sábado, 26 de julho de 2014

AMAR E ECREVER (Postagem Parcial 5)

 


Esta a penúltima postagem parcial com textos do meu livro Amar e Escrever (p. 81/100). Com a próxima postagem, estará cumprida a promessa de transcrever todo o livro aqui para que não falte aos que queiram a oportunidade de lê-lo neste blog, considerado o fato de que sua tiragem foi apenas de 1.000 exemplares.

 

 
SONETISTA FRUSTRADO
 
 
 
Como é doce pensar na terra berço
e regredir – de adulto até criança –
na sensação de estar rezando um terço,
marcando, a cada conta, uma lembrança!
 
É essa uma missão que sempre exerço
e que me leva aonde a mente alcança,
a repetir o desfiar do terço,
que me encanta, me apraz e não me cansa.
 
Amo demais a “Terra das Palmeiras”
e o povo que ali vive com prazer,
mas se quero daqui louvar Pedreiras
 
e a sonetista, nesse afã, me meto,
eu tenho a frustração de não saber
pôr tanto amor dentro do meu soneto.
 
 
 
 
TEMPERO DE POESIA
 
Eu não sei conceituar a poesia,
mas posso vê-la, senti-la
e tomá-la como inspiração
para tudo em minha vida:
pensamentos, gestos, atos,
até mesmo omissões.
 
Poeticamente
é que avanço ou recuo,
apoio ou protesto,
aplaudo ou apupo,
leio-me, condeno-me
ou me absolvo de meu pecados.
 
Assim também
é que me entrego a quem amo,
acolho quem me ama
e me envolvo na percepção
de que a sensação de amar é mais gostosa
quanto mais temperada com poesia.
_____________
 
B E L E Z A
 
Mentiria
se dissesse que não vejo beleza
na mulher bem vestida,
ornada e maquiada,
mas a beleza que me fascina e excita
é a da mulher que sai do banho nua
e lavada de artifícios.
 
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TEMPO DE SONHO E POESIA
 
 
 
É tão sublime apreciar as flores
Ao sol se abrirem nos jardins, lá fora,
Atraindo pequenos beija-flores
Que vão sugá-las, logo após a aurora!
 
Assistir aos bailados multicores
De borboletas, vindo e indo embora!
Ter olfativas sensações que odores
Naturais nos provocam, toda hora!
 
Aqui, setembro é tempo de sonhar
E de buscar a mágica alegria
Que a criança descobre na quimera.
 
Prazer que qualquer um pode alcançar,
Se se envolver no encanto da poesia
Presente, no que traz a primavera.
 
 
 
 
BASTA SER POESIA
 
 
Que seja livre
a expressão das emoções
de um instante poético...
 
Que seja livre o poeta
no dizer do que é capaz de criar
até mesmo do nada absoluto...
 
Rima, métrica, cadência
são meras convenções,
tal como as regras do sonetear,
a que só se sujeita quem quiser.
 
Afinal, poesia é poesia... E feita verbo,
de qualquer jeito é sempre bela e encanta:
na voz dada ao silêncio de um gesto mudo,
no acento de um grito de angústia,
no eclodir de um sorrisos de alegria
ou no rolar de uma lágrima de dor...
 
Não importa que o poeta se expresse
numa simples exclamação,
numa única palavra,
num verso isolado
ou num conjunto de versos desconexos...
Seja como for, basta ser poesia!
 
 
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         SONETEAR
 
 
 
Poesia é livre, sim. Soneto, não!
Sonetear exige cumprimento
De certas regras de composição,
A que o poeta deve estar atento.
 
Bons sonetistas não dispensarão
O metro e ritmo em nenhum momento,
Pois isso dá encanto à expressão
E destaca o poético talento.
 
Vejo em compor soneto um ritual,
A se cumprir com musicalidade
Desde o ato de início ao seu final.
 
E se no ritual falhas cometo
Em nome de pretensa liberdade,
Perde meu feito o status de soneto.
 
 
 
 
DURA LEX, SED LEX
 
 
 
No meio da Justiça essa expressão,
em geral decorada, é como prece
dita por gente que sequer conhece
do latim uma só declinação.
 
Para mim, pouco diz a citação,
porque duro de fato me parece
aquele magistrado que não desce,
quando preciso, ao plano da razão.
 
Mais do que a lei, o uso do bom senso
nos julgamentos é, segundo penso,
de vital importância, e nada custa
 
ao bom juiz, que antes de proferir
qualquer sentença, dê-se a refletir 
que lei, embora lei, nem sempre é justa.
 
 
 
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      COMPULSÃO
 
 
 
Acerca dos humanos sentimentos,
eu respeito o direito de qualquer
pessoa expor os próprios pensamentos
da maneira que bem lhe convier.
 
Crio, quanto aos de amor, meus argumentos
e não falta entre eles um sequer
sobre os tão naturais envolvimentos
de nós dois como homem e mulher.
 
É que nisso me torno compulsivo,
cometo excessos de que não reclamo,
porque já pude compreender que vivo
 
para te dar amor sem similar,
sentindo, assim, que quanto mais te amo,
mais cresce o meu desejo de te amar.
 
 
DUAS HISTÓRIAS
 
Muitos anos atrás,
ainda nos bons tempos de colégio,
li, num belo poema de Leoni,
que “todos os pastares são ingênuos”
e que “os sábios são muito tristes”.
 
Não sabia a intenção do poeta,
mas, na condição de adolescente curioso
e preso ao encanto das “Duas Histórias”,
comecei a pensar naquelas assertivas,
chegando a conclusões
que toda a minha experiência
posterior de vida
jamais me convidou a alterar.
 
Assim, tenho mantido e velho entendimento
de que a ingenuidade do pastor
reflete a satisfação da alma simples
em poder enxergar a beleza e a poesia
que o mundo e a vida lhe mostram,
sem questionamentos sobre as ocorrências,
sem necessidade de saber o que é poesia
e sem precisar sair de seu universo.
 
Quanto à tristeza do sábio
deduzi não se tratar de mera decorrência
da multiplicação de dúvidas
em torno das verdades descobertas;
sim, da consciência que ele tem
de ser capaz de descobrir verdades
que não deviam existir...
 
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          POETA
 
 
 
Geralmente o poeta nutre a crença
de que pode voar, rasgar o vento
e viajar pela amplidão imensa
para onde o conduza o pensamento.
 
Quando ele ama, o faz de forma intensa,
dando relevo e cor ao sentimento,
mas não é, como muita gente pensa,
por simples exagero ou fingimento.
 
Poeta vive além da realidade,
no “Mundo da Poesia”, onde infinita
sempre se torna a criatividade.
 
Por isso mesmo, a cada fantasia,
constrói um ideal e, ainda, acredita
ser verdadeiro tudo quanto cria.
 
 
 
 
DE TEU AMOR POR MIM
 
 
 
Maravilhosamente singular
é teu amor por mim, que até me vejo
em permanente estado de desejo
de tê-lo além do que mo podes dar.  
 
Eu vivo o sonho de multiplicar
por dez mil cada abraço, cada beijo,
cada aconchego, e nunca perco ensejo
de o que me vem de ti amealhar.
 
Somente por amor tenho ambição,
e sei quanto me dói quando percebo
que, em tal contexto, vai ser sempre em vão
 
toda a esperança de sentir-me rico,
pois quanto mais amor de ti recebo,
de amor eu mais necessitado fico.
 
 
 
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      PALAVRADOR
 
 
 
Poesia existe, em nós e em quase tudo:
no deserto, no mar, em chão fecundo,
nos sons da vida ou no momento mudo
de um meditar ou de um dormir profundo...
 
Se desejo encontrá-la, me desnudo
do que tenho de feio, torpe e imundo;
procuro o belo; nele a mente grudo
e, entre o real e o sonho, me confundo.
 
Então eu encho o espírito de amor,
e invadido de lírica magia,
logo me torno – bem lembrando Chagas –
 
 
não um poeta, mas “palavrador”
e arauto voluntário da poesia,
como tantos que o são por estas plagas.
 
 
 
 
  CABELOS BRANCOS
 
 
 
Passados já cinqüenta e quatro anos
de quando o nosso idílio teve fim,
o destino incluiu entre seus planos
novamente te pôr diante de mim.
 
Mesmo tendo o destino, em seus arcanos,
o dom de, às vezes, se mostrar ruim,
nesse encontro não houve “rasga-panos”
a respeito de culpa ou coisa afim.
 
Os dois, tomados da emoção mais pura,
falamos da saudade, em termos francos;
e me tocou, e ainda estou sentindo
 
 
 
dentro de mim o instante de ternura,
em que alisando os meus cabelos brancos,
exclamaste: – Por Deus, como estás lindo!...
 
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   MEU JEITO DE AMAR
 
 
 
Não me importa que o amor inspire chiste
a quem o julgue um sentimento tredo,
pois o valor do meu amor consiste
no direito de amar que me concedo.
 
Amo, assim como acho que me assiste:
sem dar guarida a inibição e medo,
sem dar olhos ao que me deixe triste,
nem boca a fruto de sabor azedo...
 
E tenho, por amar dessa maneira,
sensações de que existe uma fogueira
a me queimar de dentro para fora,
 
e cujo ardor, em vez de me doer,
dá-me a suavidade de um prazer
que do meu peito nunca vai embora!
 
 
 
 
          NAMORO
 
 
 
Adoro a noite. A noite é sempre bela
e inspira inusitadas sensações
que tornam brandos nossos corações
com tudo o que de encanto vem com ela.
 
Agora, por exemplo, abro a janela,
e me sinto nas asas de emoções
que só percebo nas ocasiões
em que o meu eu poeta se revela.
 
A lua nova, em forma de canoa,
beija rútila “estrela” com a proa,
meio a pontos luzentes bem pequenos,
 
em cena de beleza fascinante
que o Poeta Maior cria, durante
esse namoro entre a Lua e Vênus!
 
 
 
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            NATAL
 
 
 
A época em que o povo mais consome
e, ao se envolver em compras, não refreia
os ímpetos que crescem, na cadeia
de uma inquietude eufórica, sem nome.
 
O espírito cristão, às vezes, some,
como no exemplo de faustosa ceia
que abastada família saboreia,
enquanto muita gente passa fome.
                                                   
Um bom Natal seria a humanidade
vivendo em clima de fraternidade
e sob as bênçãos da Divina Luz...
 
Mas são ainda sonhos natalinos
ouvir vozes de amor, nos sons dos sinos
que nos lembram a vinda de Jesus...
 
 
 
 
PINTOR
 
         (Ao amigo e grande pintor Oscar Araripe)
 
Pintor - poeta da tela -
Mostra alegrias e dores,
Em preto e branco e em cores,
Pois pintando é que revela
Da alma os interiores.
E se inclui a natureza
Em seu sublime fazer,
Ele pode, com certeza,
Ser capaz de nos trazer
Até o cheiro das flores.
___________
 
DEIXANDO RASTROS
 
Entendo a vida
como uma busca constante
por horizontes e sóis.
 
Ora abro sozinho
os meus caminhos,
ora preciso acompanhar
quem vai adiante de mim,
mas, invariavelmente,
em qualquer dessas situações,
procuro deixar rastros
nitidamente visíveis,
para que outras pessoas
possam me seguir.
 
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SANTUÁRIO DE SÃO BENEDITO
 
 
 
De Pedreiras retorno, abençoado,
cheio da paz que espero em minha vida,
o coração de amor impregnado,
e a consciência de missão cumprida.
 
Trinta e um anos faz que eu, empurrado
pelas mãos de uma fé mais que incontida,
virei romeiro e ali tenho prestado
a Benedito a honra merecida.
 
E este ano, de forma especial,
senti em minha alma de romeiro
um mais forte fervor emocional,
 
por já não ver no plano imaginário
a Paróquia do Santo, padroeiro
da amada terra, feita SANTUÁRIO.
 
 
 
 
O AMOR QUE EU SEMPRE QUIS
 
 
 
Não busquei um amor para um minuto,
para uma hora, um dia, um mês, um ano,
nem pretendi amor substituto,
por uma mero capricho leviano.
 
Quis um amor, sem me cobrar tributo,
sem metas a cumprir, sem grande plano,
que fosse livre, inteligente, arguto
e até capaz de se mostrar insano.
 
E te encontrei, sem procurar por ti,
porque de mim estavas muito perto,
tal como agora estás comigo, aqui,
 
ouvindo-me dizer que sou feliz 
por nossa comunhão ter dado certo
e por teres me dado o amor que eu quis.
 
 
 
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NADA MAIS A PEDIR
 
 
 
De bons amigos tenho alguns milhares
e, com muita afeição e lealdade,
consigo preservar cada amizade,
sem que nada corroa os seus pilares.
 
Na rua, em casa, em todos os lugares,
não há nenhum prazer que mais me agrade
que ostentar a grandeza da humildade
ante os amigos e os familiares.
 
Por entender que a vida é passageira,
vivê-la bem se fez sempre a primeira
e a mais nobre missão dos dias meus.
 
Assim, já tendo o que desejo ter
e me sentido como quero ser,
não vejo mais o que pedir a Deus.
 
 
 
 
SOBRE SONHOS
 
 
 
Sonhe, mas nunca tire os pés do chão,
pois como meu pai sempre me dizia,
é bom ter algum sonho todo dia,
se ele sugere concretização.
 
Tem justificativa o sonho vão,
mas somente no campo da poesia,
onde sonhar nos leva à fantasia
e não cede lugar a frustração.
 
Deixe ao poeta o encargo singular
de idealizar na mente criativa
o que não é possível realizar.
 
Poeta sabe bem, os outros não,
gerir um clima de expectativa
de ocorrências (reais) numa ilusão.
 
 
 
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Mais uma vez, meus agradecimentos aos estimados leitores.

 

Kleber Lago

 

© Todos os direitos reservados ao autor.

3 comentários:

  1. Ainda não recebi o meu exemplar do livro, mas estou aproveitando o blog para lê-lo, Parabéns pelo pimoroso conteúdo!. Obrigado!

    Maximo Figueira

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  2. Muito bom! Adorei todos os poemas!

    Profª Rita

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  3. Chego aqui pela 2a vez e confesso que fico com vontade de ficar...Amo suas poesias, poemas, sonetos...Aqui se tem uma dimensão maior do seu Valor...sei que sou leiga mas como leiga lhe digo Você é demais Poeta! Um abraço poético!

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