(Castelo Leicam - Pedreiras-MA)
O
espaço do blog, que já serviu para mostrar Jardelina, Faustino
Cacete, Zé do Saco, De Arrouba, Pequapá e Tonico
(Quebrou), será hoje ocupado por mais dois capítulos do livro-poema Os
Loucos de Minha Terra, do qual tenho muito orgulho, pois quem o leu
facilmente pôde perceber que a minha intenção, além do resgate de personagens
que pertencem à história de Pedreiras-MA, foi também a de justificar, com o
devido respeito e sem denegrir a imagem de nenhum deles, que suas diferenças
comportamentais, às vezes entendidas como meras atitudes insanas, refletiam, em
diversas situações, formas espontâneas de dar satisfação a uma necessidade pessoal
ou mesmo a um impulso para interação com os outros, o que, segundo a “consciência”
deles, talvez fosse tomado como exigência do ambiente social em que viviam.
O
fato é que o livro foi bem aceito, tornou-se tema de monografias, artigos e
outros trabalhos de cunho científico. Mérito exclusivo dos queridos “loucos de
minha terra”!
VI – Zé
Frito
Zé Frito, tipo empolgado,
sempre andava bem trajado.
A despeito da loucura,
tinha amigos na cidade
e, junto à comunidade,
agia com compostura.
Numa de nossas pilhérias,
quando estávamos de férias
no meio e no fim do ano,
fazíamos, “formalmente”,
dele o nosso presidente.
E isso o deixava ufano.
Em noturnas caminhadas,
íamos pelas calçadas;
ele, em destaque, na frente,
enquanto nós (doze ou mais)
exclamávamos atrás:
– Viva, viva o presidente!
Costumávamos parar
sempre no mesmo lugar:
em frente ao Cine Pedreiras,
onde, à noite, se juntavam
pessoas que apreciavam
aquelas farras ordeiras
Zé Frito, pé ante pé,
da calçada do Borgneth*
|
seus discursos proferia,
repetindo, em alta voz,
as asneiras que um de nós,
baixinho, lhe transmitia:
– Meus povos e minhas
povas,
Aleluia! Boas novas
trazer a todos, eu vim.
Construirei, bem defronte
da prefeitura, uma ponte
por baixo do Mearim.
Pra fazer a grande obra
que todo mundo me cobra,
contratei a engenheira
de maior capacidade
dentro de nossa cidade,
a doutora Pau-Pereira...
E férias seguindo curso,
toda noite era um discurso,
no final da caminhada...
Zé Frito, ao lado da gente,
exultava e, de contente,
não desejava mais nada.
Nós lhe dávamos abrigo,
por tê-lo como um amigo
do peito, como se diz.
Toda aquela gozação
tinha uma justa razão:
vê-lo, três meses, feliz.
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VII - Beta
Beta, a velha rapariga,
não
passou pela Formiga*,
mas se
fez especial,
iniciando
a metade
dos
rapazes da cidade
na vida
sexual.
Numa casa
da Golada*,
baixa
quente e apertada,
ela, à
tarde, recebia
sem
qualquer constrangimento,
mediante
um pagamento,
sua jovem
freguesia.
O preço
por três parceiros
era, em
média, dez cruzeiros,
quantia
que, no comum,
por um
momento feliz
qualquer
outra meretriz
dali
cobrava por um.
Contudo, no meretrício
onde exercia o ofício,
|
enquanto esse um faltava
às outras, de três em três,
nos trinta dias do mês
Beta
sempre “faturava”.
Não falhava o seu esquema!
Cedo, em
frente do cinema,
Procurava
algum rapaz...
E, à tarde, lá na Golada,
na hora pré-combinada,
estavam ele e dois mais.
Depois de feita a coleta,
com a grana já completa,
um escolhido entre os três
entrava. E, por meia hora,
os demais ficavam fora,
aguardando sua vez.
Um saindo e
outro entrando,
Beta só parava, quando
cumpria o
pactuado.
Assim, mesmo
já caída,
pagava o
teto, a comida
e o remédio
controlado.
|
Obrigado aos leitores pela atenção que têm dispensado
a este blog.
Kleber
Lago
Vou começar tudo novamente por que citei Gonçalves Dias e ele por acanhamento apagou o que escrevi. É que não tendo uma BETA, nós crianças do sertão, tivemos nossas iniciações botando chifre nos bodes..
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