quinta-feira, 12 de novembro de 2015

DA LAVRA DE 2015/JANEIRO




Eis alguns poemas de minha lavra de 2015/janeiro, selecionados para esta postagem. Uma boa leitura!


CAMINHANDO SEMPRE


Foram muitas caminhadas
pelas estradas da vida,
e hoje, com setenta e três,
respeitados meus limites,
ainda solto meus passos,
de volta a chãos já pisados
ou rumo aonde não fui.

O caminhar pela vida
vale a pena para o homem
enquanto a alma o deseje,
e pouco importa que o corpo,
sentindo o peso dos anos,
só lhe permita fazê-lo
devagar, a passos lentos...

Continuo a caminhar,
feliz, descomprometido


com vaidades e ambições,
deixando o vento levar-me
aonde queira o pensamento,
para refazer percursos
ou descobrir novas trilhas.

De volta a chãos já pisados
por mim, revejo as vitórias,
como também os fracassos
que tive e que me ensinaram
a corrigir certos erros
e a criar boa estratégia
para aplicar noutra luta.

Ao ir aonde não fui,
já não busco fama ou glória:
sim, tomar novas lições,
colher mais conhecimento
para pôr em meus vazios
que, quanto mais eu preencho,
maiores ficam em mim.



EM ATOS E EM PENSAMENTO

Sou cultor de teu corpo
e grande beneficiário
de suas dádivas.

Inebria-me o cheiro de tua pele,
delicia-me o sabor dos beijos
com que premias meus lábios,
apraz-me agasalhar os teus seios pequenos
nas conchas de minhas mãos,
e eu me sublimo nos rituais de amor
que vamos criando e cumprindo
para chegarmos aos extremos do prazer,

quando dividimos uma cama.

Nos dias em que não estás comigo,
eu te imagino presente,
e minha mente vai reencontrando,
reconstruindo ato por ato,
instante por instante de nossos encontros,
numa reprodução nítida
de nossos corpos ardentes
em recíproca e plena entrega
e dos sons de nossos lascivos gemidos.

E essa mentalização é como um filme
que passa em sessões repetidas
e a que nunca me canso de assistir!...



  CENAS QUE SE GUARDAM
             PARA SEMPRE

Noto que a lua cheia, tão bonita,
elegante, luzente, sem tropeço,
pelo céu estrelado hoje transita
muito mais clara, quase cor de gesso.

Visão igual jamais achei descrita
em versos de poetas que conheço;
e seu fascínio é tanto, que me incita
a preservá-la em mim, com grande apreço,

com outro quadro que guardei na mente:
teu alvo rosto realçando em ti
ternura e singeleza, e eu de repente,

numa atitude própria de poeta
romântico, a dizer que te elegi
meu grande amor e musa predileta!


   FOI ETERNO E VALEU
                  A PENA

Foi amor proibido, isso é tão certo
quanto certo é que dois mais um são três,
mas entre nós foi sempre claro, aberto,
e muito bem às nossas almas fez.

Um sonho em que o real estava inserto,
atos carnais além da sensatez,
não nos passando o pensamento perto
da mais ínfima ideia de talvez!...

Só que certo temor a “sacrifícios”,
de repente, nos fez sair de cena
e imaginar que o sonho se acabou.

Mas sabemos (e aqui lembro Vinícius)
que foi eterno e nos valeu a pena
durante o curto tempo que durou.



           APENAS POETA

Se a Poesia me inspira o amor por tema,
sigo um hábito meu, já muito antigo:
torno-me personagem de um poema,
e conter meus impulsos não consigo.

Assim, versejo sem prender-me à algema
da censura e sem ver qualquer perigo
de provocar um conjugal problema
que afete tua relação comigo.

Sou só poeta, não quero desfeita
nossa união, quando a escrever me excedo,
nem que vivas em clima de suspeita.

Por não ferir-te, se eu buscasse acesso
a novo amor, faria isso em segredo;
e o que faço em segredo não confesso.


           PLANTADOR

Fiz-me ativista e dediquei-me a planos
com vistas a lutar pela melhora
das condições de meus irmãos humanos,
contra os quais a injustiça inda vigora.

Até bem perto dos sessenta anos,
não fui quieto como estou agora,
e usei, às vezes, métodos insanos
para espalhar ideias vida a fora.

Fui um cultivador de sonhos, sim;
enquanto o fui, mostrei a muita gente
como plantar sementes de esperança.

Sei que colhi bem pouco para mim,
mas vendo os que ensinei, fico contente
com cada um que melhor safra alcança.



SÓ DO AMOR NÃO ME         DESFAÇO

Já me desfiz dos mais ricos
dos meus bens materiais,
fechando as portas da alma
aos apelos da vaidade.

Renunciei aos meus sonhos
impossíveis de alcançar
e joguei fora a arrogância
para encher-me de humildade.

Incinerei meus desejos
de sucesso, fama e glória
e as cinzas deixei que os ventos
carregassem para longe.

Consegui me liberar
de pesos interiores
que estavam deixando curvos
os ombros do meu espírito.

Limpei-me só para ti,
já que só não me desfaço
da vontade e do direito
de amar-te por toda a vida.


  QUADRINHAS PARA ELISA

Amor – para bem dizer –
de palavras não precisa,
porém se eu fosse escrever
um poema para Elisa,

seria o da voz do irmão,
em linguagem bem singela,
gravando em cada expressão
o amor que sente por ela.
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O GRITO

Há um grito
que vem de dentro de mim
e que não consigo conter.

É mais forte do que o grito revoltado
contra o que causa revolta,
do que o grito de dor
pelas dores humanas,
do que o grito de apelo
pela paz universal...

É o grito do amor
que se solta de meus olhares
quando fito os teus olhos;
e que, apesar da intensidade
de milhões de decibéis,
a eles te mostras surda.



DEMORADA ASSUNÇÃO

Escrevendo (sem grande compromisso)
meus versos desde os tempos de menino,
eu nunca tive pretensão com isso
de tornar-me da escrita um paladino.

Também, não me deixava submisso
à espera por milagres do destino:
apenas divagava, e a partir disso,
versos fazia, em velho tom latino.

Em minha opinião, versejador,
de talento talvez, que satisfeito
versejava de forma ainda discreta,

até quando, inspirado pelo amor,
compus o meu poema mais perfeito
e pude me assumir como poeta.


        O SONHO

Dentro de casa te ofendi à toa,
e tu, ao te sentires magoada,
numa atitude de ti destoa,
de lá saíste, sem dizer-me nada.

Fiquei por uns instantes numa boa,
mas doeu quando, olhando da sacada,
vi que – com cara de quem não perdoa –
pegaste o carro em plena madrugada.

Ao sumires, me pus logo a supor
que havias decidido abandonar-me;
e eu já me achava num pesar medonho,

quando de súbito o despertador
fez-me acordar ao som de seu alarme,
a revelar-me que era só um sonho...


Sempre grato aos amigos leitores pela atenção que me têm dispensado!
                                 Kleber Lago

© Kleber Cantanhede Lago

3 comentários:

  1. Visitei, li e gostei!
    Profª Rita

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  2. Seus poemas são sempre lindos e motivam aplausos!
    MÁXIMO FIGUEIRA

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  3. Adorei meu amigo. Tua facilidade, fluidez e leveza de escrever me encantam!
    parabéns

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