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A partir da idéia de escrever sobre
“amores proibidos”, passei a imaginar e a poemizar diferentes situações entre
uma mulher e um homem, presos a compromissos de outra situação (real),
descrevendo o fascínio e o prazer de seus imaginários encontros secretos. Foram
tantos os poemas escritos sobre isso, entre os quais os que constam desta
postagem, que pude dar cumprimento àquela intenção e chegar a encerrar tal
etapa poética com um inusitado desenlace, descrito em soneto, no mesmo estilo
dos poemas anteriores.
MESMO
EM SEGREDO
Tudo foi espontâneo... Tu e eu
nada premeditamos. Simplesmente
de uma troca de olhares, o envolvente
instante de carinho aconteceu.
O teu rosto tocou de leve o meu,
e veio o beijo... Daí para frente,
a emoção se fez grande e tão potente
que do bom-senso a voz emudeceu...
Quando nos demos conta, já os dois
não estávamos mais em condição
de voltar ou deixar para depois.
E agora?... O
que nos resta é não ter medo
de estender o prazer da relação
de ternura entre nós, mesmo em segredo.
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“DELETÁVEL...
INDELETÁVEL”
É quase toda noite:
o bate-papo virtual,
em secreto e recíproco exercício
de um “escreve-lê-deleta”,
para que não fiquem sinais
das carícias de palavras
que sempre, inevitavelmente,
vão materializar-se
na tarde do dia seguinte,
em momentos presenciais
que são forçados a manter
também em segredo,
mas impossibilitados de deletá-los
de suas memórias...
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A T E
N Ç Ã O
Tu estavas ali,
estirada na cama,
plenamente desnuda
de vestes e pudores,
a exalar desejos
num espontâneo contrair
e descontrair de músculos...
E pareceu-me ouvir
gritos quase alucinantes
de teu corpo ardente,
a implorar de mim
o que, naquele momento,
eu não me supunha
capaz de te dar.
Mas a força dos gritos
– em som de súplicas
que só quem ama escuta –
mudou-me o estado de espírito
e, sem que eu desse conta,
já me estava atiçado o desejo
de atender aos teus apelos.
Então, fui abafando cada grito
com a dose de carícia apropriada,
até que teu corpo relaxasse,
satisfeito, saciado
e em profundo
silêncio...
|
AOS
PRETENSOS JUÍZES
Situações me acontecem
de maneira inusitada,
e não me resta, senão
nelas deixar-me envolver
sem qualquer questionamento
quanto a se certas, ou não.
Vou me deixando levar
pelos ventos da emoção;
vivo-as e as procuro ver
como sendo naturais,
enquanto me fazem bem,
enquanto me dão prazer.
Quem acha que estou errado
mostre-me quem nunca errou,
ou então me ensine um jeito
de evitar que as doces setas
atiradas por Cupido
venham cravar-se em meu peito.
Sou um simples ser humano,
posso até ter alma forte,
mas “a carne é fraca”... Assim,
quando erro por amor,
dou “bananas” a quem queira
fazer-se juiz de mim!
|
O
VÍCIO DE VOCÊ
Sinceramente, sinto-me um menino
sempre que com você, tardes inteiras,
envolvo-me em adultas brincadeiras
em que demonstro quanto sou “malino”.
Você cai em gostoso desatino,
sob o calor de lúbricas fogueiras
que acendo, a explorar de mil maneiras
as curvas do seu corpo pequenino.
... Penso em abdicar a certos vícios
que já se me tornaram de rotina,
embora isso me custe sacrifícios.
Mas não incluo aí aquele que
é, entre todos, o que mais domina
minha vontade: O VÍCIO DE VOCÊ!
|
TROVINHAS
Eu te conheci – menina,
amo-te hoje – mulher,
e se essa é nossa sina,
que seja o que Deus quiser!
A Ele tenho louvado,
ao som do meu alaúde.
por este amor que é pecado,
mas tem gosto de virtude.
Quem não ama é quem condena
nosso caso, e como dizes,
importa é que vale a pena
e nos tem feito felizes.
Saibam os nossos censores
que tudo o que é doce e terno,
como os sonhos e os amores,
não ganha lugar no inferno.
|
REVOGAÇÃO
Depois de horas e horas
de ternura e de prazer,
de repente me fitaste
com um sorriso nos olhos,
perguntando o que eu faria
se estivesses a dizer-me
que tu tinhas decidido
terminar tudo entre nós
a partir daquele instante.
Se essa pergunta não fosse
feita em tom de brincadeira,
eu fingiria aceitar,
mas logo te expressaria
toda a minha gratidão
por haveres conseguido
reativar certas chamas
que já estavam se extinguindo,
aos poucos, dentro de mim.
Então, eu te apertaria
bem forte contra o meu peito
para que, sentindo em ti
o bater descompassado
do meu velho coração,
conseguisses entender
quanta falta me farias,
e de pronto revogasses
tua boba decisão...
|
ENQUANTO
VALHA A PENA
Quando Cupido trouxe por mister
juntar-nos, também veio ele incumbido
de afastar o bom-senso de qualquer
poder de se fazer por nós ouvido.
Até então, não tínhamos sequer
suposto o que nos tem acontecido:
eu – contigo a enganar minha mulher;
tu – a trair comigo teu marido...
Se impura a relação, quem vai dizer
é Deus quando chegar a hora certa;
assim, aproveitemos o prazer
de, na sobra de vida tão pequena,
gozá-la e, embora não de forma aberta,
senti-la eterna enquanto valha a
pena!...
|
O
ESPETÁCULO
Se pudessem ser
abetas as cortinas
do palco onde
acontecem
nossos encontros
secretos,
todos enxergariam
a verdade
dos quadros que
figuram em poemas
como meras
fantasias poéticas.
Imagino a platéia
não-virtual
delirando a cada
cena de nós dois
num instante de
amor:
Em minha mente,
nenhum espectador
consegue abafar
aquele suspiro
provocado pela
emoção
de perceber que
as palavras mudas
pronunciadas
pelas minhas carícias
estão sendo
entendidas pelo teu corpo
que, em frêmitos,
se funde ao meu,
ao calor de
luxuriante loucura,
diante de um
relógio de cabeceira
que parou os
ponteiros,
atestando que
tempo não é medida
para a
intensidade de um prazer...
Chego a ver
o final
apoteótico do espetáculo,
em que os nossos
corpos relaxam
lado a lado,
entre lençóis amarrotados.
cada um de nós
com o sorriso próprio
de quem espera o
início de uma nova sessão,
quando a platéia
inteira se põe de pé,
aos gritos de
BRAVO!... BRAVO!...
|
|
“NIL NOVI SUB SOLE”
Ninguém imagina seres tu
quem protagoniza comigo
as cenas desse amor
de que falo em meus poemas:
amor que temos vivido em plenitude,
à distância dos olhares alheios
e do qual são testemunhas
apenas os espelhos que refletem
os momentos de prazer que ele nos dá.
Se alguém soubesse disso,
sem nenhuma dúvida,
eu estaria sendo ridicularizado
pelo fato de quase te ter
carregado no colo;
e os dois estaríamos,
inevitavelmente, expostos a julgamentos
por traição aos nossos companheiros
de união formal.
Sem a menor preocupação
quanto a estarmos certos ou errados,
torço por que esse nosso segredo
nunca se revele,
e por que não morra o encanto
dos mágicos momentos
em que a força da paixão
me permite atender
a todos os apelos de tua lascívia,
com relativo entusiasmo,
que até me faz lembrar de mim
nos meus tempos
de moço
afoito e travesso.
Vou fazer o possível
para que esses momentos
continuem a ser vividos por nós,
sem que percamos a certeza
de que não nos cabe a culpa
de a emoção não ter dado tempo
para a razão impedir
o primeiro olhar, o primeiro toque,
o primeiro beijo, o primeiro abraço,
responsáveis pelo intenso envolvimento
de que nos tornamos escravos:
no começo, por impulsos instintivos;
agora, por decisão voluntária.
Condenáveis que sejam nossos atos
para os olhos do mundo,
“nada há de novo sob o sol”;
e não fomos os inventores,
não somos os primeiros,
nem seremos os últimos
a viver esse tipo de relação...
|
NÃO FAZ DIFERENÇA
Fico
meio abobalhado,
perdido
em minha vaidade,
quando
ela põe os olhinhos
mirando
bem fundo os meus
e me
diz, quase em sussurro,
de
maneira carinhosa,
que me
ama e que me quer
para
sempre em sua vida.
Sinceramente
acredito
em tudo
o que ela me fala,
pois
aprendi a entender
o
sentido dos olhares
que ela
lança para mim;
e quando
estamos sozinhos,
o que
ela diz com palavras
sempre
os olhares confirmam.
Se sou
gordo e ela magrinha,
se ela é
jovem e eu maduro,
isso não
faz diferença,
porque o
amor verdadeiro,
que se
nutre de ternura
de
emoção e de prazer,
não
considera aparência
nem sabe
contar idade.
|
QUE DEUS ME CONDENE
Não
sob um céu de estrelas e de lua,
mas
em noite de quase primavera,
aconteceu
ali, em plena rua,
o
início deste amor que em nós prospera.
Um
beijo uniu a minha boca à tua,
gerando
uma ideal atmosfera
para
a mim te entregares de alma nua
do
que teu casamento te impusera.
Hoje,
ao sentir que nunca terá fim
o
nosso envolvimento de pecado,
humildemente
estou pedindo a Deus
que
a culpa inteira caia sobre mim
e
que sem dó eu seja condenado
a
ter presos meus dias, sempre, aos teus.
|
SEGREDOS
VESPERTINOS
Se
hoje eu tivesse a ventura
de
a lotérica sorte me alcançar
e
eu perdesse o bilhete premiado,
tenho
plena certeza
de
que não ficaria
a
lamentar-me,
pois
o único prêmio
que
me provoca ambição
é
a tarde de amor que passo
contigo
toda semana,
quando,
com certas doses de exagero,
sempre
queremos dar compensação
ao
que deixamos de fazer a dois,
no
curso de seis dias
de
ansiosa espera.
Sinceramente,
eu
não procuraria
o
perdido bilhete premiado
com
a avidez com que te procurei;
e
se acaso o encontrasse,
não
ficaria tão feliz
quanto
pude sentir-me
ao
perceber o gosto de desejo
no
beijo que puseste em minha boca
e
a fome de prazer
revelada
em teu abraço
–
convites irrecusáveis
para
afogarmos todas saudades
no mar de loucas carícias
desses
nossos segredos vespertinos!...
|
UM ANO, A CADA MÊS
Se ao referir-me a nós te oculto o nome,
é só por zelo a ti, pois nem um pouco
chega a me incomodar que alguém me tome
por quem, de tanto amar, se tornou louco.
Mas como não ser louco nesse mundo,
se um desejo maior do que o juízo
invadiu-me de um jeito tão profundo
e dominou-me, sem mandar aviso?!
Vê que este amor, de alguns meses de idade
que, nada tendo em si de sonho vão,
em termo de carinho e intimidade
tão grande e tão intenso já se fez,
a ponto de causar-nos a impressão
de que completa um ano, a cada mês!
_________
PARTILHA
Creio
ter sido a sorte generosa
ao
provocar nossa união, tão cheia
de
prazeres que a gente agora goza
e
que a vida de risos nos recheia.
Meu
estro a cada dia mais se alteia
e
me leva a louvar em verso e prosa
o
grande amor que, na visão alheia,
é
mera relação pecaminosa.
Fizesse
eu só o que julgam certo,
inda
estaria a procurar, talvez,
felicidade
nalgum sonho incerto.
Por
isso mesmo, tenho devotado
tudo
de mim à louca lucidez
de
partilhar contigo este pecado!...
|
ASSUMO
MINHA LOUCURA
Meu
amor, sabes por que
já não
há dúvida em mim
quanto à
certeza de amar-te
e de não
conseguir mais
viver
sem ter-te ao meu lado?
É
porque, sempre que fico
um dia
longe de ti,
tonam-se
nele infinitas
como se
nunca passassem
as
poucas horas de espera.
Se não
morro de ansiedade
quando
não estás comigo,
a
ausência parece eterna,
e eu
sofro n’alma e no corpo
os
açoites das saudades.
Se amar
assim é ser louco,
a mim –
tão louco por ti –
nada
mais resta, senão
aguentar
as consequências
de
assumir minha loucura.
|
MESMO EM TROVAS
NÃO RIMADAS
O amor eu tenho por ti
chegou assim de repente,
pelo atalho favorável
de simples troca de olhares.
Sem aviso de que vinha,
sem bater palmas à porta,
foi entrando e se instalando
dentro do meu coração.
Mexe comigo de um jeito
que não consigo explicar
e me provoca prazeres
que eu nunca tinha provado.
Que dele se torne eterno
cada momento vivido,
de ternura e de loucura,
enquanto possa durar!
E se acaso ele algum dia
partir tal como chegou,
não morram suas lembranças
dentro de minhas saudades!
Contudo, hoje o que quero
é não pensar em mais nada
que não viver meu amor,
com fervor e intensidade.
Vivê-lo e poemizá-lo,
isso belo quanto fácil,
pois a Poesia o realça,
mesmo em trovas não rimadas.
|
NA
EXPANSÃO DE UM FLERTE
Deixei de ser apenas teu amigo
naquela noite, no barzinho, quando
a tua mão buscou na minha abrigo,
em sinal de que estávamos flertando.
E desde aquele encontro que bendigo,
a busca por prazer não tem comando,
enquanto nós, alheios a perigo,
vamos duplo adultério perpetrando.
Tens me amado sem ver a minha idade,
e eu me tornei por ti apaixonado,
na expansão do que fora um simples flerte...
E de tudo a maior felicidade
é hoje perceber que me tens dado
certeza de que nunca vou perder-te.
|
EM ATOS E EM
PENSAMENTO
Sou cultor de teu corpo
e grande beneficiário
de suas dádivas.
Inebria-me o cheiro de tua pela,
delicia-me os sabor dos beijos
com que premias meus lábios,
apraz-me agasalhar os teus seios pequenos
nas conchas de minhas mãos,
e eu me sublimo nos rituais de amor
que vamos criando e cumprindo
para chegarmos aos extremos do prazer,
quando dividimos uma cama.
Nos dias em que não estás comigo,
eu te imagino presente,
e minha mente vai reencontrando,
reconstruindo ato por ato,
instante por instante,
numa reprodução nítida
de nossos corpos ardentes
em recíproca e plena entrega
e dos sons de nossos lascivos gemidos.
E essa mentalização é como um filme
que passa em sessões repetidas
e a que nunca me canso de assistir!...
|
FOI
ETERNO E VALEU A PENA
Foi amor proibido, isso é tão certo
quanto certo é que dois mais um são
três,
mas entre nós foi sempre claro,
aberto,
e muito bem às nossas almas fez.
Um sonho em que o real estava
inserto,
atos carnais além da sensatez,
não nos passando o pensamento perto
da mais ínfima ideia de talvez!...
Só que certo temor a “sacrifícios”,
de repente, nos fez sair de cena
e imaginar que o sonho se acabou.
Mas sabemos (e aqui lembro Vinícius)
que foi eterno e nos valeu a pena
durante o curto tempo que durou.
|
Mais uma vez agradeço a atenção dos leitores, com um carinhoso abraço.
Kleber Lago
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© Kleber Cantanhde Lago
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