(Imagem compartilhada do Google - recantrodasletras.com.br)
Sonetear é
uma de minhas maiores paixões. Uma tarefa que executo com facilidade, quase de
forma espontânea, sem precisar escandir versos e sem muito esforço para
encontrar rimas adequadas e não apelativas. Mas não posso esconder que o
sonetear sempre me leva a misturar ao que sou um pouco do que gostaria de ser,
permitindo-me recriar-me imaginariamente, dentro de um contexto em que, às
vezes, não caibo. Por isso mesmo, aprendi a conviver com os dois entes em que
me divido: o poeta – que se serve de sentimentos e sensações que se despertam
em mim e os transforma em versos, capazes de provocar emoções nos outros;
e o homem – que na sua maneira humilde de ser, sente-se feliz como vive, e mais
feliz ainda por querer, sem ciúme e sem inveja, que os seus semelhantes sejam
tão felizes ou ainda mais felizes do que ele.
Esta nova mostra contém sonetos já publicados em minha página no Facebook
e em páginas das comunidades literárias de que faço parte, e logo estarão reunidos
com outros em um novo livro. Espero que sejam do agrado dos estimados leitores deste
blog.
RESGATE
Moço, sem Fé, do tipo tresloucado,
sempre entregue às orgias e ao prazer,
julgava-me feliz, até me ver
vencido pelas forças do pecado.
Depois, no poço em que eu fora jogado,
caído, sem vontade de viver,
cheguei a me sentir um pobre ser
– corpo e alma no escuro – arruinado...
Mas Cristo, me estendendo as mãos
divinas,
resgatou-me do poço das ruínas
e para a luz me trouxe novamente.
Desde então, venho andando sem
fracassos,
pois qualquer obstáculo a meus passos
Ele me aponta, e posso ir em frente!
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EMOÇÕES EM LEMBRANÇA
Emoções!...
Tantas guardo na lembrança!...
Pouco
importa se duras ou se amenas,
Hei
de mantê-las indeléveis, plenas,
Como
estas que tive, ainda criança:
Duas
casas da mesma vizinhança,
Uma
da outra a dez passos apenas,
Ambas
mostrando, ao mesmo tempo, cenas
Tão
carregadas de dessemelhança.
Em
uma, a chama da alegria acesa
E
o tinir de cristais, em brinde à vida
De
um novo ser trazido pela sorte.
Na
outra casa, a sombra da tristeza
Cobrindo
a dor, na amarga despedida
A
quem partiu levado pela morte.
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P I P A
Lá estava no céu se apresentando
uma pequena pipa, flutuante,
presa à linha, a bailar sob o comando
das mãos habilidosas de um infante.
Erguia-se, baixava vez em quando,
recuava e em seguida ia adiante,
depois de um duplo ladear, guinando,
tanto mais bela quanto mais
distante!...
E enquanto a esse balé ia assistindo,
eu enxergava um quadro de poesia
desenhado, no céu de azul tão lindo,
pela pipa e seus rabo de algodão,
no qual, em pensamento, eu me sentia
pendurado, a voar pela amplidão!...
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FANTASIA INFANTIL
Brincávamos durante o dia inteiro,
em casa, no quintal ou na calçada,
mas mamãe tinha já por rotineiro
pôr na cama bem cedo a meninada.
Não antes do discurso costumeiro
de que a criança ia ficar mirrada
e o sol ia perder o seu luzeiro,
sem um bom sono após cada jornada.
Na mente, desenhava um sol – cansado
de brincar pelo céu – a esmaecer,
enquanto eu, pelo o sono dominado,
quedava a imaginar que o sol dormia,
igual a mim, para se refazer
e despertar mais forte no outro dia...
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REFLEXÕES (EM OUTRO PLANO)
Imaginei-me ao lado do Senhor,
no outro plano, a buscar em minha
história
se o que Ele me ensinara sobre o amor
pude aplicar na humana trajetória.
Conferi tudo, sem tirar nem pôr,
e concluí ter sido meritória
minha acolhida para o esplendor
da vida, no imortal Reino da Glória.
Isso inferi, em face do prazer
que eu sentia, ao deitar-me, consciente
de que amei sem retorno pretender,
e ao ir recomeçar cada manhã,
feliz, minha missão de encontrar gente
para amar, cada vez com mais afã!
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ENTRE VITÓRIAS E DERROTAS
Sei caminhar descalço, numa boa,
Sempre que são de chão macio as rotas.
Pisar pedras, porém, não me atordoa,
Pois para isso calço minhas botas.
Por vitórias, minh’alma não entoa
O canto das vanglórias idiotas,
Porque, a exemplo de qualquer pessoa,
Também costumo ter minhas derrotas.
Mas, se caio e na queda me espedaço,
Nunca me abato, não me entrego ao
pranto,
Nem fico a lamentar o meu fracasso.
Mesmo caído, tento dar um jeito
De juntar meus pedaços, e levanto
Assim que me apercebo já refeito.
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ENXERTIA
Tu apenas me vias, bem igual
a mim que também mal te conhecia,
até que a sorte provocasse um dia
entre nós um encontro “casual”.
Foi esse encontro o passo inicial
para uma convivência em harmonia
da minha incontrolável ousadia
e o teu recato comportamental.
Dois simples talos de distintos ramos,
de aparente incompatibilidade,
nos atraímos e nos enxertamos.
E desde então, vamos crescendo unidos,
dando, no amor, sustentabilidade
aos novos ramos de nós dois nascidos.
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POR CAUSA DOS EXCESSOS
Uma aurora; um poente; um sobe e desce
de marés; uma noite enluarada;
um rio a desenhar curvas em esse;
um bando a levantar-se em revoada;
uma ave canora que emudece
ao se ver de repente engaiolada;
um grupo humano ajoelhado em prece;
um... (Paro aqui, sem escrever mais
nada.)
Não falha! Em referência aos meus
poemas,
sempre deixo incompleto um rol de
temas,
em razão dos excessos que cometo.
Esse último eu pus de lado, quando
percebi que o estava organizando
na clássica estrutura do soneto...
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CONDIÇÃO SINE QUA NON
Numa manhã de
sol; na queda de uma folha;
na leveza da
pluma a flutuar ao vento;
na noite de
luar; na rosa que se colha
para ofertá-la
a quem nos traz contentamento...
Num abraço de
amor de alguém que nos acolha;
nos cuidados da
mãe, com seu olhar atento;
e até mesmo no
ato em que pequena polha
agacha-se e se
entrega ao acasalamento...
Enfim, no que
ele vê, tateia, pensa ou sente,
acha o
versejador a poesia latente,
pronta a
fazer-se verbo, em variados temas.
Mas na
satisfação de tal desiderato,
bom poeta será
somente quem de fato,
mais que
versos, mostrar poesia em seus poemas.
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Mais uma
vez manifesto meus agradecimentos aos queridos leitores.
Kleber Lago
©
Todos os direitos reservados ao autor.
Sonetos lindos e artisticamente bem estruturados! Parabéns!
ResponderExcluirMáximo Figueira