segunda-feira, 2 de maio de 2016

DA LAVRA DE 2015 - dezembro




Com esta seleção de poemas compostos em dezembro último, encerro as postagens de minha Lavra de 2015.  

PEDREIRAS É ASSIM

Como nos tempos antigos,
aqui ainda se atesta
que todo encontro de amigos
sempre é motivo de festa.

Festa, na qual se comparte,
dentro de um ritmo só,
cerveja, piada, arte,
tripa frita e mocotó!

A foto é no Poliarte,
e nela - exagero à parte -
reside uma grande prova

de que aqui, nesta cidade,
o CALOR vem da amizade,
seja antiga, seja nova!
__________

ASSIM FUI, SOU E PRETENDO SER

Não projeto mudança neste jeito
com o qual até hoje me contemplo,
longe da pretensão de ser perfeito
ou de que alguém me tome como exemplo.

Não uso muro de lamentações,
a desânimos nunca me abandono
e não faço também reflexões
nas horas reservadas para o sono.

Tal como quando caio me levanto,
se lágrimas me pede alguma dor,
sei muito bem como engolir o pranto.

De azar, má sorte, não lhes temo o cerco,
porque tudo a que dou real valor
sempre recobro em dobro, quando perco.
_____________________________________________________________




SEM CIÚME NEM VETO

Tendo só uma mulher
em minha vida real,
mentirei se não disser
que ela é fenomenal.

Ela, a cada fantasia
de meu pensamento vário,
nomeia o amor que ele cria
para mim, no imaginário.

Já chamou de "A Favorita"
uma que deixei descrita
como amante furacão...

E assim, brincando, não veta
o vaguear de um poeta
pelos céus da inspiração..
__________

COMPENSANDO A FALTA DE INSPIRAÇÃO

Às vezes um soneto vem do nada;
aflora, assim, da inspiração vazia
e vai se inflando, pouco a pouco, a cada
sensação tradutora de poesia.

Dou-lhe rimas e forma ritmada,
não para demonstrar qualquer mestria,
mas para, na leitura declamada,
não provocar ranhuras na eufonia.

Quando escrevo um soneto "sem motivo"
busco deixá-lo bem elaborado,
por me lembrar instantes em que vivo

sem a menor noção do que fazer,
mas basta que te ponhas a meu lado
que eu encho tais instantes de prazer!
__________
 

DEUS SABE

Traímos nossos pares, sem receio
de perigos, por meses envolvidos
em atos amorosos proibidos,
mas de prazer que, se houve igual, não creio!

E foi algo espontâneo que nos veio
de olhares ternos, logo convertidos
em lascivos desejos incontidos
de um dar-se ao outro, sem limite e freio...

O bom senso tolheu nossos pecados,
mas nenhum de nós dois se achou capaz
de mandar tudo para o esquecimento.

E talvez não sejamos perdoados
porque, se em atos não pecamos mais,
Deus sabe o que se faz em pensamento...
_______________________________________________________

 
FELIZ NATAL

Eu queria um Natal
com a harmonia que me transmite
o pequeno presépio
que armo todos os anos em minha casa,
mostrando reis fascinados
ante um Deus-Menino recém-nascido
que entre seus pais terrenos
repousa numa manjedoura,
aquecido pela expiração nasal
de uma vaca e um cordeiro.

Eu queria um Natal
em que os excluídos
não sentissem apenas o cheiro
da ceia com que os abastados
festejam o nascimento de um Cristo
que é de todos.

Eu queria um Natal
em que, além das luzes coloridas
realçando as árvores públicas e privadas,
as pontes e as fachadas dos prédios,
descesse a cada coração
a luz divina do verdadeiro amor
que nos ensinou Aquele,
cujo nascimento vamos festejar.

Eu queria um Natal
em que a troca de presentes
entre os que podem comprá-los
fosse substituída por doces apertos de mãos,
sem qualquer preconceito;
por abraços de bem vestidos e seminus,
numa festa coletiva de todas as raças,
de todos os credos cristãos,
de todos que se acham com o direito
de comemorar o mistério
do Pai que nasceu Filho em carne
para se tornar irmão
de Suas próprias criaturas.

Eu queria um Natal
descomercializado, despaganizado,
um Natal em que os louvores se fizessem em preces,
um Natal em que eu fosse capaz
de multiplicar o peru e o tender da meia-noite
para dividi-los com os moradores de rua
que eu encontrasse pelas calçadas,
a fim de que eles também pudessem ter,
na forma como quase todos concebemos,
o seu FELIZ NATAL.
__________

UM REPLANTAR DE ESPERANÇAS

Mais um ano que se vai,
sem nada ter-lhe alterado
o amor e dedicação
a quem, hoje, mal aceita
e já não lhe retribui
qualquer gesto de carinho...

Mais um ano dessa busca
pelo beijo que já não se completa,
porque as tentativas acabam congeladas
na frieza dos lábios que se cerram,
em evidente sinal
de não haver reciprocidade de desejo...

Mais um ano dessa convivência
com o permitir-se conjugar-se em carne
com quem já não se despe toda para ele,
recusa as preliminares
e simplesmente lhe entrega um corpo inerte,
estirado na cama,
para que ele trate de procurar sozinho
as sensações do orgasmo
que deveria ser mútuo....

Mais um ano de mentir aos outros
que tudo permanece bem na vida a dois,
quando, em verdade, esse tudo
descambou para a unilateralidade...

Em tal situação,
que já lhe dura bom tempo,
as mudanças comportamentais
têm deixado a relação em desalinho,
mas ele não se desfaz da certeza
de que os dois ainda se amam de verdade
e de que o amor verdadeiro,
mesmo sob a intempérie, não fenece...

E, ao fim de cada um
desses anos anormais,
sem choro e sem lamentos,
do jeito que o faz agora,
mentaliza a incineração das anomalias
e com as cinzas aduba
o canteiro onde replanta a esperança
de tudo se acertar no ANO NOVO.
 __________

"MORRER" PARA RENASCER

Não há tempo ruim. Em qualquer ida
ou vinda, sinto sempre igual frisson
e bebo uma cachaça bem curtida,
se não tenho um bom vinho ou um bourbon.

Alma alegre, feliz, descontraída,
não deixo de afirmar em alto som
que, para quem aprende a amar a vida,
não há um ano que não seja bom.

E, quando o ANO VELHO chega ao fim,
só vendo o bem que ele causou a mim,
ao despedir-me dele, me comovo.

Mas também minha "morte" simbolizo:
passo uns instantes "morto", pois preciso
sentir-me renascer no ANO NOVO.
__________

Agradeço a atenção dos leitores, com um carinhoso abraço!

                                                                            Kleber Lago
© Kleber Cantanhede Lago


Um comentário:

  1. Seus poemas são lindos!Estar aqui será sempre um prazer!
    Profª Rita

    ResponderExcluir