O TEMPLO DE SÃO BENEDITO – SÍNTESE HISTÓRICA
No ano de 1887, por ordem e a expensas do rico senhor de escravos Manoel Corrêa Baima do Lago, ergueu-se uma capela, com paredes de taipa e cobertura de telhas, no local onde hoje se acha a suntuosa igreja de São Benedito. Nessa capela e no mesmo ano, foi celebrada a primeira missa em solo pedreirense, pelo vigário de São Luís Gonzaga, José Gonçalves de Oliveira, tendo sido São Benedito oficialmente proclamado padroeiro do povoado de Pedreiras.
Alguns anos depois, em virtude de chuvas torrenciais, a capela ruiu, soterrando a imagem do padroeiro, a qual, por milagre do santo, conforme diziam os moradores mais antigos do povoado, foi removida dos escombros, sem nenhum dano. Ali, no mesmo local, em 29 de junho de 1918, o Frei Germano de Maria da Cedrate, proveniente de Barra do Corda, lançou a pedra fundamental da futura igreja que, totalmente pronta, foi inaugurada no dia 7 de setembro do ano seguinte.
Depois do retorno do Frei Germano à cidade de origem, foram vigários em Pedreiras os padres Jaime Brito Barbosa, João Severo de Oliveira e José Ribamar Raposo. Esse último, por motivos ignorados, mandou demolir a igreja. Coube ao seu sucessor, Cicinato Ribeiro do Rego, a missão de construir a nova igreja que, para tristeza dos pedreirenses, desmoronou na manhã de 20 de março de 1946. Mas Cicinato não desistiu de seu propósito. Com apoio da comunidade e sob orientação técnica do construtor Manoel Pereira da Silva (Mestre Neco), conseguiu presentear a Princesa do Mearim com o mais belo e imponente templo católico da região.
O prédio mantém até hoje as características de quando foi levantado por Cicinato, tendo sua estrutura e área externa recebido algumas alterações, a exemplo da ampliação na parte posterior da igreja e construção do grande patamar com a escadaria que lhe dá acesso, no período em que era pároco o Mons. Gerson Nunes Freire. Pouco mais tarde, a construção da capela anexa, na lateral esquerda do prédio, quando a paróquia era dirigida pelo Pe. Jacinto Furtado de Brito Sobrinho, hoje bispo de Crateús-CE.
O FESTEJO DE SÃO BENEDITO
A história do culto a São Benedito, nas terras de Pedreiras, confunde-se com a da própria colonização daquela parte do Mearim, pois os louvores ao “santo negro” foram integrados aos rituais de danças, cantos e batidas de atabaques com que os negros escravos de algumas fazendas da região homenageavam seus ídolos e divindades.
Pedreiras só se tornou paróquia em 11 de maio de 1940, por decreto do Arcebispo Metropolitano Dom Carlos Carmelo Vasconcelos Mota. Mas, segundo o que se veio passando de pai para filho, a tradição de festejar o Glorioso Santo, com novenas, montagem de arraial, queima de fogos e procissão, vem desde os tempos em que ele fora eleito padroeiro do povoado. É, pois, uma tradição centenária, cujos rituais foram se adaptando à maneira de ver, ser e querer da comunidade católica, para se tornar uma das maiores e mais belas manifestações de fé cristã de todo o Estado do Maranhão.
No ano de 2009, esta tradição pedreirense foi ameaçada, por uma proposição de se excluírem alguns itens rituais do festejo, como alvorada, queima de fogos e mensagens por meio do serviço de alto-falante da paróquia. A mim, que sou devoto de São Benedito, fiel romeiro de vinte oito anos consecutivos e que faço as vezes de poeta, não me restou outra alternativa: em defesa da tradição, escrevi o poema que abaixo transcrevo, tornando-o conteúdo de um folheto editado em 1.000 exemplares, que mandei distribuir na cidade de Pedreiras.
DEIXEM TUDO COMO ESTÁ
Antes só uma capela De edificação singela, Feita para o seu louvor... No entanto, já em Pedreiras Ocorriam as primeiras Festas ao santo de cor, Escolhido desde então Pelo povo bom e ordeiro Para ser o padroeiro Da jovem povoação. Bem mais de cem anos faz Que se cumprem rituais De rezas e procissões, E que, ao fim de cada ofício, Sobem fogos de artifício Para os céus. As explosões Não são, pois, um fato novo: A paróquia, ao ser criada, Já encontrou consagrada Tal tradição pelo povo. Passou a ser um direito Que se enquadra no conceito De consuetudinal. O que consagra o costume (Ou a tradição) assume Certo aspecto legal. Essa expressão laudatória Ao padroeiro, em verdade, É da vida da cidade, Faz parte de sua história. O que é da história é sagrado E não pode ser mudado Por uma norma, assim penso. Há leis cuja aplicação Não exige coerção, Às vezes, e sim bom senso, Mormente quando os motivos Da questão são culturais, Onde devem pesar mais Os anseios coletivos. A “Lei do Meio Ambiente” Afigura-se impotente Em muitas situações. - Quem proíbe, nos quartéis, As ordens dos coronéis Para as salvas de canhões, Uma das tradicionais Formas de manifestar Homenagem militar Às datas nacionais? | - Quem pode, no carnaval, Privar o som infernal De uma grande bateria, Ou impedir o barulho Do trio elétrico, orgulho Dos foliões da Bahia? - Quem, neste Brasil, reprime O fervor com que a torcida Comemora enlouquecida As conquistas do seu time? - Quem silencia a turbina De um jato que desatina, Com ruídos absurdos, Não somente os que são bons À percepção dos sons, Mas até os pobres surdos? - Quem protege os seres vivos Da emissão do gás terrível Da queima de combustível, De efeitos mais que nocivos? - Quem no mundo desabona Os fogos que, em Barcelona, Em Nova Iorque, em Paris E no Rio, queima o povo Em louvor ao ano novo? - Quem, nesse instante feliz, É capaz de não sentir Que, em seu simbolismo, os fogos Traduzem júbilo e rogos De paz e bem no porvir? Eis aí perguntas postas Que ficarão sem respostas. Então, voltemos ligeiro À terra onde ameaçadas Estão as honras votadas Ao seu santo padroeiro. E agora se faz preciso Chamar todos os que estão Envolvidos na questão Ao bom uso do juízo. Festejar São Benedito Com foguetes é um rito Que não faz mal a ninguém. Posso afirmar que, ao contrário, Tal costume centenário Às almas só causa o bem. Também dos alto-falantes Os fracos sons emitidos Não ferem nem os ouvidos Delicados dos infantes. | São cinquenta mil pessoas, Cinquenta mil almas boas Entregues o ano inteiro Ao coletivo desejo De ver chegar o festejo... E quando tange o sineiro Os dois sinos da matriz E começa a saraivada Dos foguetes da alvorada, O povo acorda feliz. A luz da felicidade Envolve toda a cidade Que, de maneira serena, Repete os atos sagradas Nos horários programados, Durante toda a novena. “Voz da Paróquia” no ar É lembrança imorredoura De Cordeiro, de Fontoura, De Gerson e de Ribamar!... Proponho aos nobres senhores Juízes e promotores Que tenham muita cautela. Pedreiras vê como insulto Interferências no culto Ao santo patrono dela. Decidir com imprudência, Contrário ao que o povo quer, É dar o prato e o talher Para a desobediência. Confesso que não encontro Registro de igual confronto Pelos públicos arquivos. Mas sei que, em mais de cem anos, Nunca provocaram danos Esses costumes festivos. Com fogos, em meu torrão Ninguém jamais se queimou. E se alguém surdo ficou, Foi só à voz da razão. Portanto, o certo a fazer É não usar o poder Da lei contra a tradição. Se de tradição se trata, A solução mais sensata É deixá-las como são. E, nesse caso restrito, Quem procede desse jeito Ganha dos céus o respeito E as bênçãos do Benedito. |
(Kleber Lago, Deixem tudom como esta / Menções, Cantos e Louvores)
As alvoradas, as missas, o estrondo das ronqueiras disparadas à beira do rio, a queima de fogos, as procissões, os arraiais sempre me fascinaram, desde os tempos da infância a que a memória me permite chegar. E no curso de minha vida de exercício poético procurei exprimir essas emoções em versos, como os que passo a mostrar:
PROCISSÃO DE SÃO BENEDITO Faz o sineiro as últimas chamadas. Ouve-se, então, o estrondo das ronqueiras Por Thiago e Tiúba disparadas, Louvando o padroeiro de Pedreiras. O andor, cheio de rosas bem cuidadas, Entre velas acesas e bandeiras, Nos ombros dos fiéis desce as escadas E segue pelas vias rotineiras. Em seu trajeto a procissão se expande. Quando retorna ao largo, a fé lampeja Na massa humana imensamente grande Que ouve a missa campal e cumpre o rito De conduzir o andor de volta à igreja, Cantando o “Salve, Salve, Benedito!” (Kleber Lago, Um Pouco de Cada Momento) EXERCÍCIO DE FÉ Os sinos e as saraivadas De fogos nas alvoradas Soam dentro da cidade Como cânticos de amor, Nos nove dias de festa, Nos quais a comunidade Cristã de Pedreiras presta Honras ao santo de cor. Desde o Engenho à Trizidela Todo o povo se constela Para o gozo benfazejo De um exercício contrito De fé em Nosso Senhor, | No abençoado festejo Que a terra faz em louvor Ao seu patrono bendito. Lindo é tudo o que acontece – Do ato sacro à quermesse – Enquanto perdura o preito Alegre, intenso e efusivo Que, dentro e fora da igreja, Envolve do mesmo jeito Quem sabe por que festeja E quem não sabe o motivo. Há provas de devoção Nas missas, na procissão. Também no ato campal, Que reproduz o bonito Das grandes apoteoses, Quando, uníssono, um coral De bem mais de dez mil vozes Canto o “Adeus, São Benedito...” Adeus, feito em tom de prece, Que sempre mais fortalece Esses encontros humanos De amor e de fé sem fim, Os quais almas sobranceiras Ainda por muitos anos Repetirão em Pedreiras, Princesa do Mearim. Pedreiras tem seus encantos, Seus mistérios, e são tantos Que expressá-los mal consigo Nos versos que tenho escrito. Nõ entanto, são verdadeiras Minhas razões quando digo Que não concebo Pedreiras Sem o seu São Benedito. (Kleber Lago, Menções, Cantos e Louvores) |
O Festejo de São Benedito, em Pedreiras-MA, ocorre todos os anos, em novembro, iniciando-se na sexta-feira que antecede o penúltimo domingo e se encerrando no último domingo do mês. Para todos, é tempo de renovar o espírito de fé e cristandade. Para os pedreirenses que estão fora e fazem a peregrinação, tempo de matar saudades. Para quem nunca viu e queira fazer-se presente, oportunidade de participar de um dos mais belos movimentos do catolicismo, em terras maranhenses.
Kleber Lago
Saudades da festa, muito bonito.
ResponderExcluirAmélia
Nunca vi, mas deve ser muito bonito e envolvente.
ResponderExcluirCarlos Borges
Boas Vindas! Parabéns!
ResponderExcluirJá é um dos meus favoritos, seu link está na nossa página.
ResponderExcluir