Esta postagem reúne textos selecionados entre os que
escrevi em fevereiro e março de 2015 e já
publicados em outros canais.
Fevereiro
IMPASSIBILIDADE
A terra de seu coração
ficou seca e desenhada de rachaduras.
Ali não mais caíram
chuvas de sentimentos não mais germinaram as sementes do amor, |
não mais voltaram folhas
aos galhos do desejo...
E tudo se refletia
num rosto em que se acentuavam
as marcas da insensibilidade
de quem se tornou capaz de assistir impassível ao êxodo das próprias emoções. |
TRÊS INSTANTES
Agora,
deves guardar silêncio e escutar-me simplesmente; deixar-me dizer-te tudo o que te omiti sobre meus pensamentos, palavras e atos de que não foras o alvo; permitir-me revelar-te todas as minhas mentiras, fingimentos e traições ao longo desses anos.
Depois,
será a tua vez de livremente me fazeres |
as tuas confissões,
a que ficarei atento, sem buscar razões e sem questionamentos.
Mais
tarde,
deveremos considerar o que nos dissemos e, vestidos de sensatez, despidos de rancor e mágoa, teremos de decidir entre duas opções:
– ou nos perdoarmos mutuamente
num abraço de reenlace; – ou virarmos as costas um ao outro para o começo de um caminhar em direções opostas... |
CONCEITO
PRESCINDÍVEL
Se é sentimento, é para ser sentido,
e quando alguém me vem conceituá-lo, finjo que escuto, mas não dou ouvido, abro um sorriso e diante dele calo.
Quanta felicidade tenho tido,
quanto fascínio, e quanto me regalo de os chamados do amor ter atendido e poder falar dele como falo!
Dizer que ele prescinde de conceito;
que só senti-lo já nos mostra o jeito como ele atua dentro da alma humana,
causando sensação tão doce e boa
mesmo à mais dura e rústica pessoa, que ao ver-se terna, disso até se ufana. |
DROGADO
Sempre que pega algum trocado micho,
daqui da rua certas horas some para comprar a droga que consome, mas logo volta, feito um homem-bicho.
Nele atua a má sina com capricho:
sob efeito da droga, esquece o nome e até se serve, quando está com fome, dos restos de comida que há no lixo.
É simplesmente um ser que subsiste
no curso de uma vida louca, triste, em que de humano já não restam traços.
E para ele o mundo é algo estranho,
sem sentido, sem forma, e do tamanho que cabe seu vaivém de poucos passos... |
CARINHO NÃO TEM PREÇO
Não houve grandes comemorações,
mas sou grato e o serei eternamente a quem de perto e a quem embora ausente trouxe, ou mandou-me felicitações.
Foi um dia de
fortes emoções,
pois que cada lembrança é um presente que muito mais valor tem para a gente que o valor monetário dos milhões.
O preço do
carinho não tem preço,
e ao receber carinho, reconheço que para mim seria um sofrimento,
o mais atroz de
todos os castigos,
se – em carinho – aos parentes e aos amigos não expressasse este agradecimento. |
PARCEIROS
Ele” e eu – um exótico
dueto:
o poeta, inventivo, organizado; e eu não passando de um descompensado em razão das loucuras que cometo.
Somos opostos, como o
branco e o preto,
diferentes em tudo, lado a lado, e apesar disso, certo até tem dado a parceria, mesmo no soneto. Sem eu contar, ninguém suspeitaria ser “ele” realmente o criador dos “meus” sonetos cheio de poesia, porquanto o meu papel na parceria não é outro, senão o de transpor para o papel aquilo que “ele” cria. |
Março
B
U S C A
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Sou, sem qualquer dúvida,
um perscrutador de mim, mas a minha busca é por algo essencial de que alguém superior dotou-me interiormente. |
Quero trazê-lo para fora,
materializado em palavras e atos, para que, enquanto vivo, eu consiga ser visto no EU que ainda não sou. |
RECUSAS
Ontem te
convidei para um passeio,
porém tu recusaste o meu convite, e na desculpa que me deste, veio a alegação de crise de rinite.
Hoje vou te
propor um dia cheio
de carinho e prazeres, sem limite, mas estou, em verdade, com receio de que me alegues uma encefalite.
Cada vez que
me negas teu carinho
toda a alegria de minh’alma some, e então me sinto como um bebezinho
que se
contorce dentro do seu leito
e em pranto denuncia a dor da fome, enquanto a mãe fica a negar-lhe o peito. |
SÓ NÃO HÁ
JEITO PARA A MORTE
Há vezes em
que a sorte chega a nós
e abre um sorriso; há outras, em que muda e mais parece impiedoso algoz a nos mostrar a face carrancuda.
Temos a
sensação de estarmos sós;
o medo do fracasso a nós se gruda e nos tolhe de suplicante voz mandar a quem nos possa dar ajuda.
Passei por
isso, e tive de ser forte
para fazer a Deus o meu pedido, pois não há jeito apenas para a morte.
E como Deus
nos dá por outras mãos,
o que eu pedi está sendo atendido pelas bondosas mãos de alguns irmãos. |
CICLO
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Na terra eclode a semente,
tenra plântula germina, entra em fase de medrança e, enfim, se torna roseira.
Nos galhos surgem botões
que em rosas, então, se abrem, dando ao ar os seus aromas e encanto aos olhos da gente.
Mas rosas são marcescíveis
e, como tudo o que vive, vivem tempo limitado de vida, dentro da vida. |
Perdem beleza e perfume,
sem prejudicar o ciclo, porque, mesmo quando murchas, úteis ainda se fazem,
no estágio em que se
desprendem
delas as pétalas secas que ajudarão, com certeza, a fertilizar o solo,
onde caíram também,
no curso da marcescência, sementes para o processo de novas germinações. |
QUANDO FALTA EMOÇÃO
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se à mente me chega um tema,
Meu “eu poeta” entra em cena, E eu tendo na mão a pena, Passo a escrever o poema.
Quando o papel fica cheio
De versos metrificados, Bem escritos e rimados, Largo a pena e a tudo leio.
Durante minha leitura,
Vou buscando, aqui e ali, Emoções no que escrevi, Tudo com muita lisura. |
Se não as
acho, só faço
O que me pede o momento: Sem nenhum ressentimento, O papel escrito amasso.
Pois penso, de
forma fria,
Que quando o poema não Provoca alguma emoção É porque não tem poesia.
Mesmo escrito
com capricho,
Se poesia ele não tem, O lugar que lhe convém É, mesmo, o cesto de lixo. |
À DERIVA
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Não é que eu seja mau velejador,
sou apenas desleixado e não posso velejar sozinho, sem te ter por bússola a indicar o meu norte e por luz que não me deixe desviar de rumo.
Por um impulso fui levado
a navegar por mar desconhecido |
sem a tua companhia,
e simplesmente paguei pela minha imprudência: tombou o mastro sob ventania e o leme espatifou-se nos abrolhos.
Num barco à deriva,
sem vela e sem leme, é como me sinto agora não te tendo comigo... |
VOOS POÉTICOS
Não nego, Deus
me fez ser inspirado
para ver e sentir toda a poesia que humildemente tenho explicitado, como sendo um lazer no dia a dia.
Quando escrevo
me sinto extasiado,
e minha pena cresce, na estesia que me inspira um poema musicado com notas de tristeza ou de alegria.
Dessa maneira,
se meu canto entoo,
às vezes chego a perceber-me em voo por espaços bem altos na amplidão.
E o meu tempo
de voo até a volta
só depende da força com que solta suas asas a minha inspiração. |
AUTODESCRIÇÃO
Nunca deixando
a mente submissa
a qualquer sentimento torpe e estreito, eu só pretendo estar presente à liça, sem qualquer intenção de ser perfeito.
Normalmente,
me sinto satisfeito,
mas se algo injusto minha alma atiça, sem dar explicações me tenho feito um rival ardoroso da injustiça.
Se é contra os
outros, fico revoltado;
se é contra mim, não sei dizer por que, meu protesto é um tanto comportado.
E quando tudo
está me sendo avesso
rogo ao Senhor apenas que me dê, em proteção e apoio, o que mereço. |
Espero que façam uma boa leitura e, de
já, manifesto meus agradecimentos aos amigos s leitores deste blog.
Kleber Lago
© Kleber Cantanhede Lago
Se é para admirar beleza, não nego minha presença.
ResponderExcluirMáximo Figueira
Não deixo de vir aplaudir.
ResponderExcluirProfª Rita