quinta-feira, 1 de agosto de 2013

MAIS UMA PÁGINA SÓ DE SONETOS

[Imagem Google - alacerda77.blogspot.com]


Fico muito feliz sempre que termino de escrever um soneto. Ler sonetos deve ser também uma satisfação para os leitores, pois, se insiro um soneto numa postagem no Facebook, essa postagem se torna, entre as que faço, a mais curtida e a que recebe mais comentários. Da mesma forma, se posto sonetos numa página deste blog, ela se torna a mais visitada.


NA PAZ DESSES POENTES

Eu me fascino quando, em tarde amena,
vejo o sol quase todo recolhido
e escuto a voz da paz, suave, serena,
surdinando harmonia ao meu ouvido.

A minha mente, de estesia plena,
leva-me em voo ao céu, onde esquecido
de tudo que é desilusão terrena,
vagueio leve, solto e embevecido!...

Na beleza de um dia que se finda
em cena apoteótica tão linda,
com doces sensações em mim presentes,

poderia morrer, sem querer mais
do que levar comigo a mesma paz
que sinto, enquanto vivo esses poentes!

       
SEMPRE JOVEM

Enquanto vivo, não penso na morte,
e vejo a idade só como um detalhe,
em que não acho nada que me corte
o prazer de viver, ou me atrapalhe.

Navego, driblo os ventos da má sorte,
sempre evitando que meu barco encalhe
nos escolhos que encontro, ou mesmo aporte
em terra onde eu talvez não me agasalhe.

Acumulei bastante experiência,
mas, quanto mais aprendo, mais desejo
deixar que meus princípios se renovem.

Pois, apesar da plena consciência
de que às vezes no corpo já fraquejo,
mantenho em mim o espírito de jovem!



  VERSOS PARA ROSA

Dói-me tanto encontrar-te assim, chorosa,
Cabisbaixa, encolhida pelos cantos!
Nem reconheço em ti aquela Rosa
Que eu só via a sorrir, cheia de encantos!

Põe-te a varrer a mancha nebulosa
De teus olhos! E não importa em quantos
Momentos, nessa sina insidiosa,
Tu tenhas amargado desencantos...

Levanta, vem viver! Só é preciso
Que de cada decepção sofrida
Saibas tirar uma lição de vida.

Começa, pois, deixando que um sorriso
Venha luzir-te o rosto e dissipar
As sombras de tristeza desse olhar!

      
  MEU AMOR POR VOCÊ

Espírito e matéria para o amor:
Sapiência divina, na receita
De que Deus se serviu para compor
O poema dualista mais perfeito!

Alma sonhando!... Corpo com calor!...
É como a amo, pois que de outro jeito
Não seria capaz nem de supor
Que eu pudesse sentir-me satisfeito.

Não sei se minha ótica é correta,
Bem como se não é meu perceber
Simples deslumbramento de poeta.

Só sei que é grande o meu amor. E creia
Que, se comparo, sou capaz de ver
Todo o universo como um grão de areia!




EMBRIAGUEZ DE ENCANTO

Seguindo a esmo pela manhã clara,
Parei ao ver, a dez passos de mim,
Um tipo deslumbrante de jardim
Que a própria natureza ali plantara.

Flores bordando um manto de verdores!...
À luz do sol, instantes alternados
De pousos leves e balés alados
De lindas borboletas multicores!...

Se foi um sonho, o sonho aconteceu
Para satisfazer minha estesia,
Com a combinação de luz e cor

De um quadro mais que lírico, em que eu,
Ébrio de encanto, já nem distinguia
O que era borboleta e o que era flor!...

       
SOBRE A PALAVRA MÃE

Umas são longas no tamanho apenas,
porém curtas em significado;
outras têm, apesar de bem pequenas,
em si muito sentido concentrado.

Das línguas, cito aqui entre dezenas:
mater, mère, madre, mãe... Quanto cuidado
na escolha das maneiras mais amenas
de chamar nosso ente mais sagrado!

No português, qualquer poeta há de
perceber uma coisa curiosa
que já se fez particularidade:

não existe outra rima para mãe
que não seja essa forma afetuosa,
e dela derivada, que é mamãe.



              SONETEAR

Poesia é livre, sim. Soneto, não!
Sonetear exige cumprimento
De certas regras de composição,
A que o poeta deve estar atento.

Bons sonetistas não dispensarão
O metro e ritmo em nenhum momento,
Pois isso dá encanto à expressão
E destaca o poético talento.

Vejo em compor soneto um ritual,
A se cumprir com musicalidade
Desde o ato de início ao seu final.

E se no ritual falhas cometo
Em nome de pretensa liberdade,
Perde meu feito o status de soneto.


Mais uma vez obrigado pela atenção que dispensam aos meus escritos.

Kleber Lago


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