segunda-feira, 23 de junho de 2014

AMAR E ESCREVER (Postagem Parcial 4)



Continuando as postagens de textos do meu livro Amar e Escrever, aqui estão os poemas das páginas de 61 a 80:

 

 
A PRESENÇA DE IRACEMA
 
(Homenagem, in memoriam,
a Iracema de  Sousa  Brito)
 
Lembro que, até em dias adversos
a seus planos, eu era convidado
por ela a ir ao seu Transual amado
tomar um bom café com bolo... e versos.
 
Versos singelos, lidos dos anversos
das folhas de um caderno bem cuidado,
onde – por estro privilegiado –
com doçura pintou seus universos.
 
Ao ser queimado seu caderno um dia,
perdeu-se muito do que ela escrevia
com tanto amor, em forma de poema.
 
Pouco restou... Mas foi suficiente
para deixar marcada eternamente,
na poesia, a presença de Iracema.
 
 
 
 
APROXIMADAMENTE, QUASE IGUAL

 
Amarelinho – Rua do Passeio,
música brega, a mesa na calçada,
o churrasquinho, a “brahma” bem gelada,
e eu, tão feliz, a críticas alheio.

Com gente humilde, agora aqui me enleio,
conversando e assistindo à caminhada
da lua que hoje é cheia e prateada,
as pessoas alegres, e eu no meio...

E esquecido de tudo que é formal,
fico envolvido nessa singeleza
que tal momento de prazer encerra.

Aproximadamente, quase igual
a alguns de quando compartilho a mesa
com meus amigos, lá na minha terra!

 
 
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     NOVOS JEITOS
 
 
 
A vida nos tem sido, bem sabemos,
um palco de alegria e bons momentos,
onde, decerto, há desentendimentos,
mas que não chegam nunca aos seus extremos.
 
Sem esforços tão grandes ou supremos,
buscamos alcançar nossos intentos,
sem mágoas que nos deixem fragmentos,
quanto sem crises que não superemos.
 
Se até nos falte o ímpeto de outrora
para o prazer nas conjunções carnais,
pouco interessa, pois a cada hora,
 
os dois vamos achando novos jeitos
de nos amar, de modo que jamais
sejamos um casal de insatisfeitos.
 
 
 
 
             PIPA
 
 
 
Lá estava no céu se apresentando
uma pequena pipa, flutuante,
presa à linha, a bailar sob o comando
das mãos habilidosas de um infante.
 
Erguia-se, baixava vez em quando,
recuava e em seguida ia adiante,
depois de um duplo ladear, guinando,
tanto mais bela quanto mais distante!...
 
E enquanto a esse balé ia assistindo,
eu enxergava um quadro de poesia
desenhado, no céu de azul tão lindo,
 
pela pipa e seus rabo de algodão,
no qual, em pensamento, eu me sentia
pendurado, a voar pela amplidão!...
 
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NEM CONCEITO... NEM LICENÇA
 
 
 
Para dar ao amor definição
os métodos parecem-me imperfeitos,
e quem os usa não faz mais, senão
perder-se em labirintos de conceitos.
 
Certo é viver o amor em profusão,
tornando seus reclamos satisfeitos,
sem cogitar em como e em quais serão
para nossa existência os seus efeitos.
 
Dar-se ao amor, de forma intensa e rica,
não tendo de pedir licença à nossa
razão – que nunca sabe e nunca explica
 
por que, quando o amor no coração
ameaça explodir, não há quem possa
ser capaz de conter sua explosão!...
 
 
 
 
  FANTASIA INFANTIL
 
 
 
Brincávamos durante o dia inteiro,
em casa, no quintal ou na calçada,
mas mamãe tinha já por rotineiro
pôr na cama bem cedo a meninada.
 
Não antes do discurso costumeiro
de que a criança ia ficar mirrada
e o sol ia perder o seu luzeiro,
sem um bom sono após cada jornada.
 
Na mente, desenhava um sol – cansado
de brincar pelo céu – a esmaecer,
enquanto eu, pelo o sono dominado,
 
quedava a imaginar que o sol dormia,
igual a mim, para se refazer
e despertar mais forte no outro dia...
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JARDINS DE SETEMBRO
 
 
São plantas parindo flores
Sob a doce melodia
Do cantar de passarinhos!
Feras no acasalamento,
Um momento em que patadas
Viram suaves carinhos!
 
É o vento leve que passa
Assoviando entre as folhas!
É o adejar das falenas
Ensaiando o ritual
De entregar bons fins de tarde
Nas mãos de noites amenas!
 
São pirilampos luzentes,
Minilanternas acesas
Na noite escura da mata,
Enquanto não há luar
Para pintar a folhagem
Com seu verniz cor de prata!...
 
Logo que chega, setembro
Colore nossos jardins,
Enche a brisa de perfume
E a alma, de fantasia,
Amor, ternura e, também,
De um pouquinho de ciúme.
 
 
Inefáveis sensações
De beleza e de euforia
Dentro da gente se movem:
Natureza em Primavera
É coração sempre em festa
No peito adulto e no jovem!
 
Como seria gostosa
A vida, sendo vivida
Desde janeiro a dezembro,
De alma florida e cheirosa,
Tal como a gente se sente
Nesses “Jardins de Setembro”!
 
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EMOÇÕES EM LEMBRANÇA
 
 
 
Emoções!... Tantas guardo na lembrança!...
Pouco importa se duras ou se amenas,
Hei de mantê-las indeléveis, plenas,
Como estas que tive, ainda criança:
 
Duas casas da mesma vizinhança,
Uma da outra a dez passos apenas,
Ambas mostrando, ao mesmo tempo, cenas
Tão carregadas de dessemelhança.
 
Em uma, a chama da alegria acesa
E o tinir de cristais, em brinde à vida
De um novo ser trazido pela sorte.
 
Na outra casa, a sombra da tristeza
Cobrindo a dor, na amarga despedida
A quem partiu levado pela morte.
 
 
 
 
    ETERNA SOLIDÃO
 
 
 
Uma “porta e janela” era o seu lar...
Por suas barbas, me lembrava um frade,
Mas fazia questão de se mostrar
Alheio ao povo e à vida da cidade.
 
Vivera só, sem nunca se importar
Em saber o que era uma amizade,
E também morreu só, sem dar lugar
A que sentissem dele uma saudade...
 
Desenho, às vezes, na imaginação,
Sua alma triste, a amargurar no Além
O vazio da eterna solidão,
 
Como se fosse esse o seu castigo
Por não ter sido amigo de ninguém
Nem deixado ninguém ser seu amigo.
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           RESGATE
 
 
 
Moço, sem Fé, do tipo tresloucado,
sempre entregue às orgias e ao prazer,
julgava-me feliz, até me ver
vencido pelas forças do pecado.
 
Depois, no poço em que eu fora jogado,
caído, sem vontade de viver,
cheguei a me sentir um pobre ser
  corpo e alma no escuro – arruinado...
 
Mas Cristo, me estendendo as mãos divinas,
resgatou-me do poço das ruínas
e para a luz me trouxe novamente.
                                                
Desde então, venho andando sem fracassos,
pois qualquer obstáculo a meus passos
Ele me aponta, e posso ir em frente.
 
 
 
 
MEU MAIOR POEMA
 
 
 
Se realmente sou poeta, devo
sê-lo, porquanto a vida me premia
pela virtude de enxergar poesia
em quase tudo; não, pelo que escrevo.
 
Mas, quando escrevo, não sei dar relevo
a nenhum tipo de expressão vazia
de sentimento, qual não saberia
explicar porque a isso não me atrevo.
 
Sei que não fico de alma magoada
nas vezes em que tento, e não consigo
falar do nosso amor nada de nada.
 
Pois, sendo o nosso amor meu grande tema,
só na poesia de viver contigo
já sinto escrito o meu maior poema.
 
 
 
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EMBRIAGUEZ DE AMOR
 
 
 
Vão-se anos de amor e de carinho,
sem que nenhuma rusga rotineira
tenha nos posto, um só instante, à beira
de simples imprudência ou descaminho.
 
Deliciosa embriaguez de vinho
feito dos frutos da melhor videira,
e que vai nos manter a vida inteira,
unidos pelo amor, em nosso ninho!
 
Só nós sabemos como nos encanta
toda a imensa alegria de poder
a qualquer hora declamar, de cor,
 
um poema que, com ternura tanta,
diz quanto o mútuo amor torna o prazer
da vida a dois poético e maior.
 
 
 
 
OU DEMORA, OU NÃO VEM
 
 
É a terra secando,
quase a morrer de sede;
é o céu nublado,
com vontade de chover...
 
Mas não cai uma gota
lá de cima,
e não chega por canais
a água, bem de perto,
cá de baixo...
 
Nos tempos de estiagem,
um rio de promessas
e outro de esperanças
são as únicas águas que passam
nos sonhos da gente sofrida,
que mesmo impedida
de plantar para colher,
de criar e de cuidar
de vidas que lhe dão vida,
insiste em não sair
do solo amado.
 
É que a terra, se molhada,
fica fértil e produtiva,
bem diferente daquilo
que nos mostra esse deserto,
de piso seco e rachado,
e de oásis só em miragens,
para o qual todo socorro,
se é de Deus – sempre demora;
se do governo – não vem...
 
 
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     TRANSLADAÇÃO
 
 
 
Chega o dia em que a vida nos desloca,
como que dentro de um redemoinho,
do platônico plano e nos coloca
no ambiente real de “estranho” ninho.
 
A timidez, no início, nos sufoca,
mas não demora, para, de mansinho,
irmos chegando àquela boa troca
de beijos e outras formas de carinho.
 
Nessa troca de toques, a emoção
em nossos corpos gera uma explosão
de frementes apelos sensuais,
 
e faz dormir em nós o romantismo,
enquanto dure o intenso realismo
de alucinantes conjunções carnais!
 
 
 
 
ENTRE O SONHO E A REALIDADE
 
 
 
Andas dizendo que me entrego ao sonho
e que, se um sonho meu não realizo,
nele extensão de fantasia ponho
e, como verdadeiro, o poemizo.
 
É que, fantasiando, me suponho
dentro de um belo e justo paraíso,
longe do que de triste e de medonho
encontro, sobre o mesmo chão que piso.
 
E quero que tu não te desagrades
com esse fato de eu poder, querida,
entender que jamais entenderias
 
por que não troco muitas realidades
que ora vejo ocorrerem nesta vida,
por uma só das minhas fantasias.
 
 
 
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          LOUCOS
 
 
Se estou só, tento escrever,
mas não acho inspiração
para um poema,
largo a pena, amasso o papel
e esqueço o momento.
 
Os únicos momentos
que não consigo esquecer,
por não serem só meus,
são os que pertencem aos mistérios
do nosso amor.
 
Eles nos ocorrem naturalmente
sem que procuremos entender
o porquê das ocorrências,
tendo apenas de senti-los e vivê-los,
sem contar a ninguém.
 
Pois ninguém iria acreditar
que, quando estamos juntos,
o tempo pára,
a fim de que nos seja eterno
cada instante;
 
que, à noite, em nosso quarto,
o tempo sem dormir se prolonga
até que se completem
todos os prazeres
a que nos entregamos;
 
 
 
e que, de dia, quando separados,
as horas passam céleres
por cada um de nós,
empurradas pelo mesmo desejo
de que logo chegue outra noite 
de pouco sono e muito prazer...       
 
Quem seria capaz
de ouvir isso de nós,
sem nos julgar insanos?
 
É... Realmente somos loucos,
loucos de amor,
eu por ti, tu por mim...
 
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         CARNAL
 
 
 
Tenho a sorte de ser este que ama
a ti que, embora virtuosa e pura,
sabes seguir-me com desenvoltura,
se o desejo carnal em mim se inflama.
 
Toda vez, quando a isso o amor nos chama.
noto quanto és feliz enquanto dura
a intensa sensação (quase loucura)
da conjunção dos corpos sobre a cama.
 
Ouvir tuas palavras não preciso,
porque nos teus olhares bem diviso
o brilho do prazer, em mil matizes.
 
E à proporção que chega aos meus ouvidos
cada um dos teus lúbricos gemidos,
vou entendendo tudo o que me dizes.
 
 
 
 
 
LEIO TEUS OLHARES
 
Sei o que me pedes,
mesmo quando te manténs
de boa calada,
porque aprendi a entender
todas as palavras silenciosas
que me dizem teus olhares.
 
__________
 
 
DIVISÃO
 
Para viver bem
aprendi a dividir
meus dias de vida
em duas partes:
numa delas
sempre sorrio,
e na outra
nunca choro.
 
 
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Minha gratidão aos queridos leitores.

 

Kleber Lago

 

© Todos os direitos reservados ao autor.

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