro e fora de mim, contendo os poemas das páginas 65 a 76. Ainda nesta semana farei a última postagem, e o livro estará pronto para ser distribuído. 


           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim

 CONTEÚDO POEMÁTICO DESTA POSTAGEM

O MAIS BELO DOS SONETOS
65
ENQUANTO VALHA A PENA
66
DEMORADA ASSUNÇÃO
67
DIA DE FINADOS
68
O SONHO
69
O GRITO  |  QUADRINHAS PARA ELISA
70
CENAS QUE SE GUARDAM PARA SEMPRE
71
SÓ DO AMOR NÃO ME DESFAÇO
72
FOI ETERNO E VALEU A PENA
73
EM ATOS E PENSAMENTOS
74
CONCEITO PRESCINDÍVEL
75
IMPASSIBILIDADE  |  BUSCA
76




                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          65


O MAIS BELO DOS SONETOS


Eu chego a lamentar ter escondido
nosso caso – com medo da censura
de quem, por não provar igual ventura,
sempre inveja os que a tenham merecido.

Tivesse sido eu mais atrevido,
contando desde instantes de ternura
a momentos ardentes de loucura
e de prazer que os dois temos vivido;

pusesse eu do nosso amor tão lindo
os detalhes de todas as passagens
num conjunto de quadras e tercetos,

veria almas sensíveis aplaudindo
nossas virtudes como personagens
da história do mais belo dos sonetos.






                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          66

  ENQUANTO VALHA A PENA


Quando Cupido trouxe por mister
juntar-nos, também veio ele incumbido
de afastar o bom-senso de qualquer
poder de se fazer por nós ouvido.

Até então, não tínhamos sequer
suposto o que nos tem acontecido:
eu – contigo a enganar minha mulher;
tu – a trair comigo teu marido...

Se impura a relação, quem vai dizer
é Deus quando chegar a hora certa;
assim, aproveitemos o prazer

de, na sobra de vida tão pequena,
gozá-la e, embora não de forma aberta,
senti-la eterna enquanto valha a pena!





                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          67

 DEMORADA ASSUNÇÃO


Escrevendo (sem grande compromisso)
meus versos desde os tempos de menino,
eu nunca tive pretensão com isso
de tornar-me da escrita um paladino.

Também, não me deixava submisso
à espera por milagres do destino:
apenas divagava, e a partir disso,
versos fazia, em velho tom latino.

Em minha opinião, versejador,
de talento talvez, que satisfeito
versejava de forma ainda discreta,

até quando, inspirado pelo amor,
compus o meu poema mais perfeito
e pude me assumir como poeta.






                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          68

DIA DE FINADOS


É um dia
em que não fico triste,
não entoo cantos de dor
nem choro os meus mortos,
porque eles não me deram
motivos para lágrimas.

Simplesmente os cultuo
e, se no dia a eles consagrado,
eu lhes acendo velas
ao pé de seus túmulos,
isso é só um simbolismo
por força de tradição.

Meu culto a eles é perene,
e é de todos os dias
o meu pedido de luz
para suas almas.

 



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          69

           O SONHO


Dentro de casa te ofendi à toa,
e tu, ao te sentires magoada,
numa atitude que de ti destoa,
de lá saíste, sem dizer-me nada.

Fiquei por uns instantes numa boa,
mas doeu quando, olhando da sacada,
vi que – com cara de quem não perdoa –
pegaste o carro em plena madrugada.

Ao sumires, me pus logo a supor
que havias decidido abandonar-me;
e eu já me achava num pesar medonho,

quando de súbito o despertador
fez-me acordar ao som de seu alarme,
a revelar-me que era só um sonho...




                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          70

O GRITO

Há um grito
que vem de dentro de mim
e que não consigo conter.

É mais forte do que o grito revoltado
contra o que causa revolta,
do que o grito de dor
pelas dores humanas,
do que o grito de apelo
pela paz universal...

É o grito do amor
que se solta de meus olhares
quando fito os teus olhos;
e que, apesar da intensidade
de milhões de decibéis,
a eles te mostras surda.
                     
QUADRINHAS PARA ELISA

Amor – para bem dizer –
de palavras não precisa,
porém se eu fosse escrever
um poema para Elisa,

seria o da voz do irmão,
em linguagem bem singela,
gravando em cada expressão
o amor que sente por ela.


                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          71

 CENAS QUE SE GUARDAM
             PARA SEMPRE

Noto que a lua cheia, tão bonita,
elegante, luzente, sem tropeço,
pelo céu estrelado hoje transita
muito mais clara, quase cor de gesso.

Visão igual jamais achei descrita
em versos de poetas que conheço;
e seu fascínio é tanto, que me incita
a preservá-la em mim, com grande apreço,

com outro quadro que guardei na mente:
teu alvo rosto realçando em ti
ternura e singeleza, e eu de repente,

numa atitude própria de poeta
romântico, a dizer que te elegi
meu grande amor e musa predileta!



                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          72

SÓ DO AMOR NÃO ME DESFAÇO


Já me desfiz dos mais ricos
dos meus bens materiais,
fechando as portas da alma
aos apelos da vaidade.

Renunciei aos meus sonhos
impossíveis de alcançar
e joguei fora a arrogância
para encher-me de humildade.

Incinerei meus desejos
de sucesso, fama e glória
e as cinzas deixei que os ventos
carregassem para longe.

Consegui me liberar
de pesos interiores
que estavam deixando curvos
os ombros do meu espírito.




                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          73

 FOI ETERNO E VALEU A PENA


Foi amor proibido, isso é tão certo
quanto certo é que dois mais um são três,
mas entre nós foi sempre claro, aberto,
e muito bem às nossas almas fez.

Um sonho em que o real estava inserto,
atos carnais além da sensatez,
não nos passando o pensamento perto
da mais ínfima ideia de talvez!...

Só que certo temor a “sacrifícios”,
de repente, nos fez sair de cena
e imaginar que o sonho se acabou.

Mas sabemos (e aqui lembro Vinícius)
que foi eterno e nos valeu a pena
durante o curto tempo que durou.




                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          74

 EM ATOS E EM PENSAMENTO

Sou cultor de teu corpo
e grande beneficiário
de suas dádivas.

Inebria-me o cheiro de tua pele,
delicia-me o sabor dos beijos
com que premias meus lábios,
apraz-me agasalhar os teus seios pequenos
nas conchas de minhas mãos,
e eu me sublimo nos rituais de amor
que vamos criando e cumprindo
para chegarmos aos extremos do prazer,
quando dividimos uma cama.

Nos dias em que não estás comigo,
eu te imagino presente,
e minha mente vai reencontrando,
reconstruindo ato por ato,
instante por instante de nossos encontros,
numa reprodução nítida
de nossos corpos ardentes
em recíproca e plena entrega
e dos sons de nossos lascivos gemidos.

E essa mentalização é como um filme
que passa em sessões repetidas
e a que nunca me canso de assistir!


                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          75

 DEMORADA ASSUNÇÃO

Escrevendo (sem grande compromisso)
meus versos desde os tempos de menino,
eu nunca tive pretensão com isso
de tornar-me da escrita um paladino.

Também, não me deixava submisso
à espera por milagres do destino:
apenas divagava, e a partir disso,
versos fazia, em velho tom latino.

Em minha opinião, versejador,
de talento talvez, que satisfeito
versejava de forma ainda discreta,

até quando, inspirado pelo amor,
compus o meu poema mais perfeito
e pude me assumir como poeta.




                           Kleber Lago - Viagens para dentro e fora de mim          76

IMPASSIBILIDADE

A terra de seu coração
ficou seca e desenhada
de rachaduras.

Ali não mais caíram
chuvas de sentimentos
não mais germinaram
as sementes do amor,
não mais voltaram folhas
aos galhos do desejo...

E tudo se refletia
num rosto em que se acentuavam
as marcas da insensibilidade
de quem se tornou capaz
de assistir impassível
ao êxodo das próprias emoções.

BUSCA

Sou, sem qualquer dúvida,
um perscrutador de mim,
mas a minha busca
é por algo essencial
de que alguém superior
dotou-me interiormente.

Quero trazê-lo para fora,
materializado
em palavras e atos,
para que, enquanto vivo,
eu consiga ser visto
no EU que ainda não sou.


Mais uma vez agradeço a atenção dos queridos leitores e os abraço com muito carinho.

                                       Kleber Lago
© Kleber Cantanhede Lago