terça-feira, 22 de dezembro de 2015

DA LAVRA DE 2015 - JULHO

(Imagem compartilhada do Google)



Seleção de poemas escritos em julho de 2015:

POR FORÇA DOS IMPULSOS

Vivem meus pensamentos em viagem
ao mundo imaginário e, imaginando,
eu crio tanto que de vez em quando
exponho-me a criar muita bobagem.

Pois, quando crio, meus impulsos agem
de forma que me tiram do comando
de tudo, minha ideia explicitando
diversa do que eu quis, noutra montagem.

Como a de nós ante ao portal celeste,
de onde São Pedro te mandou voltar
por tudo que de amor tu não me deste,

o que me fez lhe recusar o abrigo,
lançar-lhe um frio e desdenhoso olhar,
virar-lhe as costas e voltar contigo...
________

PARA SABER COMO É SER TRISTE

Tentei passar um mês sem fumar,
uma semana sem te procurar,
um dia sem fazer versos...

Foi tudo em vão,
e não busquei razões
nem para as minhas tentativas,
nem para os meus insucessos.

Hoje vou tentar
passar uma hora
sem me sentir alegre.

Mas, nesse caso,
sei muito bem o porquê
de minha tentativa,
e torço pelo meu sucesso.

Se o conseguir, terei finalmente
satisfeita a curiosidade
de saber como é ser triste.
________

MESMO SÓ PARA LEMBRAR

Eu sei que em todo momento
raro em que agora eu a vejo,
sente que ainda alimento
por você muito desejo.

Nesse desejo tão louco
que dentro de mim não morre,
vou morrendo pouco a pouco,
e você não me socorre!

Vamos dar uma ”fugida”
daquelas de antigamente,
mesmo só para lembrar

o quanto valeu na vida
o pouco tempo em que a gente
soube, de pleno, se amar.
________

AME

Ao notar que sensação
de amor em seu peito aporta,
deixe que o seu coração
venha logo abrir-lhe a porta.

Não sendo possível opor
à voz do amor resistência,
ame, com muito fervor,
sem peso na consciência!

Embora o faça em segredo,
dê-se ao que quer, sem ter medo
e sem pensar em “mais tarde”.

Maior que o motivo seja,
negar-se ao que se deseja
é coisa de alma covarde.
________

BOM DIA

Por razões óbvias,
resisto à tentação
de dar-te um telefonema
ou de mandar-te uma mensagem
sob forma de trovinha.

Mas por amar-te demais
e só te querer o bem,
não consigo deixar de atender
ao apelo que me faz o coração,
para não permitir que chegue a manhã,
sem te enviar um - BOM DIA!

Não te esforces para entender,
pois isso exigiria de ti
que aprendesses primeiro
que o amor de verdade
não se sepulta junto
com a relação desfeita.
________

(Imagem compartilhada de Pedras Verdes) 


SEMPRE DESSE JEITO

Mal chego a minha terra, eu me abandono
ao prazer de viver cada emoção
até a hora de entregar-me ao sono
numa rede macia de algodão.

E quando de manhã escuto o sino
da Matriz, a saudade me balança
e me desperta dentro do menino
que carrego comigo na lembrança.

Tomo banho nas águas do seu rio
e, a brincar e correr, me demasio
por suas ruas planas e ladeiras

de chão sem calçamento (do passado),
na sensação de estar sendo levado
à infância que, feliz, tive em Pedreiras!
________

H A I C A I S

EM TUA AUSÊNCIA
Não cabem os ais
da saudade que me invade
em dez mil haicais.
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CONSTATAÇÃO
Eu já não consigo
ter no sexo prazer,
se não for contigo.
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VAZIO
Foi o que senti
no desprazer de viver
uns dias sem ti.
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ACEITAÇÃO
Eu te amar assim:
envolvida numa vida
não só para mim.
________


(Imagem com partilhada do Google) 


SOBRE FLORES E BORBOLETAS

Ao poeta José Chagas (in memoriam)

Nem todos são capazes
de perceber o encanto das flores,
embora sejam elas eloquentes
no silêncio em que se mostram vida,
em grande variação
de formas, cores e aromas.

Certa vez, já faz bom tempo,
eu ouvi de um poeta
que são as borboletas
as maiores fãs das flores,
que no bater das asas
as borboletas aplaudem as flores
e que quando pousam sobre elas,
não lhes pesam nem as ferem,
querendo apenas ser parte
de um cenário que fascine
e que provoque estesia...

Foi por eu estar pensando
nesse saudoso poeta
que flores e borboletas
invadiram minha mente,
numa espécie de cobrança
do meu reconhecimento
de que são admiradas,
por quem é sensível ao Belo,
em vida na natureza,
ou quando tornadas
expressão de arte
a caneta ou pincel.
________

AMAR A DOIS

Se acaso o amor a dois
Precisasse de razões,
Essas não seriam mais
Do que razões sem razão,
Apenas de natureza
Cordial, não cerebral.

Pois nesse tipo de amor
Tudo flui naturalmente,
Sem exigir distinção
Ou noção de certo e errado
Naquilo que se deseja
E no que a dois se pratica.

Amar a dois é o jeito
Recíproco e espontâneo
De o casal nisso envolvido
Equilibrar diferenças
Numa mesma corda bamba
Sem perceber que o faz...
________

SÓ PARA NÓS

Já tentamos exercer o direito
de nos separarmos,
mas parece que Deus nos impõe
o dever de estarmos juntos.

É como se tivéssemos sido feitos
de argila da mesma fonte
para marcar em nós a evidência
de insonte e permanente ligação,
por força da mesma matéria prima
com que fomos esculpidos.

Em relação ao nosso amor,
tornamo-nos o côncavo e o convexo
de encaixe perfeito
sem excesso e sem falta....

Números iguais, de sinais contrários,
que não se anulam na adição,
mas formam outro de valor quase infinito,
numa escala de prazer
que vai da ternura dos ingênuos namoros
à luxúria dos loucos amasios...

Não há o que discutir
sobre que de recíproca atração
é que o amor se manifesta,
mas no nosso caso,
chegou fortuitamente,
instalou-se sem pedir licença,
e tudo indica, já veio concebido
de maneira a servir só para nós,
que no jeito de amar somos iguais...
________

PREVISÍVEL DESFECHO

Sem ter por ideal vida futura,
os dois nos entregamos simplesmente
no intuito de recíproca ventura
em forma de prazeres, no presente.

De minha parte, dei-me com loucura
à bela relação que houve entre a gente,
na qual pequeno gesto de ternura
findava em conjunção carnal ardente.

Tive por ela uma paixão sem par;
porém, da parte dela, eu já previa,
mesmo lhe tenha sido prazeroso,

que tudo fatalmente ia acabar,
ao sentir que foi mera fantasia
que a pusera nos braços de um idoso.
________

Abraços aos leitores, com sinceros agradecimentos.

                                            Kleber Lago
 © Kleber Cantanhede Lago
  

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