Promessa feita, promessa
sendo cumprida. E aqui estão os poemas das folhas 21 a 40 do livro Amar
e Escrever:
CRIME E CASTIGO
Vão ouvir muito
a velha cantilena
em que afirmo
que amar-te é tão sublime
e que eu te amo
de maneira plena,
talvez bem mais
do que meu canto exprime.
Mas se por isso
o mundo me condena,
vivo pagando ao
mundo por meu crime
e, alegre,
cumpro minha doce pena
que tanto
agrada quanto não reprime!
A pena é
demonstrar como cresceu
em mim o que
parece demasia,
enfatizando
sempre que este meu
desejo de te
amar cada vez mais
é como a fome
que não se sacia
e a sede que
jamais se satisfaz!
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SÓ CONSIGO SER EU MESMO
Reconheço que, às vezes,
não resisto à tentação
de ser diferente do que sou,
numa espécie de curiosidade
de saber como eu seria em outro.
Até chego a dar
alguns passos nessa direção,
mas logo começo a me deparar
com atos, ações e pensamentos
incompatíveis comigo.
Então, faço o que devo:
paro, e dando um salto para trás,
caio de novo em
mim.
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FOI... É... SERÁ
Foi o
encontro
de
cargas de energia opostas,
traduzido
numa troca de olhares,
que
nos revelou, um para o outro...
Foi
apenas um dia
para
que ocorresse o primeiro beijo,
com
sabor de adolescência
e
calor de paixão nascente...
Foi
somente o tempo limitado
de
três curtos anos
para
que vivêssemos
sensações
ilimitadas,
que
tanto nos fizeram flutuar
entre
nuvens de ternura,
quanto
provocaram loucuras
que
deixaram hematomas
na
“pele” de nossas almas...
Não
foi mais que um instante
para
que nós, atores da história,
saíssemos
de cena,
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cada
qual para o seu lado,
e
as cortinas do palco se cerrassem,
sem
aplausos nem vaias
da
platéia...
Mas
é todo um resto de vida
para
carregar esse fardo de lembranças,
que
embora grande,
não
me pesa nada...
Também
será de leveza imensa,
e
sem o menor sinal
de
dor, magoa ou tristeza,
o
prazer que sentirei
em
levar esse fardo comigo
para
a eternidade...
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OPÇÃO
Amar! De vocação por mim sentida
inda na infância dos primeiros dentes,
inspirando-me afetos inocentes,
tornou-se minha faina preferida!
Amei e amo, nesta humana lida,
pai, mãe, irmãos, mulher, filhos, parentes
e amigos que estarão sempre presentes
em meus quadros de amor, por toda a vida.
Amar ou não amar? Se Deus um dia
ante o dilema me viesse pôr,
juro que, no momento de optar,
iria Lhe dizer que preferia
poucas horas a mais de muito amor
a viver um milênio
sem amar.
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PRONOMINAL
Só me senti
Gente de verdade
Quando aprendi a
ser EU.
Não um EU
Que sirva apenas a
MIM,
Mas um EU
pluralizado em NÓS
E capaz de
dividir-se
CONTIGO e também
com ELES
Para estar presente
em VÓS.
SER OU ESTAR
Se em dado momento
a poesia me chama,
vou de alma aberta,
dou-me inteiro,
fico nu,
não me cubro,,,
Mesmo assim,
sempre
descubro
em mim aquela
pergunta
sobre a velha
dúvida:
sou, ou estou poeta?
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MÃE-POESIA
Quando Deus à mulher deu a missão
de mãe, mostrou de forma bem direta
que Ele, o Senhor de toda a criação,
tinha também Seus dotes de poeta.
É que não há no mundo outra expressão
de poesia que seja mais completa,
em beleza, ternura e emoção,
do que uma mãe cumprindo sua meta.
Ser mãe traduz, na plenitude, o amor,
pouco importa o lugar de onde ela veio,
o status social, o credo e a cor...
Mãe é poesia escrita a tinta forte,
e que não sai jamais de nosso seio,
nem
quando a musa nos carrega a morte!
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OLHOS SORRIDENTES
Na festa, em que eu dividia
a mesa com conhecidos,
jovem senhora, morena,
bonita e muito gentil,
amiga dos meus amigos,
confessou diante de todos
não cansar de olhar meus olhos,
porque meus olhos sorriam,
revelando uma alegria
de perene mocidade.
Finda a festa, já em casa,
fui de repente arrastado
pela curiosidade
para diante do espelho,
e então pude perceber
que tanto meus lábios
quanto meus olhos sorriam,
porém de mim,
que quase me envaideci
com aquela confissão...
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EMBRIAGUEZ DE
ENCANTO
Seguindo
a esmo pela manhã clara,
Parei
ao ver, a dez passos de mim,
Um
tipo deslumbrante de jardim
Que
a própria natureza ali plantara.
Flores
bordando um manto de verdores!...
À
luz do sol, instantes alternados
De
pousos leves e balés alados
De
lindas borboletas multicores!...
Se
foi um sonho, o sonho aconteceu
Para
satisfazer minha estesia,
Com
a combinação de luz e cor
De
um quadro mais que lírico, em que eu,
Ébrio
de encanto, já nem distinguia
O
que era borboleta e o que era flor!...
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IGUAIS
Para a
boa convivência
em
grupos sociais,
ninguém
precisa ser
o maior
nem o menor,
o melhor
nem o pior.
Basta
sentir-se mais um
que a
outros veio juntar-se,
sem
nenhum preconceito,
e também
sem receio
de que o
vejam como é.
pois, no
fundo, bem no fundo,
todos
nós, seres humanos,
somos
iguais, pelo menos,
nesse
papel de hospedeiro
de
virtudes e defeitos...
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MEU AMOR POR VOCÊ
Espírito e
matéria para o amor:
Sapiência
divina, na receita
De que Deus se
serviu para compor
O poema
dualista mais perfeito!
Alma
sonhando!... Corpo com calor!...
É como a amo,
pois que de outro jeito
Não seria capaz
nem de supor
Que eu pudesse
sentir-me satisfeito.
Não sei se
minha ótica é correta,
Bem como se não
é meu perceber
Simples
deslumbramento de poeta.
Só sei que é
grande o meu amor. E creia
Que, se
comparo, sou capaz de ver
Todo o universo
como um grão de areia!
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INVEJA
Desequilíbrio
humano
Que se
inclui entre os chamados
Vícios capitais
E que
afeta invariavelmente
O espírito
egoísta
De quem,
não tendo em si certas virtudes,
Não
consegue aceitar que outros as tenham.
Graças a
Deus,
O
sentimento de inveja
Sempre me
passou ao largo,
Deixando-me
aprender bem cedo
A ter
consciência dos meus limites,
A aplaudir
os que foram além de mim
E a
incentivar os que se esforçam para ir.
Também me
faço cego, mudo e surdo,
Para os
que porventura me invejem,
Pois não
vejo nenhuma razão para isso.
Melhor
seria invejar os pássaros:
Eles voam
com as próprias asas,
Enquanto eu
nunca sairei do chão
Por mais
que bata os braços.
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AQUI E AGORA
Vou parafrasear velho ditado
para lembrar a “quem guarda com
fome”
que tudo aquilo que se tem guardado,
muitas vezes, “o bicho vem e
come”...
Sabe-se o que é presente e o que
é passado,
porém futuro ainda é só um nome
dado ao que, simplesmente
idealizado,
vira dúvida atroz que nos
consome.
E antes que eu prove que um mais
um são dois,
toda a minha esperança num
depois
pode a morte apagá-la de
repente.
Por isso, a cada instante, a
cada hora,
eu me dou por inteiro, aqui e
agora,
enquanto
estou vivendo o meu presente.
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SATISFAÇÃO
Num desses meus
pensamentos
que me chegam de
relance,
me pedias um
presente,
de valor material
acima do meu
alcance.
E no instante
imaginário,
lá fiquei, meio
abatido
e quase a cair em
pranto,
ante a
impossibilidade
de atenção ao teu
pedido.
Então te achegaste
a mim,
e uma boca de batom
desenhaste no meu
rosto,
dizendo logo em
seguida,
em doce e suave
tom:
– Que isso faria
falta
não devias nem
supor,
porque já me
satisfaz
o que de mais
valioso
tens me dado: O TEU
AMOR...
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ESCUTO TEUS OLHARES
Nada mudou nos
íntimos instantes
a que ainda nos
temos dado tanto:
tudo se mostra
igual ao que era antes,
em matéria de
amor, ternura e encanto.
E aqui estamos
nós, ternos amantes,
em livre
entrega de um ao outro, enquanto
efeitos aromais
inebriantes
o amor produz e
espalha em nosso canto.
Assim, depois
que o corpo te pontilho
de beijos,
sinto em teus olhos felizes
um desejo
exprimir-se em forte brilho.
E te atendo,
apesar de te calares,
pois escuto o
que, em suplica, me dizes
na voz
silenciosa dos olhares.
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CONFIRMAÇÃO
Sei que li, não
lembro onde,
um texto de teor
mais ou menos assim:
- O homem sempre tem
a idade com que se
sente;
sua capacidade de
amar
e de se fazer amado
é a que ele acredita
ter;
e sua força de
realização
assume o tamanho do
seu sonho,
desde que ele não se
torne
um sonhador do
impossível.
Ontem, no silêncio
da noite,
não sei por que
cargas d’água,
essa assertiva veio
visitar-me,
e de repente me vi
envolvido nela,
a refletir,
refletir, até a conclusão
de que ela encerra
verdades,
pelo menos, no que
guarda
relação com minha
vida.
Confirmei, aos meus
72:
- que enquanto vivo
um momento,
realmente me atribuo
a idade que o
momento exige;
- que, ao amar, dou
de amor
quanto creio poder
dar;
- que, sendo amado,
recebo
quanto fiz por
merecer;
- e, também, que
quando saio
à procura do que
quero,
sempre chego a uma
conquista
bem maior do que a
esperada.
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SORTE
Juntos
como sabor e cheiro em vinho,
nós dois – tu para amar-me, e eu
para amar-te –
gozamos o calor do mesmo ninho,
sem permitir que nada nos
aparte.
O nosso amor se nutre com
carinho,
e cada um de nós faz sua parte,
tal como neste instante,
agarradinho
contigo, aos beijos, fico a
confessar-te
que, sem nenhuma dúvida,
querida,
pretendo dar mais uns milhões de
passos
caminhando a teu lado pela vida,
porém se agora me levasse a
morte,
o fato de eu morrer entre teus
braços,
muito além de prazer, seria
sorte!...
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CONJUGANDO A VIDA
Meu
amor, sei que te AMO
Muito
mais do que eu AMEI
A
todas as que me AMAVAM
Nos
anos da mocidade.
Por
querer Deus que eu te AME,
É
que sempre te AMAREI,
E
digo que te AMARIA,
Mesmo
que tu não me AMASSES.
Nessa
hipótese, eu daria
Mais
razões para me AMARES
Até
chegar a sentir-me,
de
fato, por ti AMADO.
Seria,
pois, a maneira
Mais
certa de proceder,
A
fim de que acontecesse
Tudo
o que agora acontece:
Nós
dois, juntos, nos AMANDO
Num
quadro em que a existência
Vira
um eterno momento
De
uma alegria sem par,
Sem
estresse, e ambos tomados
Pela
emoção de uma prece,
Fazendo
a conjugação
Do
viver – no verbo AMAR.
Sempre
no tempo presente
De
seu modo indicativo,
Mas
na forma afirmativa
E
na primeira pessoa
Do
plural, trazendo um “nos”
(oblíquo)
como objeto,
Marcando
em sua função
Plena
reciprocidade...
Plena reciprocidade...
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VISITA A MOMENTOS
DA
INFÂNCIA
Ao voltar para a infância o
pensamento,
vejo a pequena Vera na calçada
e com ela combino um casamento,
igual àqueles dos contos de
fada...
Sinto, também, a angústia do
momento
em que ela parte, pelos pais levada,
e
eu começo a amargar o sofrimento
de
perceber minha ilusão frustrada.
E
eu lá... Ainda pré-adolescente,
já
poetando um fim de fantasia
e
a cena que ficou em minha mente,
a
golpear-me como dura clava,
onde
a doce esperança que partia
dava
vez à saudade que chegava...
|
EXTREMO
Ao
te dar meu amor
exagerei
nas doses,
a
ponto de fazer-te abusar
de
tanto ser amada.
E
por não conseguir livrar-me
desse
modo exagerado
de
dedicar-me a ti,
restam-me
as conseqüências
dos
meus exageros.
Sujeito-me
a ter-te a meu lado
sentindo-te
ausente,
aceito
tuas recusas
às
minhas carícias
e,
ainda, mostro cara de feliz...
Nessa
obsessão por te amar,
esqueço-me
de mim,
fico
perdido
até do sentimento
de amor-próprio!...
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39
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40
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[Lago, Kleber. Amar e
Escrever. São Luís: KCL,
2014]
Muito
Obrigado!
Kleber Lago
© Todos os direitos
reservados ao autor.
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