A lembrança remota mais nítida que tenho do Bairro do
Goiabal me remete aos primeiros anos da década de 1950, quando ali ainda morava
a família de Eustáquio Nobre, numa grande casa de taipa rebocada e pintada, no
alto de uma pequena elevação do terreno, com portas e janelas de frente
voltadas para uma área plana onde havia um rústico campinho de futebol que era,
também, o local onde costumavam ficar alguns animais de serviço e de montaria,
pertencentes á família.
Era uma boa área de terra, toda cercada na parte
inicial. Na face da cerca paralela à lateral esquerda da casa havia uma
porteira de estacas, que ficava de frente para o final da rua então chamada Cantinho
de Baixo. Para além dessa área inicial, sempre limpa e com algumas árvores,
espalhava-se o grande goiabal nativo, por onde passava um caminho de roça com
aquele fio de chão pisado, pelo qual circulavam pessoas adultas e crianças
carregando latas, bacias e baldes cheios de goiabas maduras, de colheita livre
e gratuita para as prováveis doceiras da cidade.
Essas lembranças estão ligadas à minha adolescência,
quando eu, José Wilson (filho do Chiquinho Sudário), Zacarias Salomão e outros
meninos, íamos jogar bola e andar a cavalo com nossos contemporâneos
“Marinheiro” e “Nena”, filhos do Senhor Eustáquio.
Depois disso, há um lapso de memória, que coincide
justamente com o período em que vim estudar em São Luís, interno no Colégio
Marista...
Em 1957, encontrei a família do Senhor Eustáquio
morando na Rua Grande, no trecho entre um dos prédios da Companhia Carioca e o
“Beco do Carvalhinho”. Fui informado de que o GOIABAL já pertencia à
Arquidiocese do Maranhão, do que tive certa confirmação mais tarde, quando, sob
a administração do Monsenhor Gerson Nunes Freire, foi reconstruída a cerca de
frente, edificado um prédio de alvenaria e substituída a velha porteira de
estaca por um portão de madeira lavrada, protegido na parte interior do terreno
por um mata-burro, espécie de grade de trilho sobre um fosso, para dificultar a
passagem de animais graúdos por ali.
Não descarto a possibilidade de, quanto a este
assunto, existirem alguns acontecimentos perdidos em minha mente. Mas me
recordo perfeitamente de que, enquanto o Monsenhor Gerson administrou o GOIABAL,
ali foi realizada a I Semana Ruralista e de que mais tarde, quando voltei a
Pedreiras depois de morar alguns anos no Rio de Janeiro, apliquei a prova de
português do exame de admissão ao Ginásio Corrêa de Araújo (pelo Monsenhor dirigido),
no prédio onde hoje funciona, salvo engano, o antigo Grupo Escolar Ciro Rego.
Em verdade, até aqui, venho contando a história do GOIABAL
à luz de fatos que minha memória gravou, em decorrência de vivência presencial,
mas sem nenhuma prova documental.
Contudo, posso afirmar, como ex-Secretário de
Administração no mandato do Prefeito Josélio Carvalho Branco, o que pode ser
confirmado nos anais da Câmara e da Prefeitura, que, a exemplo do que ocorrera
com o velho prédio adquirido do industrial Dazico Rego pelo Banco do Brasil,
desapropriado e em cujo terreno foi construída a Praça Melico Rego, também
houve desapropriação da área do GOIABAL, por interesse social.
(Imagem compartilhada)
Então, foi iniciado processo de urbanização da área,
com abertura de ruas, edificação de prédios públicos e particulares, bem como
marcação dos locais para a futura praça do novo bairro e de espaço que seria
destinado à realização de eventos populares, como as festas juninas dos finais
da década de 1960, em ambiente que ficou conhecido como “Rasga Sunga”, e as
posteriores festas carnavalescas abertas ao público.
Em se falando em praça, durante a administração de
Raimundo Louro, já consolidado o GOIABAL como bairro, a pequena avenida e a
praça do bairro foram restauradas, e esta última passou a se chamar Praça
Doutor Laguinho, em homenagem ao meu saudoso pai, o odontólogo Raimundo de
Carvalho Lago. Não demorou muito, a placa indicativa e a máscara de bronze
desapareceram. Um dia, ao passar por lá, percebi isso. Mas não me consternei,
embora sabedor de que meu pai merecia a homenagem recebida, in memoriam.
Simplesmente procurei entender o acontecido como um “recado” de quem desejava
que a praça continuasse a ser chamada pelo nome que recebera do povo depois de
inaugurada: PRAÇA DO GOIABAL.
Kleber Lago
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