Continuando as postagens
de textos do meu livro Amar e Escrever, aqui
estão os poemas das páginas de 61 a 80:
A
PRESENÇA DE IRACEMA
(Homenagem, in
memoriam,
a Iracema
de Sousa Brito)
Lembro que, até em dias adversos
a seus planos, eu era convidado
por ela a ir ao seu Transual amado
tomar um bom café com bolo... e versos.
Versos singelos, lidos dos anversos
das folhas de um caderno bem cuidado,
onde – por estro privilegiado –
com doçura pintou seus universos.
Ao ser queimado seu caderno um dia,
perdeu-se muito do que ela escrevia
com tanto amor, em forma de poema.
Pouco restou... Mas foi suficiente
para deixar marcada eternamente,
na poesia, a presença de Iracema.
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APROXIMADAMENTE, QUASE IGUAL
Amarelinho –
Rua do Passeio,
música brega, a mesa na calçada, o churrasquinho, a “brahma” bem gelada, e eu, tão feliz, a críticas alheio. Com gente humilde, agora aqui me enleio, conversando e assistindo à caminhada da lua que hoje é cheia e prateada, as pessoas alegres, e eu no meio... E esquecido de tudo que é formal, fico envolvido nessa singeleza que tal momento de prazer encerra. Aproximadamente, quase igual a alguns de quando compartilho a mesa com meus amigos, lá na minha terra! |
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NOVOS JEITOS
A vida nos tem sido, bem sabemos,
um palco de alegria e bons momentos,
onde, decerto, há desentendimentos,
mas que não chegam nunca aos seus
extremos.
Sem esforços tão grandes ou supremos,
buscamos alcançar nossos intentos,
sem mágoas que nos deixem fragmentos,
quanto sem crises que não superemos.
Se até nos falte o ímpeto de outrora
para o prazer nas conjunções carnais,
pouco interessa, pois a cada hora,
os dois vamos achando novos jeitos
de nos amar, de modo que jamais
sejamos um casal de insatisfeitos.
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PIPA
Lá estava no
céu se apresentando
uma pequena
pipa, flutuante,
presa à linha,
a bailar sob o comando
das mãos
habilidosas de um infante.
Erguia-se,
baixava vez em quando,
recuava e em
seguida ia adiante,
depois de um
duplo ladear, guinando,
tanto mais bela
quanto mais distante!...
E enquanto a
esse balé ia assistindo,
eu enxergava um
quadro de poesia
desenhado, no
céu de azul tão lindo,
pela pipa e
seus rabo de algodão,
no qual, em
pensamento, eu me sentia
pendurado, a
voar pela amplidão!...
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NEM CONCEITO... NEM LICENÇA
Para dar ao amor definição
os métodos parecem-me imperfeitos,
e quem os usa não faz mais, senão
perder-se em labirintos de conceitos.
Certo é viver o amor em profusão,
tornando seus reclamos satisfeitos,
sem cogitar em como e em quais serão
para nossa existência os seus efeitos.
Dar-se ao amor, de forma intensa e
rica,
não tendo de pedir licença à nossa
razão – que nunca sabe e nunca explica
por que, quando o amor no coração
ameaça explodir, não há quem possa
ser capaz de conter sua explosão!...
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FANTASIA
INFANTIL
Brincávamos
durante o dia inteiro,
em casa, no
quintal ou na calçada,
mas mamãe tinha
já por rotineiro
pôr na cama bem
cedo a meninada.
Não antes do
discurso costumeiro
de que a
criança ia ficar mirrada
e o sol ia
perder o seu luzeiro,
sem um bom sono
após cada jornada.
Na mente,
desenhava um sol – cansado
de brincar pelo
céu – a esmaecer,
enquanto eu,
pelo o sono dominado,
quedava a imaginar
que o sol dormia,
igual a mim,
para se refazer
e despertar mais forte no outro dia...
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JARDINS
DE SETEMBRO
São plantas parindo flores
Sob a doce melodia
Do cantar de passarinhos!
Feras no acasalamento,
Um momento em que patadas
Viram suaves carinhos!
É o vento leve que passa
Assoviando entre as folhas!
É o adejar das falenas
Ensaiando o ritual
De entregar bons fins de tarde
Nas mãos de noites amenas!
São pirilampos luzentes,
Minilanternas acesas
Na noite escura da mata,
Enquanto não há luar
Para pintar a folhagem
Com seu verniz cor de prata!...
Logo que chega, setembro
Colore nossos jardins,
Enche a brisa de perfume
E a alma, de fantasia,
Amor, ternura e, também,
De um pouquinho de ciúme.
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Inefáveis sensações
De beleza e de
euforia
Dentro da gente se
movem:
Natureza em
Primavera
É coração sempre em
festa
No peito adulto e
no jovem!
Como seria gostosa
A vida, sendo
vivida
Desde janeiro a
dezembro,
De alma florida e
cheirosa,
Tal como a gente se
sente
Nesses “Jardins de
Setembro”!
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EMOÇÕES
EM LEMBRANÇA
Emoções!... Tantas guardo na
lembrança!...
Pouco importa se duras ou se amenas,
Hei de mantê-las indeléveis, plenas,
Como estas que tive, ainda criança:
Duas casas da mesma vizinhança,
Uma da outra a dez passos apenas,
Ambas mostrando, ao mesmo tempo, cenas
Tão carregadas de dessemelhança.
Em uma, a chama da alegria acesa
E o tinir de cristais, em brinde à vida
De um novo ser trazido pela sorte.
Na outra casa, a sombra da tristeza
Cobrindo a dor, na amarga despedida
A quem partiu levado pela morte.
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ETERNA
SOLIDÃO
Uma “porta e
janela” era o seu lar...
Por suas
barbas, me lembrava um frade,
Mas fazia
questão de se mostrar
Alheio ao povo
e à vida da cidade.
Vivera só, sem
nunca se importar
Em saber o que
era uma amizade,
E também morreu
só, sem dar lugar
A que sentissem
dele uma saudade...
Desenho, às
vezes, na imaginação,
Sua alma
triste, a amargurar no Além
O vazio da
eterna solidão,
Como se fosse
esse o seu castigo
Por não ter
sido amigo de ninguém
Nem deixado ninguém ser seu amigo.
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RESGATE
Moço, sem Fé,
do tipo tresloucado,
sempre entregue
às orgias e ao prazer,
julgava-me
feliz, até me ver
vencido pelas
forças do pecado.
Depois, no poço
em que eu fora jogado,
caído, sem
vontade de viver,
cheguei a me
sentir um pobre ser
– corpo e alma no escuro – arruinado...
Mas Cristo, me
estendendo as mãos divinas,
resgatou-me do
poço das ruínas
e para a luz me
trouxe novamente.
Desde então,
venho andando sem fracassos,
pois qualquer
obstáculo a meus passos
Ele me aponta,
e posso ir em frente.
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MEU MAIOR POEMA
Se realmente
sou poeta, devo
sê-lo,
porquanto a vida me premia
pela virtude de
enxergar poesia
em quase tudo;
não, pelo que escrevo.
Mas, quando
escrevo, não sei dar relevo
a nenhum tipo
de expressão vazia
de sentimento,
qual não saberia
explicar porque
a isso não me atrevo.
Sei que não
fico de alma magoada
nas vezes em
que tento, e não consigo
falar do nosso
amor nada de nada.
Pois, sendo o
nosso amor meu grande tema,
só na poesia de
viver contigo
já sinto
escrito o meu maior poema.
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EMBRIAGUEZ DE AMOR
Vão-se
anos de amor e de carinho,
sem
que nenhuma rusga rotineira
tenha
nos posto, um só instante, à beira
de
simples imprudência ou descaminho.
Deliciosa
embriaguez de vinho
feito
dos frutos da melhor videira,
e
que vai nos manter a vida inteira,
unidos
pelo amor, em nosso ninho!
Só
nós sabemos como nos encanta
toda
a imensa alegria de poder
a
qualquer hora declamar, de cor,
um
poema que, com ternura tanta,
diz
quanto o mútuo amor torna o prazer
da
vida a dois poético e maior.
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OU DEMORA, OU NÃO VEM
É a terra secando,
quase a morrer de
sede;
é o céu nublado,
com vontade de
chover...
Mas não cai uma
gota
lá de cima,
e não chega por
canais
a água, bem de
perto,
cá de baixo...
Nos tempos de
estiagem,
um rio de promessas
e outro de
esperanças
são as únicas águas
que passam
nos sonhos da gente
sofrida,
que mesmo impedida
de plantar para
colher,
de criar e de
cuidar
de vidas que lhe
dão vida,
insiste em não sair
do solo amado.
É que a terra, se
molhada,
fica fértil e
produtiva,
bem diferente
daquilo
que nos mostra esse
deserto,
de piso seco e
rachado,
e de oásis só em
miragens,
para o qual todo
socorro,
se é de Deus –
sempre demora;
se do governo – não
vem...
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TRANSLADAÇÃO
Chega o dia em que a vida nos desloca,
como que dentro de um redemoinho,
do platônico plano e nos coloca
no ambiente real de “estranho” ninho.
A timidez, no início, nos sufoca,
mas não demora, para, de mansinho,
irmos chegando àquela boa troca
de beijos e outras formas de carinho.
Nessa troca de toques, a emoção
em nossos corpos gera uma explosão
de frementes apelos sensuais,
e faz dormir em nós o romantismo,
enquanto dure o intenso realismo
de alucinantes conjunções carnais!
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ENTRE O SONHO E A REALIDADE
Andas dizendo
que me entrego ao sonho
e que, se um
sonho meu não realizo,
nele extensão
de fantasia ponho
e, como
verdadeiro, o poemizo.
É que,
fantasiando, me suponho
dentro de um
belo e justo paraíso,
longe do que de
triste e de medonho
encontro, sobre
o mesmo chão que piso.
E quero que tu
não te desagrades
com esse fato
de eu poder, querida,
entender que
jamais entenderias
por que não
troco muitas realidades
que ora vejo
ocorrerem nesta vida,
por uma só das
minhas fantasias.
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LOUCOS
Se estou só, tento
escrever,
mas não acho
inspiração
para um poema,
largo a pena,
amasso o papel
e esqueço o
momento.
Os únicos momentos
que não consigo
esquecer,
por não serem só
meus,
são os que
pertencem aos mistérios
do nosso amor.
Eles nos ocorrem
naturalmente
sem que procuremos
entender
o porquê das
ocorrências,
tendo apenas de
senti-los e vivê-los,
sem contar a
ninguém.
Pois ninguém iria
acreditar
que, quando estamos
juntos,
o tempo pára,
a fim de que nos
seja eterno
cada instante;
que, à noite, em
nosso quarto,
o tempo sem dormir
se prolonga
até que se
completem
todos os prazeres
a que nos
entregamos;
|
e que, de dia,
quando separados,
as horas passam
céleres
por cada um de nós,
empurradas pelo
mesmo desejo
de que logo chegue
outra noite
de pouco sono e
muito prazer...
Quem seria capaz
de ouvir isso de
nós,
sem nos julgar
insanos?
É... Realmente
somos loucos,
loucos de amor,
eu por ti, tu por
mim...
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CARNAL
Tenho a sorte
de ser este que ama
a ti que,
embora virtuosa e pura,
sabes seguir-me
com desenvoltura,
se o desejo
carnal em mim se inflama.
Toda vez,
quando a isso o amor nos chama.
noto quanto és
feliz enquanto dura
a intensa
sensação (quase loucura)
da conjunção
dos corpos sobre a cama.
Ouvir tuas
palavras não preciso,
porque nos teus
olhares bem diviso
o brilho do
prazer, em mil matizes.
E à proporção
que chega aos meus ouvidos
cada um dos
teus lúbricos gemidos,
vou entendendo
tudo o que me dizes.
|
LEIO TEUS OLHARES
Sei o que me pedes,
mesmo quando te
manténs
de boa calada,
porque aprendi a
entender
todas as palavras
silenciosas
que me dizem teus
olhares.
__________
DIVISÃO
Para viver bem
aprendi a dividir
meus dias de vida
em duas partes:
numa delas
sempre sorrio,
e na outra
nunca choro.
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Minha gratidão aos queridos leitores.
Kleber Lago
© Todos os direitos
reservados ao autor.
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