Esta a penúltima
postagem parcial com textos do meu livro Amar e Escrever (p. 81/100).
Com a próxima postagem, estará cumprida a promessa de transcrever todo o livro
aqui para que não falte aos que queiram a oportunidade de lê-lo neste blog,
considerado o fato de que sua tiragem foi apenas de 1.000 exemplares.
SONETISTA FRUSTRADO
Como é doce
pensar na terra berço
e regredir – de
adulto até criança –
na sensação de
estar rezando um terço,
marcando, a
cada conta, uma lembrança!
É essa uma
missão que sempre exerço
e que me leva
aonde a mente alcança,
a repetir o
desfiar do terço,
que me encanta,
me apraz e não me cansa.
Amo demais a
“Terra das Palmeiras”
e o povo que
ali vive com prazer,
mas se quero
daqui louvar Pedreiras
e a sonetista,
nesse afã, me meto,
eu tenho a
frustração de não saber
pôr tanto amor
dentro do meu soneto.
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TEMPERO DE POESIA
Eu não sei conceituar a poesia,
mas posso vê-la, senti-la
e tomá-la como inspiração
para tudo em minha vida:
pensamentos, gestos, atos,
até mesmo omissões.
Poeticamente
é que avanço ou recuo,
apoio ou protesto,
aplaudo ou apupo,
leio-me, condeno-me
ou me absolvo de meu pecados.
Assim também
é que me entrego a quem amo,
acolho quem me ama
e me envolvo na percepção
de que a sensação de amar é mais gostosa
quanto mais temperada com poesia.
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B E L E Z A
Mentiria
se dissesse que não vejo
beleza
na mulher bem vestida,
ornada e maquiada,
mas a beleza que me fascina
e excita
é a da mulher que sai do
banho nua
e lavada de artifícios.
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TEMPO DE SONHO E POESIA
É tão sublime
apreciar as flores
Ao sol se
abrirem nos jardins, lá fora,
Atraindo
pequenos beija-flores
Que vão
sugá-las, logo após a aurora!
Assistir aos
bailados multicores
De borboletas,
vindo e indo embora!
Ter olfativas
sensações que odores
Naturais nos
provocam, toda hora!
Aqui, setembro
é tempo de sonhar
E de buscar a
mágica alegria
Que a criança
descobre na quimera.
Prazer que
qualquer um pode alcançar,
Se se envolver
no encanto da poesia
Presente, no
que traz a primavera.
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BASTA SER POESIA
Que seja livre
a expressão das emoções
de um instante poético...
Que seja livre o poeta
no dizer do que é capaz de criar
até mesmo do nada absoluto...
Rima, métrica, cadência
são meras convenções,
tal como as regras do sonetear,
a que só se sujeita quem quiser.
Afinal, poesia é poesia... E feita verbo,
de qualquer jeito é sempre bela e encanta:
na voz dada ao silêncio de um gesto mudo,
no acento de um grito de angústia,
no eclodir de um sorrisos de alegria
ou no rolar de uma lágrima de dor...
Não importa que o poeta se expresse
numa simples exclamação,
numa única palavra,
num verso isolado
ou num conjunto de versos desconexos...
Seja como
for, basta ser poesia!
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SONETEAR
Poesia é livre, sim. Soneto, não!
Sonetear exige cumprimento
De certas regras de composição,
A que o poeta deve estar atento.
Bons sonetistas não dispensarão
O metro e ritmo em nenhum momento,
Pois isso dá encanto à expressão
E destaca o poético talento.
Vejo em compor soneto um ritual,
A se cumprir com musicalidade
Desde o ato de início ao seu final.
E se no ritual falhas cometo
Em nome de pretensa liberdade,
Perde meu feito o status de soneto.
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DURA LEX, SED LEX
No meio da
Justiça essa expressão,
em geral
decorada, é como prece
dita por gente
que sequer conhece
do latim uma só
declinação.
Para mim, pouco
diz a citação,
porque duro de
fato me parece
aquele
magistrado que não desce,
quando preciso,
ao plano da razão.
Mais do que a
lei, o uso do bom senso
nos julgamentos
é, segundo penso,
de vital
importância, e nada custa
ao bom juiz,
que antes de proferir
qualquer
sentença, dê-se a refletir
que
lei, embora lei, nem sempre é justa.
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COMPULSÃO
Acerca
dos humanos sentimentos,
eu
respeito o direito de qualquer
pessoa
expor os próprios pensamentos
da maneira que bem lhe convier.
Crio, quanto aos de amor, meus
argumentos
e não falta entre eles um sequer
sobre os tão naturais envolvimentos
de nós dois como homem e mulher.
É que nisso me torno compulsivo,
cometo excessos de que não reclamo,
porque já pude compreender que vivo
para te dar amor sem similar,
sentindo, assim, que quanto mais te
amo,
mais cresce o meu desejo de te amar.
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DUAS HISTÓRIAS
Muitos anos atrás,
ainda nos bons tempos de colégio,
li, num belo poema de Leoni,
que “todos os pastares são ingênuos”
e que “os sábios são muito tristes”.
Não sabia a intenção do poeta,
mas, na condição de adolescente curioso
e preso ao encanto das “Duas Histórias”,
comecei a pensar naquelas assertivas,
chegando a conclusões
que toda a minha experiência
posterior de vida
jamais me convidou a alterar.
Assim, tenho mantido e velho entendimento
de que a ingenuidade do pastor
reflete a satisfação da alma simples
em poder enxergar a beleza e a poesia
que o mundo e a vida lhe mostram,
sem questionamentos sobre as ocorrências,
sem necessidade de saber o que é poesia
e sem precisar sair de seu universo.
Quanto à tristeza do sábio
deduzi não se tratar de mera decorrência
da multiplicação de dúvidas
em torno das verdades descobertas;
sim, da consciência que ele tem
de ser capaz de descobrir verdades
que não deviam existir...
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POETA
Geralmente o
poeta nutre a crença
de que pode
voar, rasgar o vento
e viajar pela
amplidão imensa
para onde o
conduza o pensamento.
Quando ele ama,
o faz de forma intensa,
dando relevo e
cor ao sentimento,
mas não é, como
muita gente pensa,
por simples
exagero ou fingimento.
Poeta vive além
da realidade,
no “Mundo da
Poesia”, onde infinita
sempre se torna
a criatividade.
Por isso mesmo,
a cada fantasia,
constrói um
ideal e, ainda, acredita
ser
verdadeiro tudo quanto cria.
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DE TEU AMOR POR MIM
Maravilhosamente
singular
é teu amor por
mim, que até me vejo
em permanente
estado de desejo
de tê-lo além
do que mo podes dar.
Eu vivo o sonho
de multiplicar
por dez mil
cada abraço, cada beijo,
cada aconchego,
e nunca perco ensejo
de o que me vem
de ti amealhar.
Somente por
amor tenho ambição,
e sei quanto me
dói quando percebo
que, em tal
contexto, vai ser sempre em vão
toda a
esperança de sentir-me rico,
pois quanto
mais amor de ti recebo,
de
amor eu mais necessitado fico.
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PALAVRADOR
Poesia existe,
em nós e em quase tudo:
no deserto, no
mar, em chão fecundo,
nos sons da
vida ou no momento mudo
de um meditar
ou de um dormir profundo...
Se desejo
encontrá-la, me desnudo
do que tenho de
feio, torpe e imundo;
procuro o belo;
nele a mente grudo
e, entre o real
e o sonho, me confundo.
Então eu encho
o espírito de amor,
e invadido de
lírica magia,
logo me torno –
bem lembrando Chagas –
não um poeta,
mas “palavrador”
e arauto
voluntário da poesia,
como tantos que
o são por estas plagas.
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CABELOS BRANCOS
Passados já
cinqüenta e quatro anos
de quando o
nosso idílio teve fim,
o destino
incluiu entre seus planos
novamente te
pôr diante de mim.
Mesmo tendo o
destino, em seus arcanos,
o dom de, às
vezes, se mostrar ruim,
nesse encontro
não houve “rasga-panos”
a respeito de
culpa ou coisa afim.
Os dois,
tomados da emoção mais pura,
falamos da
saudade, em termos francos;
e me tocou, e
ainda estou sentindo
dentro de mim o
instante de ternura,
em que alisando
os meus cabelos brancos,
exclamaste: –
Por Deus, como estás lindo!...
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MEU
JEITO DE AMAR
Não
me importa que o amor inspire chiste
a
quem o julgue um sentimento tredo,
pois
o valor do meu amor consiste
no
direito de amar que me concedo.
Amo,
assim como acho que me assiste:
sem
dar guarida a inibição e medo,
sem
dar olhos ao que me deixe triste,
nem
boca a fruto de sabor azedo...
E
tenho, por amar dessa maneira,
sensações de
que existe uma fogueira
a
me queimar de dentro para fora,
e
cujo ardor, em vez de me doer,
dá-me
a suavidade de um prazer
que
do meu peito nunca vai embora!
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NAMORO
Adoro a noite.
A noite é sempre bela
e inspira
inusitadas sensações
que tornam
brandos nossos corações
com tudo o que
de encanto vem com ela.
Agora, por
exemplo, abro a janela,
e me sinto nas
asas de emoções
que só percebo
nas ocasiões
em que o meu eu poeta se revela.
A lua nova, em
forma de canoa,
beija rútila
“estrela” com a proa,
meio a pontos
luzentes bem pequenos,
em cena de
beleza fascinante
que o Poeta
Maior cria, durante
esse
namoro entre a Lua e Vênus!
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NATAL
A época em que
o povo mais consome
e, ao se
envolver em compras, não refreia
os ímpetos que
crescem, na cadeia
de uma
inquietude eufórica, sem nome.
O espírito
cristão, às vezes, some,
como no exemplo
de faustosa ceia
que abastada
família saboreia,
enquanto muita
gente passa fome.
Um bom Natal
seria a humanidade
vivendo em
clima de fraternidade
e sob as
bênçãos da Divina Luz...
Mas são ainda
sonhos natalinos
ouvir vozes de
amor, nos sons dos sinos
que nos lembram
a vinda de Jesus...
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PINTOR
(Ao amigo e grande pintor Oscar Araripe)
Pintor - poeta da
tela -
Mostra alegrias e
dores,
Em preto e branco e
em cores,
Pois pintando é que
revela
Da alma os
interiores.
E se inclui a
natureza
Em seu sublime
fazer,
Ele pode, com certeza,
Ser capaz de nos
trazer
Até o cheiro das
flores.
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DEIXANDO RASTROS
Entendo a vida
como uma busca
constante
por horizontes e
sóis.
Ora abro sozinho
os meus caminhos,
ora preciso
acompanhar
quem vai adiante de
mim,
mas,
invariavelmente,
em qualquer dessas
situações,
procuro deixar
rastros
nitidamente
visíveis,
para que outras
pessoas
possam me seguir.
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SANTUÁRIO DE SÃO BENEDITO
De Pedreiras
retorno, abençoado,
cheio da paz
que espero em minha vida,
o coração de
amor impregnado,
e a consciência
de missão cumprida.
Trinta e um
anos faz que eu, empurrado
pelas mãos de
uma fé mais que incontida,
virei romeiro e
ali tenho prestado
a Benedito a
honra merecida.
E este ano, de
forma especial,
senti em minha
alma de romeiro
um mais forte
fervor emocional,
por já não ver
no plano imaginário
a Paróquia do
Santo, padroeiro
da amada terra,
feita SANTUÁRIO.
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O AMOR QUE EU SEMPRE QUIS
Não busquei um
amor para um minuto,
para uma hora,
um dia, um mês, um ano,
nem pretendi
amor substituto,
por uma mero
capricho leviano.
Quis um amor,
sem me cobrar tributo,
sem metas a
cumprir, sem grande plano,
que fosse
livre, inteligente, arguto
e até capaz de
se mostrar insano.
E te encontrei,
sem procurar por ti,
porque de mim
estavas muito perto,
tal como agora
estás comigo, aqui,
ouvindo-me
dizer que sou feliz
por nossa
comunhão ter dado certo
e
por teres me dado o amor que eu quis.
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NADA
MAIS A PEDIR
De bons amigos tenho alguns milhares
e, com muita afeição e lealdade,
consigo preservar cada amizade,
sem que nada corroa os seus pilares.
Na rua, em casa, em todos os lugares,
não há nenhum prazer que mais me agrade
que ostentar a grandeza da humildade
ante os amigos e os familiares.
Por entender que a vida é passageira,
vivê-la bem se fez sempre a primeira
e a mais nobre missão dos dias meus.
Assim, já tendo o que desejo ter
e me sentido como quero ser,
não vejo mais o que pedir a Deus.
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SOBRE SONHOS
Sonhe, mas nunca
tire os pés do chão,
pois como meu
pai sempre me dizia,
é bom ter algum
sonho todo dia,
se ele sugere
concretização.
Tem
justificativa o sonho vão,
mas somente no
campo da poesia,
onde sonhar nos
leva à fantasia
e não cede
lugar a frustração.
Deixe ao poeta
o encargo singular
de idealizar na
mente criativa
o que não é
possível realizar.
Poeta sabe bem,
os outros não,
gerir um clima
de expectativa
de ocorrências
(reais) numa ilusão.
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Mais uma vez, meus agradecimentos aos estimados
leitores.
Kleber Lago
© Todos os direitos
reservados ao autor.
Ainda não recebi o meu exemplar do livro, mas estou aproveitando o blog para lê-lo, Parabéns pelo pimoroso conteúdo!. Obrigado!
ResponderExcluirMaximo Figueira
Muito bom! Adorei todos os poemas!
ResponderExcluirProfª Rita
Chego aqui pela 2a vez e confesso que fico com vontade de ficar...Amo suas poesias, poemas, sonetos...Aqui se tem uma dimensão maior do seu Valor...sei que sou leiga mas como leiga lhe digo Você é demais Poeta! Um abraço poético!
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