segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

DA LAVRA DE 2015 - MAIO



        Seleção de poemas compostos em maio/2015:         




O SONETO DO MEU GOSTO

Acato regras, mas não tenho escola
e gosto do soneto bem singelo
que não siga em caminho paralelo
ao de modelo que à beleza imola.

O soneto sem fraque e sem cartola,
que use bermuda e ande de chinelo
falando a língua em que se mostre o Belo,
sem rebuscar e sem “pisar na bola”.

Que guarde em si a musicalidade,
a doçura, a leveza e sempre agrade,
livre de um velho e trivial defeito:

revestir-se de arcaicas expressões,
incompatíveis com as emoções
do momento presente em que for feito
 __________
 
QUADRINHAS INSUSPEITAS

Não sei mais se está seguro
Em teu peito o meu espaço,
Pois sinto, se te procuro,
Que falta já não te faço.

Na rua, é mal te encontrar,
Queres logo dar-me as costas.
Convites ficam no ar
E mensagens, sem resposta...

Não és a mesma de quando
Adoravas meus carinhos,
E isso estou suspeitando
Como um descarte - aos pouquinhos.

Um abandono eu aguento
Sem tomá-lo por desfeita,
Mas não suporto o tormento
Que me causa tal suspeita.

Se é verdade o que suspeito
Só te peço sensatez:
Não mo faça desse jeito,
Melhor que seja de vez!

Poderei sentir tristeza
E cair minh’alma em pranto,
Porque, com toda certeza,
Eu te amei e te amo tanto!

Só não vou me magoar,
Fazer-te reclamações
E, tampouco, te indagar
Sobre prováveis razões.

Não garanto é esquecer
Que vivemos tu e eu
Amor de grande prazer
que, enquanto durou, valeu!
 __________

AMÁVEL DESPEDIDA

Eu dediquei a quem me trouxe à vida
versos de amor, sem mágoa, sem lamento,
louvando sempre o seu procedimento
na missão para a qual foi escolhida.

Veio o dia de sua despedida
(seguinte ao de marcar meu nascimento),
nós, filhos, a afirmar-lhe, em pensamento,
quanto a sua missão foi bem cumprida.

E ocorreu-me, num sentimento lindo,
ouvi-lhe a alma iluminada, em voz
de tom tão doce, nos dizer sorrindo

que, a chamado de Deus, ao Céu subia
para de lá melhor zelar por nós
com apoio da Mãe das Mães – Maria.


 (Imagem do Google)


HABITUALISMO

Nos versos de um soneto descrever
amores, sonhos, coisas corriqueiras,
tem sido para mim, nas sextas-feiras,
um hábito tão cheio de prazer!

Já deixo a pena no papel correr
livre, só tendo as margens por fronteiras,
desde bem cedo, logo que as primeiras
luzes venham no céu aparecer.

Se ela registra, mesmo sem que eu peça,
que quando ao receber algum favor
costumo dar em troca uma promessa,

há duas coisas que jamais prometo:
passar um dia sem falar de amor
e uma semana sem fazer soneto.
__________





TUDO BEM!

Ao te amar com todo o apreço
Que nas trovas apregoo,
Sei que tolo até pareço,
Mas sem bom senso não sou!

Eu venho tendo de ti
Atenção pouca e fugaz,
E há muito já percebi
Que tu não me queres mais.

O desenlace eu aceito,
Mas sem fugas: face a face,
Com ternura, assim do jeito
Como ocorreu o enlace.

Dir-me-ás, então, de frente,
Que foi tudo uma paixão
Louca, mas que, finalmente,
Ouviste a voz da razão.

Eu, sem mágoa, sem desgosto,
Sem qualquer ressentimento,
Com um beijinho em teu rosto,
Selarei o assentimento.

Em mim, de nossa cisão
Não ficará cicatriz,
Nem morrerá a emoção
De ter sido tão feliz.

E tu verás que, de fato,
Com toda sinceridade,
A ti sempre estarei grato
Por tanta felicidade.

Nosso amor valeu! No entanto,
Depois de por ti perdido
O que te inspirou de encanto,
Deixou de fazer sentido.

Morreu. Tudo bem! Deus faça
Que das cinzas desse amor
Nossa amizade renasça
E venha com mais vigor!

Saberei ser teu amigo
Sem deixar transparecer
Que já desfrutei contigo
Tanta loucura e prazer.

E nesse retorno ao antes,
Tanto podes como eu posso
Manter o tempo de amantes
Como segredo, só nosso.


__________
 

SONETO DO AMOR DESFEITO

De ti a ideia veio. Por sinal,
em face das razões, dei por aceito
retornarmos, em sendo o amor desfeito,
à amizade, de forma natural.

E assim se fez... Na hora, passei mal,
dando a impressão de estar insatisfeito,
mas logo procurei achar um jeito
de manter o equilíbrio emocional.

Deixei os meus sentidos desatentos
a máximas e a outros pensamentos
que, de ouvir desde a infância, sei de cor.

E cheguei, por mim mesmo, à conclusão
de que termos saído da ilusão
para a realidade foi melhor.


__________ 


 (Imagem do Google)

A LUZ DO TEU OLHAR

Sempre que a terna luz do teu olhar
atinge os olhos meus suavemente,
experimento uma emoção sem par,
em meio a tantas que minh’alma sente.

Um tipo de emoção tão singular,
que me invade de um jeito diferente,
tornando-me capaz de levitar,
em êxtase, de tudo mais ausente!...


Às vezes, tento descobrir a cor
com que a luz dos teus olhos me irradia
igual fascínio. Então, fico a supor


uma composição que o Criador
fez das cores do Sonho e da Poesia,
para pôr nessa luz a cor do amor.
__________



          Mais uma vez agradeço a atenção dos leitores.

Kleber Lago
  
© Kleber Cantanhede Lago


 

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