INVEJA INOCENTE
Na manhã daquele domingo, Sílvia soube do grave
estado de saúde de Irene. Muito embora suas relações de amizade estivessem
limitadas a cumprimentos e pequenas trocas de gentilezas, um impulso levou
Sílvia a visitar Irene no hospital, na tarde daquele mesmo domingo.
Encontrou-a deitada na cama, olhos fechados, magra, pálida, recebendo
oxigênio e tomando soro.
Enquanto Sílvia, ao pé da cama, observava as gotas pingando no pequeno
cilindro plástico localizado na parte superior da mangueira ligada à bolsa de
soro, em sua mente iam desfilando lembranças dos velhos tempos de escola.
Ela, a menina baixinha, franzina, tímida, sem maiores atrativos físicos, mas
que sempre tirava as melhores notas da turma. A outra, grande, o corpo de
adolescente já mostrando relativa exuberância nos seios e nas nádegas,
extrovertida, sempre cercada de meninos, e que só se dirigia a ela com ar de
superioridade, sem disfarçar certo olhar de desdém...
Saiu de suas divagações quando a enferma, abrindo os olhos, estendeu-lhe
o braço livre do soro, segurou-lhe a mão e lhe falou com voz quase inaudível:
– Obrigada, querida! Fique sabendo que sempre a admirei... Aquela
maneira de eu me comportar na escola, compreendi mais tarde, era apenas uma
boba manifestação da inveja que eu sentia de você, por ser a melhor aluna da
turma...
Sílvia pressionou carinhosamente a mão de Irene, dando-lhe a entender
que não guardava nenhuma mágoa daquilo. Mas, no íntimo, sabia que também
havia alimentado sentimentos de inveja naquele tempo, sempre que percebia
nela a ausência dos atributos que a outra carregava consigo.
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