domingo, 26 de abril de 2015

PARABÉNS À PRINCESA DO MEARIM E AO SEU NOBRE POVO!

(Foto compartilhada)
 
TEMPO E DISTÃNCIA é um poema que conta poeticamente excertos da história de minha cidade natal, Pedreiras-MA, e de minha relação de amor com ela. Foi publicado pela primeira vez num livreto de 52 páginas. com o mesmo título, em 2008. Mais tarde, em 2011, o reproduzi, graficamente condensado, em Menções Cantos e Louvores, também um livro de poemas alusivos a Pedreiras, sua história e sua gente.
Hoje, 27 de abril, dia em que minha terra comemora seu 95º aniversário de cidade, por julgar ser esse poema a maior das homenagens poética que a ela já prestei, resolvi publicá-lo aqui no blog, como forma de permitir sua leitura àqueles que não tiveram oportunidade de lê-lo nos livros.
.
 
 TEMPO E DISTÂNCIA            
               
                I
 
Nas palmeiras de Pedreiras,
Às vezes, o sabiá
Junta-se às aves fagueiras
Que mais gorjeiam por lá.
Em Pedreiras as palmeiras
São de babaçu; e, ali,
O passarinho cantor
De destaque é o bem-te-vi,
Que incentiva as quebradeiras
De coco ao duro labor.
 
Pedreiras não tem um mar.
Nasceu onde a natureza
Pôs um rio que, ao passar,
Torna-se um mar de beleza.
Um rio onde o povo apanha
Gratuitamente o pescado
Na água barrenta e calma
Que tem algo de sagrado,
Pois quem nela o corpo banha
Lava as mazelas da alma.
 
Pedreiras não tem um monte,
Tem uma pedra imponente.
Debaixo dela (há quem conte),
Por encanto, uma serpente
De setenta braças dorme.
E, se o encanto se quebrar,
O gigantesco organismo
Vai mover-se e provocar
Na região um enorme
E terrível cataclismo.
 
Pede o siso que eu me prenda
Mais a verdades que à lenda
Da grande cobra encantada.
Mas por que deixar, enfim,
A velha lenda proscrita
Do todo que para mim
Faz Pedreiras mais bonita
E cada vez mais amada?
 
Eu sou parte da cidade,
Sou membro de sua grei.
Amo-a com sinceridade
Pela pedra, pelo rio,
Por sua gente singela,
Por tudo que dela sei.
Amá-la-ia por nada!
E garanto que é sadio
O amor que sinto por ela.
           
               II      
 
Em se tratando do amor
Que tenho por minha terra,
O contexto não abriga
Querelas conceituais.
Quanto ao modo de senti-lo,
Não existem divergências
Entre o menino de ontem
E o velho que hoje pareço.
 
Nisso, o tempo pouco importa,
Pois não é ele que marca
O tamanho desse amor.
São as batidas do peito.
E elas batem sempre em mim
Com a mesma intensidade,
No lugar em que eu me encontre,
Não interessa o momento
Dentro do tempo em que eu viva.
 
Pintei e sigo pintando
Pedreiras do mesmo jeito:
Com o azul dos meus sonhos
E o verde das esperanças,
Embora existam momentos
De variar os matizes
Com o roxo – que exprime dor,
E o cinza – que é de saudade...
 
Dor é não poder marcar
Presença material
No caderno de freqüência
Da escola, onde tive as minhas
Primeiras lições de amor.
 
Saudade é o que faz de mim
Imitação de poeta
Que enxerga poesia em tudo,
Naquela porção de terra
Às margens do Mearim.
 
A dor, às vezes, suporto...
Mas, imitando o poeta,
Estou sempre em pensamento
Fazendo minhas viagens
De ida e volta a Pedreiras.
 
Desse jeito especial
De transladar-me na ausência,
Eu provo para mim mesmo
Que pouco dizem palavras
Iguais a tempo e distância.
 
Ou, vivendo aqui o agora,
Não poderia viver,
Em momentos simultâneos,
Diversas situações
Em que já me achei por lá:
 
– Sobre o lombo de um carneiro
Rasgando as manhãs da infância.
Para depois afogar
O cansaço e o calor
No rio que deu a água
Para o meu primeiro banho
E para o meu batizado...
 
– Livre e solto, pelas ruas
Sem asfalto e meio-fio,
A dividir, com amigos
E meus irmãos, o prazer
De chutar o sol das tardes
Na bola de futebol
Ganha de Papai Noel...
 
– Desafinando uma valsa
Em serenata à primeira
Namoradinha, ao luar
De noite que espera chuva,
Até a lua esconder-se
Entre nuvens e apagar
A luz de minha seresta...
 
– Sentado naturalmente
À mesa, no Bar do Índio,
Entre pessoas bem jovens
Que me falam, que me escutam
E, nem de longe, demonstram
A mais discreta intenção
De conhecer minha idade...
 
Sei que, junto aos seres vivos
Alheios aos meus motivos,
Isso não tem ressonância:
Não passam de frases vagas
As que tenho proferido
Mostrando tempo e distância,
No amor, sem muito sentido.
 
Pobre epígono do Chagas
Que do mestre não herdou
Aquele talento incrível
Que sabiamente ele usou
E usa para expressar,
De maneira singular,
Até mesmo o inexprimível!
 
Mas, se talento me falta,
Sobra amor e, certamente,
É porque o amor me exalta
Que insisto em manter o curso
Das linhas desse discurso
Que parece inconsistente.
 
Hei de descobrir um meio
De provar minha razão.
E fazê-lo sem receio
De ser taxada de louco,
Pois de louco tenho um pouco.
Já fiz essa afirmação!
 
Minha procura, no entanto,
Não vai exigir canseiras.
Assim, vou mesclando o canto
Que me dispus a compor,
De outras nuanças do amor
Que dei em voto a Pedreiras.
 
E esse amor forte e sincero
Vai justificar (espero)
Que eu, carente de talento,
Para poder alcançar
Bom êxito em meu intento,
Tenha colhido, nas lavras
Do grande mestre, palavras
Que emprego no canto assim:
– Em qualquer tempo ou lugar,
“Se não” estou “em Pedreiras,
Pedreiras” está “em mim”.
 
               III
 
Entre parênteses, digo
Que a poesia de Pedreiras
Não está restrita àquilo
Que um poeta pode expor
Por meio de versos livres
Ou sob métrica e rima.
Ela é a poesia do amor
Que um filho tem pela mãe.
E quem não sabe expressá-la
Basta amar para senti-la.
 
... E vê-la
No manso passar do rio
Ou no silêncio da pedra
Que vela a terra e a vida
Que dentro dela acontece;
 
... E ouvi-la
No chilrear dos pardais
Em festa ao entardecer,
Ou no farfalhar das palmas
Agitadas pelo vento;
 
... E admirá-la
No rubor de que se pintam
Os morros do lado oeste
No instante em que o sol poente
Por detrás deles se esconde,
Ou num pedaço de céu
Onde a ilusão do azul
Se mostra mais azul,
E o brilho das estrelas
Mais brilhante!
 
Amo a terra em que nasci!
E de amor recheio a fala
Quando me ponho a louvá-la.
Mil vezes já repeti
Que a esse dever não fujo,
Muito embora não me iguale,
Na missão, a João do Vale
E a Corrêa de Araújo.
 
Araújo a exaltava
Em linguagem primorosa.
João como o povo falava.
Mas, antes de ir embora,
Fê-la notada e famosa
Por este Brasil afora,
Usando sempre em seu canto
A linguagem de quem ama.
 
Quem ama Pedreiras vê
Que é correto imparidade
Numa exposição de que
Ela, mesmo usando o manto
Que simboliza nobreza,
Sabe ser rica – em bondade,
Como humilde – em sua fama.
 
Eu também carrego a chama
Do amor por ela (e seu rio)
Ardendo dentro de mim.
Pode ser obsessivo,
Mas dele não me desvio
E digo, mesmo, que vivo
Querendo mantê-lo assim.
 
O calor da chama acesa
Desse amor forte e bendito
 
 
Causa-me um prazer sem fim,
Além de dar-me a certeza
De que outra terra não há de
Sobrepujar a cidade
Que nasceu abençoada
Por Deus e São Benedito
E para ser proclamada
Princesa do Mearim.
    
                IV
 
Perto dos setenta anos,
Dois terços dos quais ausente
De minha terra e meu povo,
Ainda tenho em meus planos
Ir viver por lá de novo.
 
Desfrutar a vida boa
Vagando serenamente
Rio abaixo, rio acima,
A bordo de uma canoa,
Sem pensar em verso e rima!
 
Encher os espaços vagos
Da mente, sem escrever;
Só mesmo sentindo em mim
O regozijo das almas
Que sonham sob os afagos
De águas barrentas e calmas
Que correm no Mearim!
 
Dispensar toda a atenção
E paciência de frade
Às palavras verdadeiras
Da boca de um ancião
Que já vivia em Pedreiras
Antes de ela ser cidade.
 
Ele me dando o conforto
De não buscar nos anais
Alguns pedaços da história
Perdidos no arquivo morto
De nossa frágil memória,
Dos quais ninguém fala mais...
 
Mas, por enquanto, eu aqui,
Alheio a tempo e distância,
Faço um reexame atento
Do que sei, do que ouvi
Sobre o meu torrão amado.
E, ao sabor do pensamento,
Visito com mais constância
Seu presente e seu passado.
 
                V
 
A cada visita
Que faço ao passado
Eu vivo o momento
Do fato ocorrente
Como acontecendo
Dentro do momento
De minha visita.
 
A marcha vitoriosa
Dos grandes desbravadores
Abrindo as portas da terra
Para os colonizadores...
 
[ ... ]
 
Toda a determinação
Dos que, na povoação,
Dão-se à labuta suada
Para fazê-la crescer
E torná-la emancipada.
 
[ ... ]
 
Os festejos da ascensão
A sede de município
E o coro de almas contentes
Louvando a posse solene
Dos primeiros dirigentes...
 
[ ... ]
 
Os barcos a vapor
Fundeados no porto.
E homens fortes pelas pranchas
Subindo e descendo em linha,
Na operação de permuta
De produtos oriundos
De onde o progresso já anda
Por cereais produzidos
Onde ele ainda engatinha.
 
[ ... ]
 
Messias da Costa Filho
Passando na Rua Grande
Em seu automóvel Ford,
Cuja buzina, ao soar,
Lembra a voz de um rapazola
De maneiras delicadas
Que, em filme de faroeste,
Protesta com histeria
Por haver pisando a merda
Esparramada na rua
Pelas tropas e boiadas.
 
[ ... ]
 
O lindo incandescer
De lâmpadas elétricas
E os olhos extasiados
Que assistem, no Cine Rex,
Ao filme mudo em cartaz,
Enquanto muitas cidades
De maior porte clareiam
O escuro de suas noites
Com luminárias a gás.
 
[ ... ]
 
Travessia pela ponte
Do Dazico Moraes Rego.
Estrutura de madeira
Sobre tonéis flutuantes,
Que causa desassossego,
Geme e se contorce inteira
Se lhe pesa um pouco o fardo,
A exemplo da Miquelina
– Carro que Antônio Bernardo
Fez com peças de sucata
Dentro da própria oficina...
 
[ ... ]
 
Os prédios da empresa
De origem francesa,
Chamada Cotonière,
Às margens do Mearim,
Erguidos sobre alicerces
De pedra branca, caulim,
Areia, cal e cimento,
Em contraste acentuado
Com as casas pequeninas
De pau-a-pique, onde estão
Ainda em funcionamento
As nossas usinas
De arroz e algodão...
 
[ ... ]
 
Possídio Sousa Martins,
Prefeito de cara feia
E falta de compaixão
Do tamanho da feiura,
Forçando, de forma clara,
Em nome da ditadura,
Os detentos da cadeia
A levar nas costas nuas
Pesados cofos de cal
E a arrastar pelas ruas,
Couros de boi com areia,
Com tijolo ou pedra, para
As obras de construção
Dos prédios da Prefeitura
E do Mercado Central.
 
[ ... ]
 
O anônimo trovador,
Vindo da Rua do Mato,
Que canta pela Golada
Ainda no lava-prato
Da noitada anterior,
Mas cala em frente ao Malhada
Para ouvir o Pedro Flor
Que, após pausa para um gole,
Saúda o nascer do dia
Extraindo melodia
Do velho e afinado fole.
 
[ ... ]
 
A plateia sob o sol
Em tarde de futebol
No campo do Pedreirense,
Festa de fim de semana
Em que sempre sobra soco
Para os do time que vence.
Os chutões de João Santana
E de Edson Papoco,
Na zaga, dois coronéis...
As defesas de Tralhoto,
Nosso elástico goleiro...
Os dribles de Canhoteiro
E a classe com que Diouro
Conduz a bola de couro
 – Expressão de arte nos pés
De um craque, ainda garoto!
 
[ ... ]
 
Os blocos de carnaval
Em que a doce Dica Serra,
Com carinho maternal
E a graça da singeleza,
Leva as crianças da terra
Às ruas, fantasiadas
De rei ou polichinelo,
De fada, bruxa ou princesa,
Ao som das marchas tocadas
Pela Banda do Martelo.
 
[ ... ]
 
A figura do cabreiro
Que, no jogo do caipira,
Nos dados ou na roleta,
Rapidamente retira
O dinheiro do coitado
Que vem da roça e festeja
Nosso santo padroeiro,
No arraial do mercado.
 
[ ... ]
 
A alegria da retreta,
Depois da missa na igreja,
Quando, em pleno patamar,
Sentam os fundos das calças
E se mostram comportados
Muitos ouvintes mirins,
Enquanto o Jazz Ga-Ro-Mar
Executa alguns dobrados,
Sambas, boleros... ou valsas
Do mestre Joca Martins.
 
[ ... ]
 
O porte da ponte,
Também flutuante,
Que custou milhares
Ao negociante
Arnaldo Soares.
Construída de pau-d’arco
E armada sobre barcaças
De quatro por duas braças
E dez palmos de fundura,
Tal ponte é um marco
De engenhosidade,
Por combinar estrutura
Com funcionalidade:
Quinze mil quilos suporta
Sobre o assoalho de pranchas;
 E, tendo uma cabeceira
Atracada por argolas
A um poste de madeira,
Abre-se com uma porta
Para a passagem das lanchas.
 
[ ... ]
 
A ansiedade no aguardo
Pelo homem que mergulha
No portinho do Abelardo,
 
 
Mesmo sabendo que lá
Mais abaixo, onde borbulha
A água rasa e serena,
Vai emergir a figura
Do lendário Pequapá
Repetindo a velha cena:
Sentar-se à beira do rio
E desatar a embira
Que lhe prende na cintura
Uma pequena cabaça,
Cuja tampa ele retira
Para beber a cachaça
Que o protege contra o frio.
 
 [ ... ]
 
O teatrinho infantil
Que Dona Nair Garcez
Costuma montar num mês
Entre janeiro e abril,
Numa escola ou no salão
De um dos clubes da cidade,
Proporcionando ao infante
Que entra em cena, um instante
Dessa inocente ilusão
De ser ator de verdade.
 
[ ... ]
 
O queima no prédio novo
Da loja “Casa do Povo”,
Onde Antônio Branco diz,
Entre outras ironias,
Que o velho Alberto se solta
No Reo e voa na estrada,
Quando leva uma carrada
De algodão a São Luís,
Só gastando doze dias
No percurso de ida e volta.
 
[ ... ]
 
O Vira-Litro, alegria
Que veste uma fantasia
De fofão, na brincadeira
Da alcoólica maratona
De três dias pelos bares,
E outros profanos lugares
Em seus desvios de rota,
Com Luís Lílio, Gilona,
Totônio, Zeca Nogueira,
Zeca Bode, Zé Benigno
(Substituto do Mota)
E Diquinho Cantanhede.
Uma turma que se ufana
De ter um litro por signo,
Mas bebe um tonel de cana
E ainda fica com sede!
 
[ ... ]
 
A ousada arquitetura
Da bela e moderna ponte
Que foi erguida defronte
Da parede lateral
Do prédio da Prefeitura,
Com grande arco central
Que deixa livre o vazio
Semicircular, formado
De um lado ao outro do rio.
 
Para os pedestres, a ponte
Tem dois seguros passeios
Que se encontram sempre cheios                                     
De gente que vai e vem
Na busca de um horizonte,
Desde quando nasce o dia
Até quando a tarde morre.
É muito intenso também
O movimento que ocorre
Na pista; e tudo bem faz
Lembrar o que acontecia
Boas décadas atrás
No rio que embaixo corre.
 
JK foi quem a fez
Com recursos federais.
Mas o ladino prefeito
Chico Sá, por sua vez,
Usando aquele seu jeito
De demagogo falaz,
Não perde oportunidade
De dizer pela cidade,
Desde o Engenho à Trizidela,
Que a ponte foi construída
Por ele; e ainda assegura
Que os gastos feitos com ela
Deixaram a Prefeitura
Completamente falida.
 
[ ... ]
 
Mentiras à parte, eu
Consulto as melhores fontes,
Reflito e vejo que, tanto
Antes delas como enquanto
Duraram essas três pontes,
Tudo quanto aconteceu
Em área urbana ou rural
De Pedreiras foi normal.
 
A pecuária em expansão
Chegou ao ponto de um dia
Abafar a agricultura,
Nossa grande vocação,
Segundo o que eu mais ouvia.
Isso gerou verdadeiras
Mudanças, como o sumiço
De usinas e bolandeiras,
Ainda não compensado
Pelo aumento acentuado
Do comércio e do serviço.
 
Houve morte e nascimento,
Houve chegada e partida.
Construções, demolições,
Enlaces e desenlaces.
Também foram ditas
Palavras benditas,
Palavras malditas.
E se ouviu o silêncio,
Quando a última caiu
Ferindo e matando gente...
 
Mas, antes ou depois delas,
Eu sempre estou em Pedreiras.
Isso mesmo, o verbo estar
Conjugado no presente.
 
Em suma, quero dizer
Que, nessas minhas viagens
Ao passado mais remoto
E ao passado mais recente,
Posso estar dentro da história
De minha terra e meu povo,
Sem precisar me afastar
Do instante real que eu viva,
Sem ter que os pés arredar
Do lugar onde eu esteja.
 
                VI
 
As visitas ao presente
Ocorrem quando me encontro
De fato lá, em matéria,
Pisando literalmente
As pedras de minha terra.
 
É o caso de estar num bar,
Numa praça ou numa esquina
A conversar com amigos.
E, rápido, o pensamento
Transportar-me, por exemplo,
Para o meio da ponte.
A nova ponte de aço
Que substituiu
A ponte que caiu.
 
Então, ao sentir-me ali,
Alternando olhares entre
Pedreiras e Trizidela,
As duas já separadas
De direito, não de fato,
Comento comigo mesmo:
– Assim com o as outras três,
Esta ponte aqui foi feita
Para ligar os dois lados
Onde se abriga um só povo
Que vai se manter unido
Pela ponte e pelo amor.
 
               VII
 
O que venho aqui dizendo
Um descalabro parece.
Não para mim, pois entendo
Por que isso me acontece.
E, absurdo que pareça,
Gosto de que me aconteça!
 
Mesmo não sendo preciso,
Fica aqui um bom aviso:
– Só vai gostar deste meu
Poema quem tem amor
Pela terra em que nasceu.
Outro tipo de leitor
Não poderá compreender
O que, no fundo, ele encerra.
Rirá de mim com razão
E, com razão, vai dizer
Que sou um doido varrido
E devo ser incluído
Numa próxima edição
De Os Loucos de Minha Terra.
 
Ficaria magoado
Se me chamassem de omisso,
Mas não fico ao ser chamado
De louco, por tudo isso
Que meu peito sente, arpeja
E me incentiva a externar
De forma ardente e sobeja.
 
Trato o que assumo com zelo
E, se assumi que exaltar
Minha terra é meu dever,
Quando me ponho a fazê-lo,
Eu não consigo me dar
Ao conforto de escolher
A hora certa e o lugar.
 
Por isso louvo Pedreiras,
No ar, em terra ou no mar,
Com palavras verdadeiras
Que me dita o coração
E ficarei a louvá-la,
Enquanto puder usar
A língua escrita e a fala
Como forma de expressão.
 
Sei da possibilidade
De eu vir um dia perder
A minha capacidade
De falar e a de escrever,
Mas “bom cabrito não berra”.
 
Se por desdita ou castigo
Isso acontecer comigo,
Basta só que Deus me deixe
Pensar sempre em minha terra
Para que eu nunca me queixe.
 
Interromper este canto
Não vai deixar-me infeliz
Sujeito a dor, mágoa, pranto
Ou qualquer tipo de trauma.
Pois noutros cantos que fiz
Já deixei mais que evidente
O recado de minha alma
À alma de minha gente.
 
Por um amor tão profundo
Quanto possível se pense,
Fiz de Pedreiras meu mundo.
E sou, como pedreirense,
Filho que da mãe se ufana,
Vassalo que não esconde
A sua satisfação
Em servir a soberana
Daquelas férteis ribeiras
Do vale do Mearim.
Em qualquer situação
Envolvendo quando ou onde,
“Se não” estou “em Pedreiras,
Pedreiras” está “em mim”.
 
               Kleber Lago
 
Parabéns à Princesa do Mearim e seu nobre povo!
 
© Kleber Cantanhede Lago
 

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