(Foto compartilhada)
TEMPO E DISTÃNCIA é um poema que conta poeticamente excertos
da história de minha cidade natal, Pedreiras-MA, e de minha relação de amor com
ela. Foi publicado pela primeira vez num livreto de 52 páginas. com o mesmo
título, em 2008. Mais tarde, em 2011, o reproduzi, graficamente condensado, em Menções
Cantos e Louvores, também um livro de poemas alusivos a Pedreiras, sua
história e sua gente.
Hoje, 27 de
abril, dia em que minha terra comemora seu 95º aniversário de cidade, por julgar
ser esse poema a maior das homenagens poética que a ela já prestei, resolvi
publicá-lo aqui no blog, como forma de permitir sua leitura àqueles que não
tiveram oportunidade de lê-lo nos livros.
.
TEMPO E DISTÂNCIA
I
Nas
palmeiras de Pedreiras,
Às vezes,
o sabiá
Junta-se
às aves fagueiras
Que mais
gorjeiam por lá.
Em
Pedreiras as palmeiras
São de
babaçu; e, ali,
O
passarinho cantor
De
destaque é o bem-te-vi,
Que
incentiva as quebradeiras
De coco ao
duro labor.
Pedreiras
não tem um mar.
Nasceu
onde a natureza
Pôs um
rio que, ao passar,
Torna-se
um mar de beleza.
Um rio
onde o povo apanha
Gratuitamente
o pescado
Na água
barrenta e calma
Que tem
algo de sagrado,
Pois quem
nela o corpo banha
Lava as mazelas
da alma.
Pedreiras não tem um monte,
Tem uma pedra imponente.
Debaixo dela (há quem conte),
Por encanto, uma serpente
De setenta braças dorme.
E, se o encanto se quebrar,
O gigantesco organismo
Vai mover-se e provocar
Na região um enorme
E terrível cataclismo.
Pede o siso que eu me prenda
Mais a verdades que à lenda
Da grande cobra encantada.
Mas por que deixar, enfim,
A velha lenda proscrita
Do todo que para mim
Faz Pedreiras mais bonita
E cada vez mais amada?
Eu sou parte da cidade,
Sou membro de sua grei.
Amo-a com sinceridade
Pela pedra, pelo rio,
Por sua gente singela,
Por tudo que dela sei.
Amá-la-ia por nada!
E garanto que é sadio
O amor que sinto por ela.
II
Em se tratando do amor
Que tenho por minha terra,
O contexto não abriga
Querelas conceituais.
Quanto ao modo de senti-lo,
Não existem divergências
Entre o menino de ontem
E o velho que hoje pareço.
Nisso, o tempo pouco importa,
Pois não é ele que marca
O tamanho desse amor.
São as
batidas do peito.
E elas batem sempre em mim
Com a mesma intensidade,
No lugar em que eu me encontre,
Não interessa o momento
Dentro do tempo em que eu viva.
Pintei e
sigo pintando
Pedreiras
do mesmo jeito:
Com o
azul dos meus sonhos
E o verde das esperanças,
Embora
existam momentos
De variar
os matizes
Com o
roxo – que exprime dor,
E o cinza
– que é de saudade...
Dor é não
poder marcar
Presença
material
No
caderno de freqüência
Da
escola, onde tive as minhas
Primeiras
lições de amor.
Saudade é
o que faz de mim
Imitação
de poeta
Que
enxerga poesia em tudo,
Naquela
porção de terra
Às
margens do Mearim.
A dor, às
vezes, suporto...
Mas,
imitando o poeta,
Estou
sempre em pensamento
Fazendo
minhas viagens
De ida e
volta a Pedreiras.
Desse
jeito especial
De
transladar-me na ausência,
Eu provo
para mim mesmo
Que pouco
dizem palavras
Iguais a tempo e distância.
Ou,
vivendo aqui o agora,
Não
poderia viver,
Em
momentos simultâneos,
Diversas
situações
Em que já
me achei por lá:
– Sobre o lombo de um carneiro
Rasgando
as manhãs da infância.
Para
depois afogar
O cansaço
e o calor
No rio
que deu a água
Para o
meu primeiro banho
E para o
meu batizado...
– Livre e
solto, pelas ruas
Sem
asfalto e meio-fio,
A
dividir, com amigos
E meus
irmãos, o prazer
De chutar
o sol das tardes
Na bola de
futebol
Ganha de
Papai Noel...
–
Desafinando uma valsa
Em
serenata à primeira
Namoradinha,
ao luar
De noite
que espera chuva,
Até a lua
esconder-se
Entre
nuvens e apagar
A luz de
minha seresta...
– Sentado
naturalmente
À mesa,
no Bar do Índio,
Entre pessoas
bem jovens
Que me
falam, que me escutam
E, nem de
longe, demonstram
A mais discreta intenção
De conhecer minha idade...
Sei que, junto aos seres vivos
Alheios aos meus motivos,
Isso não tem ressonância:
Não passam de frases vagas
As que tenho proferido
Mostrando tempo e distância,
No amor, sem muito sentido.
Pobre epígono do Chagas
Que do mestre não herdou
Aquele talento incrível
Que sabiamente ele usou
E usa para expressar,
De maneira singular,
Até mesmo o inexprimível!
Mas, se talento me falta,
Sobra amor e, certamente,
É porque o amor me exalta
Que insisto em manter o curso
Das linhas desse discurso
Que parece inconsistente.
Hei de descobrir um meio
De provar minha razão.
E fazê-lo sem receio
De ser taxada de louco,
Pois de louco tenho um pouco.
Já fiz essa afirmação!
Minha procura, no entanto,
Não vai exigir canseiras.
Assim, vou mesclando o canto
Que me
dispus a compor,
De outras
nuanças do amor
Que dei
em voto a Pedreiras.
E esse
amor forte e sincero
Vai
justificar (espero)
Que eu,
carente de talento,
Para
poder alcançar
Bom êxito
em meu intento,
Tenha
colhido, nas lavras
Do grande
mestre, palavras
Que
emprego no canto assim:
– Em
qualquer tempo ou lugar,
“Se não” estou “em Pedreiras,
Pedreiras” está “em
mim”.
III
Entre
parênteses, digo
Que a
poesia de Pedreiras
Não está
restrita àquilo
Que um
poeta pode expor
Por meio
de versos livres
Ou sob
métrica e rima.
Ela é a
poesia do amor
Que um
filho tem pela mãe.
E quem
não sabe expressá-la
Basta amar para senti-la.
... E
vê-la
No manso
passar do rio
Ou no
silêncio da pedra
Que vela
a terra e a vida
Que
dentro dela acontece;
... E
ouvi-la
No
chilrear dos pardais
Em festa
ao entardecer,
Ou no
farfalhar das palmas
Agitadas
pelo vento;
... E
admirá-la
No rubor
de que se pintam
Os morros
do lado oeste
No instante em que o sol poente
Por
detrás deles se esconde,
Ou num
pedaço de céu
Onde a
ilusão do azul
Se mostra
mais azul,
E o
brilho das estrelas
Mais
brilhante!
Amo a
terra em que nasci!
E de amor
recheio a fala
Quando me
ponho a louvá-la.
Mil vezes
já repeti
Que a
esse dever não fujo,
Muito
embora não me iguale,
Na
missão, a João do Vale
E a
Corrêa de Araújo.
Araújo a
exaltava
Em
linguagem primorosa.
João como
o povo falava.
Mas,
antes de ir embora,
Fê-la
notada e famosa
Por este
Brasil afora,
Usando
sempre em seu canto
A
linguagem de quem ama.
Quem ama
Pedreiras vê
Que é
correto imparidade
Numa
exposição de que
Ela,
mesmo usando o manto
Que
simboliza nobreza,
Sabe ser
rica – em bondade,
Como
humilde – em sua fama.
Eu também
carrego a chama
Do amor
por ela (e seu rio)
Ardendo
dentro de mim.
Pode ser
obsessivo,
Mas dele
não me desvio
E digo,
mesmo, que vivo
Querendo
mantê-lo assim.
O calor
da chama acesa
Desse
amor forte e bendito
|
Causa-me
um prazer sem fim,
Além de
dar-me a certeza
De que
outra terra não há de
Sobrepujar
a cidade
Que
nasceu abençoada
Por Deus
e São Benedito
E para
ser proclamada
Princesa
do Mearim.
IV
Perto dos
setenta anos,
Dois
terços dos quais ausente
De minha
terra e meu povo,
Ainda
tenho em meus planos
Ir viver
por lá de novo.
Desfrutar
a vida boa
Vagando
serenamente
Rio
abaixo, rio acima,
A bordo
de uma canoa,
Sem
pensar em verso e rima!
Encher os espaços vagos
Da mente, sem escrever;
Só mesmo sentindo em mim
O regozijo das almas
Que sonham sob os afagos
De águas barrentas e calmas
Que correm no Mearim!
Dispensar toda a atenção
E paciência de frade
Às palavras verdadeiras
Da boca de um ancião
Que já vivia em Pedreiras
Antes de ela ser cidade.
Ele me dando o conforto
De não buscar nos anais
Alguns pedaços da história
Perdidos no arquivo morto
De nossa frágil memória,
Dos quais ninguém fala mais...
Mas, por enquanto, eu aqui,
Alheio a tempo e distância,
Faço um reexame atento
Do que sei, do que ouvi
Sobre o meu torrão amado.
E, ao sabor do pensamento,
Visito com mais constância
Seu presente e seu passado.
V
A cada visita
Que faço ao passado
Eu vivo o momento
Do fato
ocorrente
Como
acontecendo
Dentro do
momento
De minha
visita.
A marcha
vitoriosa
Dos grandes
desbravadores
Abrindo
as portas da terra
Para os
colonizadores...
[ ... ]
Toda a
determinação
Dos que,
na povoação,
Dão-se à
labuta suada
Para
fazê-la crescer
E
torná-la emancipada.
[ ... ]
Os
festejos da ascensão
A sede de
município
E o coro
de almas contentes
Louvando
a posse solene
Dos
primeiros dirigentes...
[ ... ]
Os barcos
a vapor
Fundeados
no porto.
E homens
fortes pelas pranchas
Subindo e
descendo em linha,
Na
operação de permuta
De
produtos oriundos
De onde o
progresso já anda
Por cereais
produzidos
Onde ele
ainda engatinha.
[ ... ]
Messias
da Costa Filho
Passando
na Rua Grande
Em seu
automóvel Ford,
Cuja
buzina, ao soar,
Lembra a
voz de um rapazola
De
maneiras delicadas
Que, em
filme de faroeste,
Protesta
com histeria
Por haver
pisando a merda
Esparramada
na rua
Pelas
tropas e boiadas.
[ ... ]
O lindo
incandescer
De
lâmpadas elétricas
E os
olhos extasiados
Que
assistem, no Cine Rex,
Ao filme
mudo em cartaz,
Enquanto
muitas cidades
De maior
porte clareiam
O escuro
de suas noites
Com
luminárias a gás.
[ ... ]
Travessia
pela ponte
Do Dazico
Moraes Rego.
Estrutura
de madeira
Sobre
tonéis flutuantes,
Que causa
desassossego,
Geme e se
contorce inteira
Se lhe
pesa um pouco o fardo,
A exemplo
da Miquelina
– Carro
que Antônio Bernardo
Fez com
peças de sucata
Dentro da
própria oficina...
[ ... ]
Os
prédios da empresa
De origem
francesa,
Chamada
Cotonière,
Às
margens do Mearim,
Erguidos
sobre alicerces
De pedra
branca, caulim,
Areia,
cal e cimento,
Em
contraste acentuado
Com as
casas pequeninas
De
pau-a-pique, onde estão
Ainda em
funcionamento
As nossas
usinas
De arroz
e algodão...
[ ... ]
Possídio
Sousa Martins,
Prefeito
de cara feia
E falta
de compaixão
Do
tamanho da feiura,
Forçando,
de forma clara,
Em nome
da ditadura,
Os
detentos da cadeia
A levar
nas costas nuas
Pesados
cofos de cal
E a
arrastar pelas ruas,
Couros de
boi com areia,
Com
tijolo ou pedra, para
As obras
de construção
Dos
prédios da Prefeitura
E do
Mercado Central.
[ ... ]
O anônimo
trovador,
Vindo da
Rua do Mato,
Que canta
pela Golada
Ainda no
lava-prato
Da
noitada anterior,
Mas cala
em frente ao Malhada
Para
ouvir o Pedro Flor
Que, após
pausa para um gole,
Saúda o
nascer do dia
Extraindo
melodia
Do velho
e afinado fole.
[ ... ]
A plateia
sob o sol
Em tarde
de futebol
No campo
do Pedreirense,
Festa de
fim de semana
Em que
sempre sobra soco
Para os
do time que vence.
Os
chutões de João Santana
E de
Edson Papoco,
Na zaga,
dois coronéis...
As
defesas de Tralhoto,
Nosso
elástico goleiro...
Os
dribles de Canhoteiro
E a classe
com que Diouro
Conduz a
bola de couro
– Expressão de arte nos pés
De um
craque, ainda garoto!
[ ... ]
Os blocos
de carnaval
Em que a
doce Dica Serra,
Com
carinho maternal
E a graça
da singeleza,
Leva as
crianças da terra
Às ruas,
fantasiadas
De rei ou
polichinelo,
De fada,
bruxa ou princesa,
Ao som
das marchas tocadas
Pela
Banda do Martelo.
[ ... ]
A figura
do cabreiro
Que, no
jogo do caipira,
Nos dados
ou na roleta,
Rapidamente
retira
O
dinheiro do coitado
Que vem
da roça e festeja
Nosso santo
padroeiro,
No
arraial do mercado.
[ ... ]
A alegria
da retreta,
Depois da
missa na igreja,
Quando,
em pleno patamar,
Sentam os
fundos das calças
E se
mostram comportados
Muitos
ouvintes mirins,
Enquanto
o Jazz Ga-Ro-Mar
Executa
alguns dobrados,
Sambas,
boleros... ou valsas
Do mestre
Joca Martins.
[ ... ]
O porte
da ponte,
Também
flutuante,
Que
custou milhares
Ao
negociante
Arnaldo
Soares.
Construída
de pau-d’arco
E armada
sobre barcaças
De quatro
por duas braças
E dez
palmos de fundura,
Tal ponte
é um marco
De
engenhosidade,
Por
combinar estrutura
Com
funcionalidade:
Quinze
mil quilos suporta
Sobre o
assoalho de pranchas;
E, tendo uma cabeceira
Atracada por argolas
A um poste de madeira,
Abre-se com uma porta
Para a passagem das lanchas.
[ ... ]
A ansiedade no aguardo
Pelo homem que mergulha
No portinho do Abelardo,
|
Mesmo sabendo que lá
Mais abaixo, onde borbulha
A água rasa e serena,
Vai emergir a figura
Do lendário Pequapá
Repetindo a velha cena:
Sentar-se à beira do rio
E desatar a embira
Que lhe prende na cintura
Uma pequena cabaça,
Cuja tampa ele retira
Para beber a cachaça
Que o protege contra o frio.
[ ... ]
O teatrinho infantil
Que Dona Nair Garcez
Costuma montar num mês
Entre janeiro e abril,
Numa escola ou no salão
De um dos clubes da cidade,
Proporcionando ao infante
Que entra em cena, um instante
Dessa inocente ilusão
De ser ator de verdade.
[ ... ]
O queima
no prédio novo
Da loja
“Casa do Povo”,
Onde
Antônio Branco diz,
Entre
outras ironias,
Que o
velho Alberto se solta
No Reo e
voa na estrada,
Quando
leva uma carrada
De
algodão a São Luís,
Só
gastando doze dias
No
percurso de ida e volta.
[ ... ]
O
Vira-Litro, alegria
Que veste
uma fantasia
De fofão,
na brincadeira
Da
alcoólica maratona
De três
dias pelos bares,
E outros profanos
lugares
Em seus
desvios de rota,
Com Luís
Lílio, Gilona,
Totônio,
Zeca Nogueira,
Zeca
Bode, Zé Benigno
(Substituto
do Mota)
E
Diquinho Cantanhede.
Uma turma
que se ufana
De ter um
litro por signo,
Mas bebe
um tonel de cana
E ainda
fica com sede!
[ ... ]
A ousada
arquitetura
Da bela e
moderna ponte
Que foi
erguida defronte
Da parede
lateral
Do prédio
da Prefeitura,
Com
grande arco central
Que deixa livre o vazio
Semicircular,
formado
De um
lado ao outro do rio.
Para os pedestres,
a ponte
Tem dois
seguros passeios
Que se encontram sempre cheios
De gente
que vai e vem
Na busca
de um horizonte,
Desde
quando nasce o dia
Até
quando a tarde morre.
É muito
intenso também
O
movimento que ocorre
Na pista;
e tudo bem faz
Lembrar o
que acontecia
Boas
décadas atrás
No rio
que embaixo corre.
JK foi
quem a fez
Com
recursos federais.
Mas o
ladino prefeito
Chico Sá,
por sua vez,
Usando
aquele seu jeito
De
demagogo falaz,
Não perde
oportunidade
De dizer
pela cidade,
Desde o
Engenho à Trizidela,
Que a
ponte foi construída
Por ele;
e ainda assegura
Que os
gastos feitos com ela
Deixaram
a Prefeitura
Completamente
falida.
[ ... ]
Mentiras
à parte, eu
Consulto
as melhores fontes,
Reflito e
vejo que, tanto
Antes
delas como enquanto
Duraram
essas três pontes,
Tudo
quanto aconteceu
Em área
urbana ou rural
De
Pedreiras foi normal.
A
pecuária em expansão
Chegou ao
ponto de um dia
Abafar a
agricultura,
Nossa
grande vocação,
Segundo o
que eu mais ouvia.
Isso
gerou verdadeiras
Mudanças,
como o sumiço
De usinas
e bolandeiras,
Ainda não
compensado
Pelo
aumento acentuado
Do
comércio e do serviço.
Houve
morte e nascimento,
Houve
chegada e partida.
Construções,
demolições,
Enlaces e
desenlaces.
Também
foram ditas
Palavras
benditas,
Palavras
malditas.
E se
ouviu o silêncio,
Quando a
última caiu
Ferindo e
matando gente...
Mas,
antes ou depois delas,
Eu sempre
estou em Pedreiras.
Isso
mesmo, o verbo estar
Conjugado
no presente.
Em suma,
quero dizer
Que,
nessas minhas viagens
Ao
passado mais remoto
E ao
passado mais recente,
Posso
estar dentro da história
De minha
terra e meu povo,
Sem
precisar me afastar
Do
instante real que eu viva,
Sem ter
que os pés arredar
Do lugar
onde eu esteja.
VI
As
visitas ao presente
Ocorrem
quando me encontro
De fato
lá, em matéria,
Pisando
literalmente
As pedras
de minha terra.
É o caso
de estar num bar,
Numa
praça ou numa esquina
A
conversar com amigos.
E,
rápido, o pensamento
Transportar-me,
por exemplo,
Para o
meio da ponte.
A nova
ponte de aço
Que
substituiu
A ponte
que caiu.
Então, ao
sentir-me ali,
Alternando
olhares entre
Pedreiras
e Trizidela,
As duas
já separadas
De
direito, não de fato,
Comento
comigo mesmo:
– Assim
com o as outras três,
Esta
ponte aqui foi feita
Para
ligar os dois lados
Onde se
abriga um só povo
Que vai
se manter unido
Pela ponte
e pelo amor.
VII
O que
venho aqui dizendo
Um
descalabro parece.
Não para
mim, pois entendo
Por que
isso me acontece.
E,
absurdo que pareça,
Gosto de
que me aconteça!
Mesmo não
sendo preciso,
Fica aqui
um bom aviso:
– Só vai
gostar deste meu
Poema
quem tem amor
Pela
terra em que nasceu.
Outro
tipo de leitor
Não
poderá compreender
O que, no
fundo, ele encerra.
Rirá de
mim com razão
E, com
razão, vai dizer
Que sou
um doido varrido
E devo
ser incluído
Numa
próxima edição
De Os
Loucos de Minha Terra.
Ficaria
magoado
Se me
chamassem de omisso,
Mas não
fico ao ser chamado
De louco,
por tudo isso
Que meu
peito sente, arpeja
E me
incentiva a externar
De forma
ardente e sobeja.
Trato o
que assumo com zelo
E, se
assumi que exaltar
Minha
terra é meu dever,
Quando me
ponho a fazê-lo,
Eu não
consigo me dar
Ao
conforto de escolher
A hora
certa e o lugar.
Por isso
louvo Pedreiras,
No ar, em
terra ou no mar,
Com
palavras verdadeiras
Que me
dita o coração
E ficarei
a louvá-la,
Enquanto
puder usar
A língua
escrita e a fala
Como
forma de expressão.
Sei da
possibilidade
De eu vir
um dia perder
A minha
capacidade
De falar
e a de escrever,
Mas “bom
cabrito não berra”.
Se por
desdita ou castigo
Isso
acontecer comigo,
Basta só
que Deus me deixe
Pensar
sempre em minha terra
Para que
eu nunca me queixe.
Interromper
este canto
Não vai
deixar-me infeliz
Sujeito a
dor, mágoa, pranto
Ou
qualquer tipo de trauma.
Pois
noutros cantos que fiz
Já deixei
mais que evidente
O recado
de minha alma
À alma de
minha gente.
Por um
amor tão profundo
Quanto
possível se pense,
Fiz de
Pedreiras meu mundo.
E sou,
como pedreirense,
Filho que
da mãe se ufana,
Vassalo
que não esconde
A sua
satisfação
Em servir
a soberana
Daquelas
férteis ribeiras
Do vale
do Mearim.
Em
qualquer situação
Envolvendo
quando ou onde,
“Se não”
estou “em Pedreiras,
Pedreiras”
está “em mim”.
Kleber Lago
|
Parabéns
à Princesa
do Mearim e seu nobre povo!
©
Kleber Cantanhede Lago
Que poema maravilhoso!
ResponderExcluirMáximo Figueira
Lindo! Tocante! Emocionei-me, amigo poeta!
ResponderExcluirProfª Rita